No Dia do Índio, lideranças pedem respeito e representatividade

Uma história marcada por violência e destruição. Esta tem sido a luta dos indígenas que, ao longo da formação do Brasil, tiveram que conviver com a imposição de uma nova cultura e dizimação de boa parte de seu povo. Ao longo dos anos, vieram algumas conquistas, entretanto, eles ainda lamentam a falta de respeito ao seu modo de vida e a falta de representatividade.

No Dia do Índio, comemorado hoje, 19 de abril, serve para lembrar e reforçar a identidade do povo indígena e para que as lideranças possam se manifestar e falar a respeito de problemáticas e representatividade que ainda necessitam nos dias de hoje.

Para o líder indígena Sabá Manchinery os últimos anos têm algumas conquistas acumuladas, no entanto ainda lhes falta representatividade e espaço para que sejam realmente livres em seu modo vida. “O fato de estarmos aqui hoje, a gente está lutando, está sabendo o que queremos já é um fato para nós importante. Além do mais enquanto povo indígena, nós conseguimos construir muitas coisas”, lembra.

As ameaças físicas, jurídicas, culturais e espirituais são pressões as quais eles precisam enfrentar constantemente. “É uma pressão muito grande que a gente sofre.

Tudo isso é realidade e é preocupante. A gente vive isso: Para você ser alguém, tem que deixar de ser índio, seguir uma determinada seita ou religião para ser aceito na sociedade”.

Manchinery continua: “a Constituição de 1988, embora não seja cumprida, mas já é um avanço importante, a convenção 169 da OIT ratificada pelo Brasil foi um luta dos povos indígenas, os espaços criados em entidades, assim como recursos destinados também é resultado de luta.”

O problema, segundo Sabá é que não conseguiram transformar esses resultados em benefícios para os indígenas. “Ficaram todos por aí pela lava jato da vida.”

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Ainda falta liberdade

O líder critica o direito de ser diferente. Segundo ele, na prática não pode exercer a sua liberdade. “A mesma coisa é quando precisamos de representatividade e somos obrigados a pertencer a um partido político. Eu preciso e posso estar lá, mas tenho que fazer parte de um grupo desses”, lamenta.

Além disso, líder denuncia que, hoje, nas redes sociais, existe muito pronunciamento racista, anti-indígena, de racismo, onde discriminação tem aumentado. “Temos trabalhado para que seja evitado isso. Nós somos seres humanos, somos pessoas que estamos não detonando ninguém aqui e a além de cuidarmos das pessoas, do meio ambiente, do estado e com isso enriquecemos com a nossa cultura, com a nossa forma de ser diferente.”

Os povos indígenas vêm ao longo dos anos, lutando para mostrar o seu devido valor à sociedade. Para isso, eles mesmos defendem o quanto é importante ter e manter suas convicções e afirmar isso para a sociedade.

“É necessário que mostremos que somos parte da natureza, parte do estado, parte de um país e integrante de qualquer que seja o governo para poder conduzir aquilo que é nosso”, avalia o líder em entrevista concedida para falar das carências atuais dos povos indígenas.

Sabá diz ainda que é importante manter os diretos que lutaram para conquistar, tanto nos espaços institucionais, através da legislação, da economia. E lembra também a colaboração de outros líderes que trabalharam para tentar manter essa diversidade.

Um efeito histórico devastador

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Sob a ótica de quem estava chegando ao Brasil o objetivo era integração, evangelização e criminalização. Essas táticas funcionaram ao longo dos anos, o que acabou trazendo um efeito devastador. Há 517 anos eram milhares de povos indígenas que sobreviviam com sua cultura, língua e religião.

Atualmente, segundo Manchinery, a situação é outra. Por isso a luta é tão grande para manter as tradições. “Somos apenas pouco mais de 305 povos indígenas, pouco mais de 174 idiomas”, contabiliza.

Para o líder, o diálogo e a diplomacia são instrumentos fundamentais para o estabelecimento de compromissos entre a humanidade, mas, esses princípios nunca foram implantados durante esses 517 anos de invasão do Território Brasileiro. “O que recebemos tem sido imposição disfarçada de consultas ou participação e nada mais.”

Como meio alternativo, ele diz que pode ser feita a reorganização através do que já existente, e também de um parlamento indígena ou por eleições diretas.

“Essa realidade nos faz continuar em nossa missão sem violência, pela dignidade, por justiça e ninguém morrerá sufocado se puder respirar. Para quem luta pela paz não precisa de armas letais, já que nossas armas são nossos corações, sabedoria, nossa determinação e a munição que nos impulsionam são as famílias, nosso povo, filhos, netos e gerações!”

CENTRAL

A luta por representatividade

Manchinery acredita que o povo indígena precisa sair do isolamento e lutar por representatividade. “Não queremos ter que tirar nossos filhos para buscar qualquer tipo de estudo, mas reforçar para que continuem lá, em nossas aldeias, e agregar o conhecimento de modo que não deixem de ser Manchinery, Jaminawa, Kaxinawá, Apurinã ou qualquer outro povo.”

A representatividade, segundo explica, pode vir de várias formas. Uma delas seria através das organizações e dos caciques. Mas, além disso, seriam importantes alternativas como a criação de um departamento indígena, segundo sugere.

“Existe também a possibilidade de que a gente possa estar concorrendo eleições para os cargos de deputado federal, estadual e termos a nossa representatividade. Nos últimos anos, temos apenas apoiado às pessoas e quando elas chegam lá [no poder] dão as costas pra gente”, lamenta.

O líder afirma que não pode deixar que a data passe e permaneça em silêncio. Além de terem a certeza do que os povos indígenas já viveram nos últimos tempos, como ameaças aos direitos constitucionais que já conquistamos, as ameaças constantes, a falta de direitos territoriais entre outros levam as lideranças a buscarem as melhorias necessárias para o seu povo.

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Sobre a data

O dia 19 de abril foi escolhido como data para se comemorar a cultura indígena em homenagem ao Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, que ocorreu em 19 de abril de 1940. Mas no Brasil, só foi oficializada em 1943, através do decreto-lei nº 5.540.

A nível internacional, a Organização das Nações Unidas (ONU) também criou o Dia Internacional dos Povos Indígenas – 9 de agosto- para conscientizar os governos e população mundial sobre a importância de preservar e reconhecer os direitos dos indígenas.