Argentina mantém fronteira fechada para o Brasil por causa do coronavírus

O governo argentino decidiu estender o fechamento das fronteiras aéreas e terrestres com o Brasil até, pelo menos, dia 12 de março.

A nova ministra da saúde, Carla Vizzotti, que assumiu no lugar de Ginés González García depois da revelação de que haviam sido vacinadas mais de 70 pessoas próximas ao governo, justifica a medida por conta das novas variantes do coronavírus.

O decreto anterior dispunha que elas fossem reabertas a partir desta segunda-feira (1º), mas as autoridades sanitárias consideraram necessário manter o bloqueio e a diminuição de 50% dos voos entre os dois países.

A Argentina também está fechada para estrangeiros de outros países limítrofes e do Reino Unido. Só podem entrar no país argentinos ou residentes. A decisão foi publicada no Diário Oficial local.

A Argentina está numa fase muito inicial da vacinação, e apenas desde a semana passada começou a imunizar cidadãos com mais de 80 anos.

Com relação a outros países, também estão reduzidas as frequências dos voos vindos dos EUA, do México e da Europa em 30%. Também nesses casos, para entrar no país é preciso ser argentino ou residente.

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foto: Martín Zabala

Novo tratado de extradição Brasil – Argentina agiliza trâmites

O tratado de extradição assinado hoje (16) pelos governos do Brasil e da Argentina fez alterações que desburocratizam o pedido e aumentam o prazo para a extradição.

No acordo, a documentação pode ser enviada sem passar por burocracias cartoriais e podem ser remetidas por e-mail ou outro meio eletrônico, de forma a adiantar as providências do país requerido. O tratado anterior é de 1968 e previa entrega de documentação original ou cópia autenticada do mandado de prisão ou da sentença condenatória.

Segundo o Artigo 6º do acordo, “todos os documentos referentes a este tratado estarão isentos de qualquer tipo de legalização e poderão ser adiantados por qualquer meio eletrônico que deixe um registro por escrito”. Além disso, as autoridades designadas pelos países poderão adiantar documentações relativas ao processo de extradição.

O ministro da Justiça, Sergio Moro, destacou a adaptação do tratado a meios de comunicação mais céleres. “As formas de comunicação hoje são outras, e a percepção é que há uma necessidade de sempre agilizar esses mecanismos de cooperação”, disse o ministro, após a apresentação das delegações no Palácio do Planalto, onde o presidente da Argentina, Mauricio Macri, foi recebido pelo presidente Jair Bolsonaro.

Prazo maior

O novo acordo aumentou em pelo menos 15 dias, o prazo para a realização da extradição. O texto de 1968 determinava que o país requerente tinha 30 dias para buscar as pessoas extraditadas. Agora, a transferência deverá ocorrer em 45 dias, prorrogáveis por mais 15 dias.

O tratado anterior não tinha dispositivo que prevenisse a prática de tortura ou tratamentos desumanos contra a pessoa reclamada. Pelo novo documento, o governo que recebe o pedido de extradição poderá se negar a atendê-lo caso tenha “fundados motivos para crer” que a pessoa reclamada foi ou poderá ser submetida a “tortura ou outro tratamento cruel, desumano ou degradante” no país que deseja reavê-la.

Tratado de extradição entre Brasil e Argentina será aprimorado

Informação é do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, disse hoje (16) que o tratado de extradição entre Brasil e Argentina será aprimorado. Nesta manhã, Moro reuniu-se com os ministros argentinos de Justiça e Direitos Humanos, Germán Garavano, e da Segurança, Patrícia Bullrich. Eles acompanham o presidente da Argentina, Mauricio Macri, em sua visita oficial ao Brasil.

Moro falou rapidamente com a imprensa após a apresentação das delegações no Palácio do Planalto, onde Macri foi recebido pelo presidente Jair Bolsonaro. Para o ministro brasileiro, os tratados de extradição são antigos, e a revisão vai permitir uma comunicação mais rápida entre os dois países.

“As formas de comunicação hoje são outras, e a percepção é de que há uma necessidade de sempre agilizar esses mecanismos de cooperação”, afirmou.

O tratado de extradição entre o Brasil e a Argentina foi assinado em 1961 e o decreto de aprovação, promulgado em 1968 no Brasil.

Macri é recebido no Palácio do Planalto por Bolsonaro

É a primeira visita oficial de um chefe de Estado depois da posse

O presidente argentino, Mauricio Macri, chegou por volta das 10h30, ao Palácio do Planalto onde se encontra com presidente Jair Bolsonaro. É a primeira visita oficial de um chefe de Estado desde a posse de Bolsonaro, no dia 1º de janeiro.

A cerimônia oficial de chegada de Macri contou com a revista às tropas e a subida da rampa do Palácio do Planalto, onde foi recepcionado por Bolsonaro. Depois dos cumprimentos para as fotos no Salão Nobre, houve a apresentação das delegações.

Bolsonaro e Macri têm um encontro privado na sala de audiências no terceiro andar. Em seguida, haverá reunião ampliada com os ministros e outras autoridades dos dois países. O último compromisso no Planalto é uma declaração à imprensa.

Em seguida, os presidentes seguem para o Palácio Itamaraty, onde será oferecido um almoço a Macri por Bolsonaro.

Mais cedo, Bolsonaro disse no Twitter que a reunião com o presidente argentino é uma “grande oportunidade” de estreitar as relações com o país vizinho.

“Hoje, às 10h30, receberei o presidente da Argentina, Mauricio Macri. É a primeira visita oficial de um chefe de Estado ao Brasil desde a minha posse. Uma grande oportunidade de reforçar os laços de amizade com essa nação-irmã!”, disse Bolsonaro na rede social.

Negociações para acordos bilaterais, além de medidas de flexibilização do Mercosul (bloco que reúne Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, uma vez que a Venezuela está suspensa momentaneamente) e a crise na Venezuela estarão na pauta da conversa entre os presidentes.

Os acordos deverão ser negociados nas áreas de comércio, combate ao crime organizado e corrupção, indústria de defesa, desenvolvimento espacial, energia nuclear e dinamização do comércio bilateral.

Presidente da Argentina vem a Brasília para se reunir com Bolsonaro

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, e uma comitiva de cinco ministros devem chegar hoje (15) ao Brasil. Macri se reúne pela primeira vez com o presidente Jair Bolsonaro, desde que ele tomou posse em 1º de janeiro. O encontro está agendado para amanhã (16).

A reunião deve incluir uma pauta que se estende de temas bilaterais e Mercosul (bloco que reúne Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, uma vez que Venezuela está temporariamente suspensa) às preocupações regionais com a Venezuela e Nicarágua.

A delegação oficial da Argentina reúne cinco ministros Nicolás Dujovne (Fazenda), Patricia Bullrich (Segurança), Dante Sica (Produção), Oscar Aguad (Defesa) e Jorge Faurie (Relações Exteriores).

De acordo com a Casa Rosada, a Presidência da República da Argentina, Macri e comitiva saem de Puerto Madryn (Chubut) hoje à tarde em direção a Brasília, sem escala na capital Buenos Aires.

Após o resultado das eleições, Macri foi um dos primeiros líderes estrangeiros a parabenizar Bolsonaro pela vitória nas urnas. Na ocasião, o presidente brasileiro agradeceu e retribuiu mencionando a parceria entre Argentina e Brasil.

*Com informações da Télam, agência pública de notícias da Argentina

Crise argentina deixa Brasil sob alerta, diz dirigente da ABDI

À espera de uma antecipação de parte do empréstimo no valor de US$ 50 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI), a Argentina vive o pior momento da gestão do presidente Maurício Macri, deixando aceso o sinal de alerta no Brasil, já que o país vizinho é o terceiro maior parceiro comercial atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), de janeiro a agosto, os argentinos consumiram 7,28% das exportações brasileiras, uma alta de 1,11%, comum saldo favorável ao Brasil de US$ 4,28 bilhões. A avaliação é do economista Jackson De Toni, gerente de Planejamento e Inteligência da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).

Apesar de toda essa situação, “não há motivo para pânico”, diz ainda De Toni, Ele observou que, mesmo diante de um cenário de austeridade que, certamente, levará a uma queda do consumo interno, o país vizinho tende a fechar 2018 com crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) entre 1% e 2%. E se o aporte de recursos do FMI for concretizado como o esperado, De Toni acredita que isso dará maior credibilidade sobre a capacidade de pagamentos por parte da Argentina ainda que isso custe caro à população e ainda careça de estratégias para retomar o crescimento.

O economista pontuou que embora tenha “tomado medidas para recuperar investimentos, conter o deficit público e retomar, em certo sentido, o desenvolvimento da economia argentina,” Macri não foi bem sucedido e foi forçado a adotar o atual plano de contenção para sanear as finanças em decorrência tanto de questões internas quanto da política monetária dos Estados Unidos. Com juros mais atrativos, fica latente a migração dos investidores para aquele mercado.

Quanto ao impacto sobre o Brasil que exporta para a Argentina, principalmente, automóveis, – o correspondente à quase metade da pauta de exportações e com uma participação de 75% sobre as vendas das montadoras para todo mundo-, De Toni prevê que ele será mais concentrado neste segmento, embora reconheça a importância dessas trocas comerciais que incluem ainda as importações na área agrícola

Para o economista, o Brasil tem fatores de proteção como, por exemplo, reservas cambiais de quase US$ 400 bilhões. A Argentina tem US$ 50 bilhões. Citou ainda a forte desvalorização do peso argentino em meio a um ataque especulativo resultando em uma inflação de 40% ao ano ante uma variação entre 4 a 5%, no Brasil, e a consequente elevação dos juros de 45% para 60% ao ano, muito acima da taxa brasileira oscilando em torno de 6,5%.

Outra diferença entre as duas economias, apontadas por De Toni, é que a Argentina depende De recursos do FMI, enquanto o Brasil tem uma previsão de investimentos diretos este ano de U$ 65 bilhões, um volume imenso para países latino-americanos.

Indústria automobilística

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) Antonio Megale, manifestou “preocupação”, com o quadro da Argentina, mas, mesmo assim, tem expectativas de uma saída positiva para o país vizinho. “Se o governo argentino for bem-sucedido nessas negociações com o FMI, vai conseguir conter essa maior volatilidade. A gente imagina que o mercado argentino possa se estabilizar nos próximos meses. O país precisa de lastro para conter os ataques especulativos do câmbio”, avaliou.

Por enquanto, conforme informou, a desaceleração desse mercado, para onde seguem 75% das exportações do setor, seguido do México (7%), está sendo compensada pelo bom desempenho do consumo doméstico e também pela exploração de novos nichos entre os quais estão os negócios com os russos. Porem, o grande desafio do setor para diversificar a sua clientela, são os investimentos tecnológicos em pesquisa e desenvolvimento.

No começo deste ano, segundo ele, havia uma previsão de enviar para o país vizinho entre 900 a um milhão de veículos, mas este número deve cair para algo entre 700 mil e 800 mil. Pelo acordo comercial em vigor até 2020, nessa parceria, a troca de mercadorias é livre de impostos. A cada 1 US$ exportado, é possível importar o mesmo valor sem impostos.

O presidente da Câmara de Comércio Brasil- Argentina, Federico Antonio Servideo, informou que desde abril, quando começou a ficar mais forte a crise cambial, vem ocorrendo uma desaceleração da atividade econômica, que levou a um recuo das encomendas do Brasil. Na previsão dele, deve ocorrer uma queda média em torno de 20% nas encomendas argentinas nesses últimos quatro meses de 2018.

De acordo como executivo, o ambiente é bem diferente do registrado no começo do ano. Só no setor da indústria automobilística, os argentinos tinham comprado 36% mais no primeiro trimestre comparado a igual período do ano anterior. Agora, no entanto, “a capacidade de consumo das famílias argentinas vai ser, significativamente, afetada pela crise cambial e pelas medidas de contenção de despesas e da taxação sobre as exportações”.

Em defesa de Macri, ele destaca que além da herança de problemas macroeconômicos do governo anterior, o atual presidente enfrentou quebra de safras e só não pode adotar as atuais medidas antes para evitar um sofrimento maior à população. “Quando ele assumiu, havia 30% da população vivendo abaixo da linha de pobreza”.

Os respingos dessa desaceleração econômica já podem ser notados quando se compara o desempenho das exportações brasileiras para a Argentina no acumulado de janeiro a agosto, aponta o economista Clemens Nunes, professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo. Nesse período, segundo ele, houve queda de 1,11%, enquanto durante todo o ano de 2017, houve um crescimento de 30% sobre 2016. “ A Argentina é um grande destino da produção da nossa indústria e um dos impactos importantes vai ser, principalmente, o setor industrial exportador”, disse.

Ele alerta também sobre a possibilidade de um contágio aos países emergentes porque essa crise pode provocar uma elevação do prêmio de risco aos investidores e, no caso do Brasil, poderia levar a uma maior desvalorização da moeda frente ao dólar. Quanto ao dinheiro obtido com o FMI, o economista considera esse aporte de recursos “dá condições para que o governo ganhe algum tempo e implemente um programa econômico capaz de debelar essa crise”. Porém ele vê risco de, no futuro, o país vir a ter uma situação pior tendo de, mais uma vez, sentar à mesa de negociações para novo empréstimo.

André Alírio, economista e operador de Renda Fixa da Nova Futura Investimentos, avalia também que o país não está imune à crise Argentina, mas, igualmente, lembra que a fragilidade em relação ao parceiro comercial é bem menor pelas vantagens macroeconômicas como, por exemplo, no fato de ter folga nas reservas cambiais ao redor U$S 380 bilhões. “Isso diminui o contágio que poderia advir da pressão existente sobre os países emergentes”, afirmou.

O economista Antonio Correa de Lacerda, entende que as medidas do governo argentino “vão implicar em uma recessão se traduzindo em vários problemas com queda de arrecadação, aumento do desemprego e tudo isso terá um impacto direto no Brasil que tem a Argentina como um dos principais parceiros comerciais”.

Segundo ele, de uma forma indireta, há um risco do efeito comparação por parte dos investidores que poderão associar a proximidade entre as duas nações. “O fato de estarmos na mesma região, isso pode levar os próprios mercados a especularem quanto a problemas existentes entre a Argentina e o Brasil”. Contudo, ele reconhece que as vantagens financeiras do Brasil podem amenizar esse risco de contágio.

Margaret Atwood entra na campanha pelo aborto na Argentina

A Argentina vem debatendo a legalização do aborto até a 14a semana de gestação. O projeto de lei já foi aprovado na Câmara de Deputados e, nesta terça (10), começará a ser discutido no Senado, com expectativa de ser votado até o dia 8 de agosto. O presidente Mauricio Macri, que é contra a medida, mas que afirmou que não a vetará se for aprovada pelo legislativo, impulsou o debate como parte de uma estratégia política para resgatar sua aprovação popular, que caiu de 58% a 35% nos últimos meses por conta da degradação da economia. Macri também responde a uma intensa pressão de grupos feministas que, desde os últimos anos, vêm se organizando para pedir que a lei avance.

Em meio a tudo isso, as defensoras da causa ganharam uma nova e inusitada adepta, a escritora canadense Margaret Atwood, 78, autora de “The Handmaid´s Tale”, um romance escrito nos anos 1980 e que descreve como um Estado teocrático toma conta do que antes eram os Estados Unidos e estabelece aí um mundo de regras e valores estritos. Tudo gira em torno de aproveitar ao máximo a fertilidade de algumas mulheres, uma vez que, neste mundo imaginário, o índice de natalidade vinha caindo a níveis dramáticos e os ideólogos da chamada República de Gilead resolvem submeter as mulheres ainda férteis a uma atividade única: reproduzir. Transformadas em mucamas, são levadas a passar temporadas nas casas dos comandantes _homens nobres do regime_, onde são estupradas regularmente até ficarem grávidas. Nascidos os bebês, estes ficam com a família do comandante e elas são designadas a outras casas. O livro fez com que Atwood ganhasse prêmios e inspirou uma série de TV, que se encontra agora na segunda temporada.

No final do ano passado, Atwood esteve em Buenos Aires. Numa conversa na Biblioteca Nacional com seu diretor, o também escritor Alberto Manguel, revelou que uma das inspirações para criar esse pesadelo que é a chamada República de Gilead foi, justamente, o que havia ocorrido na Argentina nos anos 1970. Durante a ditadura militar (1976-1983), centenas de mulheres grávidas que atuavam na resistência ao regime foram encarceradas, seus companheiros foram mortos imediatamente, e elas, mantidas vivas até dar à luz. Os bebês eram, então, entregues a famílias de militares com dificuldades de ter filhos, enquanto as mães eram executadas nos centros clandestinos de detenção.

Atwood, que é reconhecidamente uma feminista, também reuniu-se com grupos de mulheres que defendem penas mais duras para a violência contra a mulher _na Argentina hoje, uma mulher é morta a cada 29 horas_ e se pronunciou a favor do aborto. Hoje, o recurso é permitido no país apenas em casos de estupro, risco de vida da mulher e má-formação do feto.

Suas palavras não demoraram a ecoar no Congresso. No momento de emitir seu voto, favorável ao aborto, a deputada Victoria Donda mencionou a República de Gilead a partir de um ponto de vista particular. Donda nasceu na ESMA (Escola Mecânica da Marinha), um dos centros clandestino de prisão e tortura. Sua mãe foi morta aí após seu nascimento e ela viveu anos pensando ser filha do militar que havia se apropriado dela (sua intervenção está no vídeo abaixo). Associou sua experiência à ficção para mostrar que a realidade humana muitas vezes esteve próxima aos horrores que o livro descreve. Neste caso, um extremo no qual um Estado submete as mulheres a serem meras procriadoras e os embriões, algo que se pode distribuir à gosto, como, afirma Donda, fizeram com ela mesma.

O segundo episódio desta novela entre Atwood e a lei do aborto foi quando a escritora emitiu um tuíte pedindo que a presidente do Senado (também vice-presidente do país), Gabriela Michetti, uma mulher católica e anti-aborto, não colocasse mais tantos obstáculos à lei. Michetti, que irá liderar a votação final, tem dado declarações polêmicas e oferecido alternativas como entregar as crianças à adoção (ignorando que assim obriga-se a mulher a passar pela gravidez de qualquer forma). Em uma entrevista recente, disse: “A mulher pode dar em adoção, ou ver o que acontece durante a gravidez, trabalhar com um psicólogo, não sei. Há pessoas que vivem coisas muito mais dramáticas e não podem soluciona-las e mesmo assim têm de viver com isso.” Usou como base de seu argumento que “os pobres têm muitos filhos, sete, oito, e não parece ser um problema.”

Os grupos de defesa dos direitos da mulher ficaram em choque com as declarações de Michetti, e mais uma vez, Atwood veio em seu auxílio, por meio de mensagens nas redes sociais dirigidas a ela. Pediu que Michetti não “virasse o rosto para as milhares de mulheres que morrem por ano por causa de abortos ilegais” e que “desse às mulheres argentinas o direito de decidir”, acrescentando: “as argentinas estão lutando por seus direitos e suas vidas.”

Michetti não respondeu, apenas afirmou que não conhecia a autora e nem a obra e que as que militam pelo aborto querem uma sociedade “mais individualista, que só pensa em seu prazer e em seu próprio umbigo”.


Colunista

Argentina: greve geral atinge vários setores e envolve sociedade civil

A Confederação Geral do Trabalho (CGT) anunciou que vai parar a Argentina nesta segunda-feira (25), em reação à política econômica adotada pelo governo. É a terceira greve geral em dois anos e meio da gestão do presidente Mauricio Macri.

A paralisação atinge o transporte publico, os postos de gasolina e os bancos. Movimentos sociais de esquerda cortarão as principais vias de acesso à capital, Buenos Aires. Amanhã (26), os argentinos enfrentam outro desafio: derrotar a seleção da Nigéria, no jogo na Rússia. Sem essa vitória, o país ficará fora da Copa do Mundo de Futebol.

Às vésperas das paritárias, as negociações entre sindicatos e empresários, as centrais sindicais tomam a paralisação como demonstração de força. Paralelamente, a paralisação ocorre cinco dias após o primeiro desembolso dos US$ 50 bilhões que o Fundo Monetário Internacional (FMI) colocou à disposição do governo argentino.

A medida vale pelos próximos 36 meses e tem o objetivo de ajudar o país a superar a crise cambial e colocar as contas em ordem. Em troca do empréstimo, o governo se comprometeu a reduzir os gastos públicos e a inflação, que este ano deve chegar a quase 30%.

Centrais sindicais prometem uma paralisação de 24 horas, que ganhou o nome de reação ao “brutal ajuste econômico” imposto pelo FMI. Para alguns setores da economia, o momento atual é comparado à crise de 2001, apontada como a pior da história recente da Argentina.

Reivindicações

Os diferentes sindicatos têm pauta comum: reajuste de salários para combater a elevação do custo de vida, que em 2017 chegou a 25%. Também reivindicam garantias para evitar demissões.

Por sua vez, o governo anunciou que vai reduzir o tamanho do Estado e o programa de obras públicas – que esperava usar para reativar a economia e gerar empregos. O ministro da Fazenda, Nicolas Dujovne, disse que o crescimento econômico será menor e a inflação será maior do que o esperado. Segundo ele, o acordo com o FMI impediu o agravamento da crise.

Desde dezembro, o peso argentino perdeu metade de seu valor. Segundo o presidente do Banco Central argentino, Luis Caputo, a desvalorização terá um custo no curto prazo. “Foi o melhor que pode ter acontecido”, resumiu Caputo, informando que a medida obrigou a Argentina a buscar o apoio do FMI e estabilizar a economia.

Pressão

O ministro do Trabalho, Jorge Triaca, afirmou que a greve geral “não serve para coisa alguma, porque não vai resolver os problemas dos argentinos”. Segundo ele, o objetivo da gestão Macri é manter o diálogo com as centrais sindicais. O sindicato dos caminhoneiros ameaçou parar o país e voltou atrás, após conseguir aumento de 25%. Mas outras categorias não obtiveram o mesmo.

A Igreja Católica também divulgou um documento, apelando ao governo para não adotar políticas de ajuste que aumentem a desigualdade. Em nome do papa Francisco, que é argentino, religiosos apelaram para que o interesse social se sobreponha ao econômico.

O governo e o próprio FMI têm ressaltado que o atual programa vai garantir a manutenção dos programas sociais, para proteger os “mais vulneráveis”

Sampaoli sai em defesa de Caballero e Messi após goleada da Argentina

O comandante chamou a responsabilidade depois da derrota para a Croácia

O técnico Jorge Sampaoli saiu em defesa do goleiro Willy Caballero e do atacante Lionel Messi após a derrota por 3 a 0 para a Croácia, nesta quinta-feira, em Nizhny Novgorod. O treinador evitou culpar os jogadores pelo resultado que pode ajudar a eliminar a seleção da Argentina ainda na primeira fase da Copa do Mundo e assumiu a responsabilidade pelo duro revés.

“Eu sou o responsável pelas decisões. Hoje a chave da derrota tem relação com as minhas responsabilidades quanto ao plano de jogo por conta de situações que, se fossem diferentes, poderíamos ter obtido um resultado melhor”, declarou o treinador, antes de isentar Caballero pela derrota.

O goleiro titular protagonizou falha grosseira no lance que gerou o primeiro gol croata. Ao tentar encobrir o meia Rebic, Caballero chutou fraco e viu o rival acertar belo chute de primeira, direto para as redes.

“Não acho humano colocar a responsabilidade em Caballero.”

Não criticou Messi

Sampaoli também assumiu a responsabilidade por mais um fraco desempenho de Messi.

“Buscar sistematicamente situações com os jogadores em campo é também a minha responsabilidade. Nesta realidade, não conseguimos encontrar um jeito melhorar de jogar aproveitando [as qualidades do] Messi”, afirmou.

“Do jeito que a seleção argentina está jogando, está ofuscando o brilho de Messi. Leo está limitado em campo porque o time não se encaixou como deveria, com ele. Como treinador, tenho que admitir esta situação e tentar lidar com eles”, disse o treinador.

Goleada doeu

Ele pediu desculpas à torcida e admitiu a “dor” pelo novo tropeço, que pode acabar com o futuro da equipe na Rússia.

“Não sei se estou sentindo vergonha, acho que é dor. É doloroso. Nossa estratégia para o jogo não deu certo e tenho que achar outra agora. Temos que lutar”, declarou o treinador. “Quero pedir desculpas a todos que vieram no ver aqui.”

O resultado desta quinta garantiu a Croácia nas oitavas de final. Já a Argentina precisa de uma combinação de resultados no Grupo D para ter chances de avançar na competição.

Croatas complicam vida dos Hermanos no Grupo D

A Argentina voltou a exibir os mesmos erros da estreia e dependerá de uma vitória e dos adversários na última rodada

Lionel Messi voltou a passar em branco e a seleção da Argentina sofreu uma dura derrota para a Croácia nesta quinta-feira, pelo Grupo D da Copa do Mundo. Rakitic, Modric e companhia aprontaram em Nizhny Novgorod e aplicaram 3 a 0 no time sul-americano com um placar que pode ajudar a encerrar de forma precoce a trajetória argentina pela Rússia.

Num dos resultados mais inesperados deste Mundial, a Argentina voltou a exibir os mesmos erros da estreia, quando empatou com a Islândia por 1 a 1. Com Messi novamente inoperante no ataque, o time comandado pelo técnico Jorge Sampaoli foi alvo fácil dos croatas. Modric, Rakitic e Rebic balançaram as redes.

E contaram com uma ajuda decisiva do goleiro Caballero, no primeiro gol, que abriu a porta para a grande vitória dos croatas, líderes da chave, com seis pontos e aproveitamento de 100% até agora. A Islândia aparece em segundo lugar e a Argentina, em terceiro, ambos com um ponto.

A Nigéria, que enfrentará a Islândia nesta sexta, ainda não pontuou. Deste jogo e da próxima rodada vai depender o futuro da Argentina na Copa. Os atuais vice-campeões mundiais agora vão depender de uma combinação de resultado para avançarem às oitavas de final. Também vão precisar fazer sua parte e vencer a Nigéria na rodada final, no dia 26, próxima terça.

Para o duelo desta quinta, Sampaoli promoveu três alterações na equipe titular e até mudou o esquema tático. As mudanças visavam favorecer a participação de Messi no setor ofensivo. Mas, novamente, o atacante do Barcelona deixou a desejar em solo russo.

O jogo

Com três mudanças em relação à estreia, a Argentina demorou para se encontrar em campo nesta quinta, graças principalmente à falta de entrosamento do seu trio defensivo. Tanto que Caballero foi exigido logo aos 4 minutos de jogo, em chute cruzado de Perisic, pela esquerda. Uma outra chance croata, pela direita, também causou preocupação na torcida sul-americana.

A resposta do time de Sampaoli veio aos 12. Meza acertou forte chute, mas viu a bola desviar na defesa e sair. Foi o necessário para dar leve susto na Croácia e manter o rival mais cauteloso em campo. O jogo, então, ganhou em equilíbrio no primeiro tempo, com as duas seleções mais cuidadosas.

As mudanças na escalação e no esquema argentino tinham por objetivo favorecer Messi lá na frente. Mas, enquanto o time sul-americano sofria ameaças pelas laterais, em razão das opções do seu treinador, tampouco ameaçava no ataque. A bola simplesmente não chegava ao craque do time, sem um armador.

Numa rara oportunidade, aos 29, Messi pressionou o goleiro pela esquerda. E, no rebote, Enzo Pérez mandou para fora, mesmo diante do gol aberto. A Croácia respondeu com um lindo levantamento na área de Modric para cabeçada perigosa de Mandzukic, aos 31. O atacante da Juventus mandou para fora.

Antes do fim da etapa inicial, com um duelo de jogadas mais ríspidas, a Croácia teve grande chance para abrir o placar. Foi aos 46, quando Rebic recebeu ótimo lançamento pela esquerda, mas dominou mal, atrasou o lance e acabou batendo para longe do gol.

Croácia deslancha

O segundo tempo começou mais aberto, com as duas equipes exibindo posturas mais francas, em busca do ataque. Mas um erro incrível de Caballero mudou todo o panorama do jogo. Logo aos 7 minutos, o goleiro argentino tentou repor a bola encobrindo Rebic, sem sofrer maior pressão na saída de bola. Porém, a finalização foi fraca e o croata acertou belo chute de primeira, estufando as redes.

Após o gol, Sampaoli reforçou o ataque da sua equipe. Colocou Pavón e Higuaín nos lugares de Salvio e Agüero, totalmente apagado em campo. Ao mesmo tempo, a Croácia recuou para neutralizar as investidas. E deixou Mandzukic “de plantão” na área adversária. Assim, ele quase anotou o segundo, aos 20 minutos.

Preocupado, Sampaoli deu sua última cartada e colocou Dybala em campo. Mas a almejado gol acabou saindo do outro lado do campo. Aos 35, Modric arriscou forte chute de fora da área e Caballero não alcançou: 2 a 0. A essa altura, parte da torcida argentina lamentava e parte vaiava o goleiro.

Dentro de campo, o jogo ganhou em lances mais violentos, quase todos protagonizados pelos argentinos, quase desesperados diante do placar. A Croácia sustentou a boa vantagem com certa tranquilidade nos minutos finais e ainda acertou o travessão, aos 41, com Rakitic.

Antes do apito final, o mesmo jogador do Barcelona anotou o terceiro gol dos croatas, num vacilo geral da defesa sul-americana para selar a segunda vitória nesta Copa do Mundo, ainda sonhando em repetir a grande campanha de 1998, quando foi a terceira colocada.

Câmara argentina aprova projeto que descriminaliza o aborto

A Câmara dos Deputados da Argentina aprovou hoje (14) por 129 votos a favor, 125 contra e 1 abstenção o projeto de lei que descriminaliza o aborto, em uma sessão histórica que durou cerca de 22 horas e meia.

De acordo com o projeto, o aborto poderá ser feito até 14 semanas de gestação. Depois deste prazo, a interrupção da gravidez só poderá ser realizada em casos de estupro, se representar um risco para a vida e a saúde da mãe e também se o feto tiver alguma malformação “incompatível com a vida extrauterina”.

A votação terminou com aplausos dos deputados que defendiam a interrupção voluntária da gravidez.

O texto segue agora para o Senado.

Lado de fora

Terminada a votação, do lado de fora do Congresso, mulheres, em sua maioria jovens, se abraçaram e choraram com o resultado.

Marita Perez conta que passou a noite inteira dormindo com três amigas em uma barraca e disse que não esperava a aprovação. “Até o último momento achava que não íamos conseguir”, disse a jovem. Segundo ela, as manifestações vão continuar. “O desafio agora é convencer os senadores que são mais conservadores a votar pela descriminalização do aborto”, completou.

Madrugada fria

Milhares de argentinos viraram a noite na praça em frente ao Congresso, para acompanhar a votação, na Câmara dos Deputados. Todos estavam preparados para enfrentar o frio de 5 graus: fizeram fogueiras, montaram barracas e dançaram, ao som de tambores, pedindo aos legisladores o direito a um “aborto livre, gratuito e seguro”.

A sessão começou ontem (13) e, até o fim da noite, havia um empate entre os deputados que discursaram a favor e contra a legalização do aborto. Do lado de fora do Congresso, ativistas dos dois lados ocupavam a praça e defendiam sua posição.

Números

Segundo as estimativas, 500 mil abortos clandestinos são feitos todos os anos na Argentina. Cerca de 60 mil resultam em complicações e hospitalizações. E muitas mulheres – a maioria pobres ou do interior – morrem por causa de abortos mal feitos.

Argentina tem dia de expectativa no mercado financeiro

A Argentina vive um dia de expectativa hoje (15). O país está de olho na reação do mercado financeiro ao aumento das taxas de juros de referência, para 40%, e à decisão do presidente Mauricio Macri de recorrer a um empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI). As duas medidas foram tomadas apos a disparada do dólar, no inicio do mês, para conter a saída de capitais e a desvalorização do peso. Essa estratégia será colocada à prova nesta quarta-feira (16), quando vencem aplicações de 645 bilhões de pesos em Letras do Banco Central argentino (Lebac).

O dólar funciona no país como um termômetro para medir o nível de confiança na economia – tanto dos mercados, quanto de boa parte da população, acostumada a poupar em moeda norte-americana, para se proteger de eventuais crises e da inflação. A decisão dos Estados Unidos de elevar a taxa de juros levou um grupo de investidores – entre eles empresas estrangeiras – a optar por não renovar suas aplicações em Lebac. “Muitos preferiram transferir o dinheiro para o mercado norte-americano, agora que o rendimento aumentou”, disse o economista Alan Cibils, da Universidade Nacional de General Sarmiento. “Paga menos do que a Argentina, mas é mais estável”.

Para tentar reter esses investidores, o Banco Central aumentou as taxas de juros três vezes nas duas últimas semanas. O governo pediu apoio financeiro ao FMI, que está negociando uma linha de crédito stand by, a juros mais baixos que os de mercado – a primeira em 13 anos. Segundo Macri, a Argentina está entre os países que mais dependem de financiamento externo e essa foi a melhor saída para superar este momento difícil. Mas a maioria dos argentinos associa o Fundo a ajustes e apertos.

Na segunda-feira (14), Macri recebeu o apoio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com quem conversou por telefone durante dez minutos, e também do governo alemão. À tarde, o presidente se reuniu com os líderes das principais bancadas no Senado. O ministro da Fazenda, Nicolas Dujovne, admitiu que a “Argentina terá um pouco menos de crescimento econômico e um pouco mais de inflação”. O índice inflacionário no país gira em torno de 20% ao ano – e uma das promessas que Macri fez na campanha – e ainda não conseguiu cumprir – foi reduzi-lo.

Crise na Argentina pode levar à redução das exportações brasileiras

A crise na Argentina pode levar à redução das exportações brasileiras de carros e peças para o país vizinho, segundo avaliação de especialistas. Atualmente, a participação da Argentina nas exportações brasileiras é de cerca de 8% e a maior parte é do setor de veículos. De janeiro a abril, as exportações totalizaram US$ 74,299 bilhões. Desse total, US$ 6,060 bilhões são referentes à Argentina. Dos produtos exportados para a Argentina, cerca de 33% são automóveis.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) informou que ainda não tem uma previsão de quanto podem cair as exportações com a crise. A associação disse apenas que 76% das exportações do setor vão para a Argentina, seguido do México (7%), Chile (5%), Uruguai (4%), Colômbia 3% e Peru (2%).

Em crise econômica, a Argentina decidiu recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para equilibrar a situação financeira do país. A decisão foi tomada depois da disparada do dólar. O governo quer obter respaldo financeiro para acalmar os ânimos dos investidores e frear a saída de capitais do país, cuja economia, segundo o presidente argentino, Maurício Macri, é uma das mais dependentes de recursos estrangeiros. Link 1

O ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral lembra que a Argentina é o principal importador de produtos manufaturados no Brasil. “Os principais produtos são automóveis e peças de carro. Evidentemente, uma crise na Argentina afeta esses setores”, disse. Para Barral, se a Argentina conseguir o empréstimo no FMI, o nível de especulação cambial diminuirá, o que fará com que o país não diminua muito as importações.

Entretanto, Barral disse que o efeito da crise argentina no Brasil deve ficar restrito a esse segmento, sem contagiar toda a economia brasileira. “O Brasil tem reservas internacionais altas, inflação relativamente sob controle. Então, o Brasil não está na mesma situação da Argentina. Mas em termos de exportações, sim. O Brasil pode ser afetado pela queda das exportações”, disse.

Segundo Barral, a competitividade do setor automotivo brasileiro é maior na Argentina por conta do Mercado Comum do Sul (Mercosul). “Os produtos brasileiros não pagam imposto de importação na Argentina”, explicou. Além disso, ele disse que o mercado argentino é maior do que de outros países. “Enquanto na Argentina tem um mercado de 42 milhões de pessoas, no Uruguai, por exemplo, são 3 milhões”, disse.

A pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV) Lia Baker Valls Pereira também avalia que o efeito da crise argentina no Brasil se restringirá à balança comercial. “No Brasil, a exportação não é o principal elemento do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todos os bens e serviços produzidos no país). A Argentina é a terceira importadora do Brasil. É muito localizado, afetaria mais a exportação de automóvel”, avaliou a pesquisadora.

“O empréstimo do FMI vem cheio de restrições. A Argentina tem um problema de déficit fiscal, déficit externo, tem inflação alta. A Argentina vai se comprometer a um controle inflacionário e fiscal mais austero”, disse. Lia acrescentou que o presidente argentino Mauricio Macri optou por fazer um ajuste gradual na economia, mas não conseguiu.

No último dia 8, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, afirmou não há possibilidade de “contágio” da crise argentina no Brasil. “Nós temos uma situação externa extremamente confortável, um déficit em conta-corrente pequeno, que é financiado por investimentos diretos estrangeiros. Temos reservas extremamente elevadas, de US$ 383 bilhões. Não vejo nenhum impacto. A situação [do Brasil] é completamente diferente da Argentina”, disse.

Crise na Argentina pode levar à redução das exportações brasileiras

A crise na Argentina pode levar à redução das exportações brasileiras de carros e peças para o país vizinho, segundo avaliação de especialistas. Atualmente, a participação da Argentina nas exportações brasileiras é de cerca de 8% e a maior parte é do setor de veículos. De janeiro a abril, as exportações totalizaram US$ 74,299 bilhões. Desse total, US$ 6,060 bilhões são referentes à Argentina. Dos produtos exportados para a Argentina, cerca de 33% são automóveis.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) informou que ainda não tem uma previsão de quanto podem cair as exportações com a crise. A associação disse apenas que 76% das exportações do setor vão para a Argentina, seguido do México (7%), Chile (5%), Uruguai (4%), Colômbia 3% e Peru (2%).

Em crise econômica, a Argentina decidiu recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para equilibrar a situação financeira do país. A decisão foi tomada depois da disparada do dólar. O governo quer obter respaldo financeiro para acalmar os ânimos dos investidores e frear a saída de capitais do país, cuja economia, segundo o presidente argentino, Maurício Macri, é uma das mais dependentes de recursos estrangeiros. Link 1

O ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral lembra que a Argentina é o principal importador de produtos manufaturados no Brasil. “Os principais produtos são automóveis e peças de carro. Evidentemente, uma crise na Argentina afeta esses setores”, disse. Para Barral, se a Argentina conseguir o empréstimo no FMI, o nível de especulação cambial diminuirá, o que fará com que o país não diminua muito as importações.

Entretanto, Barral disse que o efeito da crise argentina no Brasil deve ficar restrito a esse segmento, sem contagiar toda a economia brasileira. “O Brasil tem reservas internacionais altas, inflação relativamente sob controle. Então, o Brasil não está na mesma situação da Argentina. Mas em termos de exportações, sim. O Brasil pode ser afetado pela queda das exportações”, disse.

Segundo Barral, a competitividade do setor automotivo brasileiro é maior na Argentina por conta do Mercado Comum do Sul (Mercosul). “Os produtos brasileiros não pagam imposto de importação na Argentina”, explicou. Além disso, ele disse que o mercado argentino é maior do que de outros países. “Enquanto na Argentina tem um mercado de 42 milhões de pessoas, no Uruguai, por exemplo, são 3 milhões”, disse.

A pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV) Lia Baker Valls Pereira também avalia que o efeito da crise argentina no Brasil se restringirá à balança comercial. “No Brasil, a exportação não é o principal elemento do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todos os bens e serviços produzidos no país). A Argentina é a terceira importadora do Brasil. É muito localizado, afetaria mais a exportação de automóvel”, avaliou a pesquisadora.

“O empréstimo do FMI vem cheio de restrições. A Argentina tem um problema de déficit fiscal, déficit externo, tem inflação alta. A Argentina vai se comprometer a um controle inflacionário e fiscal mais austero”, disse. Lia acrescentou que o presidente argentino Mauricio Macri optou por fazer um ajuste gradual na economia, mas não conseguiu.

No último dia 8, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, afirmou não há possibilidade de “contágio” da crise argentina no Brasil. “Nós temos uma situação externa extremamente confortável, um déficit em conta-corrente pequeno, que é financiado por investimentos diretos estrangeiros. Temos reservas extremamente elevadas, de US$ 383 bilhões. Não vejo nenhum impacto. A situação [do Brasil] é completamente diferente da Argentina”, disse.

Pelo Twitter, Temer expressa confiança na recuperação da Argentina

O presidente disse que Argentina adotou “política de responsabilidade”

Brasília – O presidente Michel Temer expressou hoje (9) confiança na recuperação econômica da Argentina. Pelo Twitter, Temer chamou de “política de responsabilidade” as medidas adotadas pelo presidente argentino, Mauricio Macri, para correção econômica do país vizinho. “A política econômica do Presidente Mauricio Macri é uma política de responsabilidade, de reformas para o crescimento sustentado e o desenvolvimento da Argentina. Temos plena confiança nesse caminho”.

Macri luta nos últimos dias para tirar seu país da recente turbulência econômica que inclui inflação alta, disparada do dólar e déficit fiscal, cenário agravado com as recentes turbulências da economia internacional, com os aumentos do preço do barril de petróleo e da taxa de juros norte-americana.

Ontem (8), o presidente argentino anunciou que recorrerá ao Fundo Monetário Internacional (FMI) em busca de apoio externo para equilibrar a situação financeira do país. Macri admitiu que a Argentina é um dos países “que mais dependem de financiamento externo”.

Na sexta-feira (4) o Banco Central argentino elevou as taxas de juros de referência de 33,25% para 40%, para atrair os investidores e conter a disparada de dólar. Na Argentina, qualquer aumento no valor do dólar costuma ter impacto sobre a inflação, que continua alta (cerca de 25% ao ano).

Presidente do BNDES

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), Dyogo Oliveira, também comentou a crise na Argentina. Em entrevista coletiva na tarde de hoje, no Palácio do Planalto, Dyogo afirmou que o governo daquele país está no caminho correto.

“Eles estão enfrentando um momento de dificuldade de fluxo de capitais, mas eles têm adotado uma agenda de política econômica consistente, com reformas importantes […] Acreditamos que as decisões que eles estão tomando são acertadas, estão no caminho correto. Manteremos um acompanhamento bastante próximo, como a relação profunda que o Brasil tem com a Argentina nos obriga a ter”.

Macri admite que Argentina precisa de apoio externo e recorre ao FMI

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, vai recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) em busca de apoio externo para equilibrar a situação financeira do país.

Em pronunciamento nesta terça-feira (8), em rede de televisão, Macri disse que as políticas econômicas adotadas em dois anos e cinco meses de governo são o único caminho possível para sair da situação de “estancamento” que herdou da antecessora Cristina Kirchner.

Macri admitiu que a Argentina é um dos países “que mais dependem de financiamento externo” e que foi afetada pelas recentes mudanças no cenário internacional, com os aumentos do preço do barril de petróleo e da taxa de juros norte-americana e a valorização do dólar norte-americano frente a outras moedas.

Na sexta-feira (4) o Banco Central argentino elevou as taxas de juros de referência de 33,25% para 40%, para atrair de volta os investidores e conter a disparada de dólar. Na Argentina, qualquer aumento no valor do dólar costuma ter impacto sobre a inflação, que continua alta (cerca de 25% ao ano).

Em entrevista coletiva, após o pronunciamento de Macri, o ministro da Economia, Nicolas Dujovne, disse que já conversou com a diretora executiva do FMI, Christine Lagarde, sobre a possibilidade de um “empréstimo preventivo”, a taxas mais baixas que as do mercado. Economistas independentes estimam que o valor deve ficar em torno de US$ 20 bilhões, mas o governo ainda não falou de cifras, nem sobre quais seriam as condições.

Dujovne afirmou apenas que manterá a política gradualista de cortar o alto déficit público, que equivale a 6% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos no país). O governo considera politicamente inviável adotar medidas drásticas para recuperar a economia, mesmo após a grande crise de 2001.

Desde que o país começou a se recuperar, no governo de Nestor Kirchner (2003-2007), até a chegada de Macri ao poder, a Argentina tem assumido postura contrária às políticas de ajuste impostas pelo FMI como condição para concessão de empréstimos a países em dificuldades.

“O FMI hoje não é o mesmo de antes”, disse Dujovne, ao lembrar que vários países desenvolvidos recorreram ao fundo para superar crises, sobretudo nos anos de 2008 e 2009. “O fundo aprendeu com as lições do passado e, de fato, Christine Lagarde, apoiou o programa gradualista da Argentina”,destacou Dujovne. De acordo com o ministro, o empréstimo garantirá que o governo continue tendo fundos para financiar programas sociais e crédito a pequenos produtores.

Falta liderança, diz economista

“Recorrer ao FMI é um sinal de que falta liderança no país, mostra que a Argentina é vulnerável e precisa de apoio externo para acabar com os excessos nos gastos públicos”, disse o economista Guillermo Nielsen, em entrevista. Ex-secretário de Finanças nos governos de Eduardo Duhalde ( 2002-2003) e Nestor Kirchner, Nielsen foi o responsável pela renegociação da divida externa argentina, apos a moratória de 2001.

Ele negociou os dois últimos acordos com o FMI, em 2003 e 2005. Desde então, a Argentina pagou toda a dívida com o fundo para não ter de adotar as receitas econômicas da instituição, que muitos argentinos consideram responsável oela crise de 2001. Sem acesso aos mercados internacionais, a Argentina pôde se financiar durante uma década com as exportações, aproveitando o auge nos preços das commodities (produtos primários com cotação internacional).

O economista Alan Ciblis, da Universidade de General Sarmiento, por sua vez, apontou como um dos principais problemas da economia o fato de que, com Macri, o país voltou aos mercados internacionais, mas passou a se endividar muito. Em entrevista, Ciblis enfatizou que a dívida equivale a 60% do PIB, e a maioria é em dólares.