Com 52 anos de existência, o Mercado do Bosque – desde 2002, denominado jornalista Álvaro Rocha é único da capital acreana, que funciona 24 horas. No lugar é garantido encontrar café da manhã, almoço, lanche e jantar e é local onde os notívagos gostam de encerrar as noitadas com a famosa baixaria e os mingaus de banana e farinha de tapioca, além de outras delícias regionais.
As ampliações e reformas recentes, deram ao espaço um ar mais elegante, mas o charme dos ares de mercado, se revela em cada canto. Nas paredes os quadros mostram as receitas de todas as comidas tradicionais comercializadas, como o quebi de arroz ou macaxeira, que guarda a história de adaptação culinária da Arábia para a Amazônia.
Além da culinária das cafeteiras e das pensões, no Mercado do Bosque, também há empreendimentos – 75 no total, como a oferta de serviços – concertos de relógios, celulares e joias, salões de beleza, e comércios de confecção e pequenos objetos. A obra de ampliação e reforma, padronizou todo o Mercado.
O conforto de quem trabalha e dos usuários do Mercado, depois da reforma, aumentou, o que trouxe também de volta antigos clientes e atraiu novos.

No Acre o quibe Árabe virou quebi
Quando os árabes chegaram no Acre – ainda durante a Revolução Acreana, no início do século passado, trouxeram os hábitos seus hábitos alimentares, como o quibe de trigo, e o charuto enrolado com a folha da parreira, artigos que até então só chegava importado no Acre.
Com a criatividade acreana, as adaptações foram feitas e o quibe virou quebi e em vez do trigo, passou a ser feito com o que havia em abundância por aqui, a macaxeira e o arroz. E no charuto, em vez da parreira, passou a ser enrolado com folha de couve.
Ainda de acordo com o historiador Marcos Vinícius das Neves, nas décadas de 30 e 40, há a consolidação dessas adaptações, “que ganham as cidades á medida quem que os árabes se fixam em várias partes do Acre”.
E um dos carros chefes da colunaria do Mercado do Bosque é o quebi. Uma única banda de cafeteira no Mercado no Bosque chega a vender diariamente, 150 quebis de arroz e macaxeira. As 13 cafeteiras juntas vendem quase dois mil quebis por dia. Seu Moizaniel Ferreira, conta que ele e os familiares se revezam para manter a banca aberta 24 horas e cita que “todos fazem quebi, a produção não pode parar. A gente faz e frita quebi o dia todo e a noite também”.
A professora Yasmim, conta que come quebi quase toda tarde no Mercado do Bosque, onde também almoça. “ O quebi é grande, quase um palmo, com muita carne dentro”, ressalta.
De manhã, a pedida é a baixaria, a mistura de cuscuz com ovos, carne e muito cheiro. O militar Jacó, que veio com a família de Minas Gerais e mora no Acre há quase dois anos, diz que à primeira vista, o prato o atraiu e ele gostou muito. “Em Minas se come tudo isso, mas separadamente. Aqui é tudo junto e fica ótimo, só achei estranho o nome”, cita.
Existem muitas e diferentes versões para o surgimento da “baixaria” no Mercado do Bosque. Uma das histórias contadas diz que um peão de fazenda chegou ao Mercado com muita fome e pediu: “o que a senhora tem para comer aí?”. A mulher da pensão teria feito uma mistura de tudo o que havia disponível. Fez o prato bem surtido com pão de milho, ovo, carne e o que tudo mais que tinha e o sujeito comeu como um príncipe. Ao final, com o prato vazio à frente, o peão perguntou “quanto foi essa baixaria toda aqui?”. E, desde esse dia, o nome do prato, que recupera boêmios e fortalece trabalhadores, ficou sendo baixaria.
A médica Camila Pascoal, diz que antes já frequentou o Mercado depois de saídas a noite, e “agora geralmente venho quando fico a noite toda estudando e preciso de um reforço como a baixaria ou uma tapioca recheada com carne e verduras.
E a tarde, haja frio ou calor, o acreano gosta do tacacá e rabada no tucupi, também comercializados no Mercado do Bosque. O autônomo Jonatas Silva, diz que “mesmo suando eu tomo tacacá pelo menos duas vezes por semana aqui”.


“Formei meus filhos com o dinheiro do mercado”
No Mercado do Bosque, há muitos empreendimentos familiares e histórias fortes como de D. Francisca e da Toinha. D. Francisca de Assis, de 72 anos, conta que dos 10 filhos, conseguiu formar 5 com o dinheiro que ganha vendendo frutas, verduras e outros itens no Mercado do Bosque. “Chego aqui às 3 da manhã todo dia há 32 anos. Isso aqui é minha vida e graças a esse trabalho tenho filho advogado, enfermeiro, professor” .
Antônia Rodrigues, mais conhecida como Toinha, também está há 32 anos no Mercado. Conta que trazia os filhos pequenos para o local, onde vende café da manhã. “ Tinha horas que eles me ajudavam, mas ficavam cansados e dormiam num cantinho da banca. Mas com muito trabalho aqui, muitas madrugadas, eu consegui formar dois filhos médicos, e uma irmã também médica, tudo particular. Tudo que eu tenho, casa, carro e agora esse novo empreendimento, devo ao Mercado do Bosque. Isso aqui agora é um paraíso, antes erra sujo e mal cuidado pelo poder público”, conclui ela.

Charuto que ganho folha de couve agora também é servido com tucupi
E as inovações e adaptações do acreano seguem. Depois de trocar a folha da parreira pela de couve na hora de enrolar o charuto, o acreano “inventou” mais uma: o charuto é servido com todos os itens do tacacá: caldo de tucupi, folhas de jambu e camarão.
Agora, uma das grandes pedidas da Banda do Dete, no Mercado do Bosque, é o charuto com tucupi e muito camarão. Dete diz que vende 50 cuias de tacacá por dia e serve 50 charutos com tucupi. “Comecei a servir com o tucupi há uns dois anos. No começo eram menos pedido, mas agora todo mundo só quer o charuto com tucupi, folhas de jambu e muito camarão”.
O servidor público, Douglas Assem, conta o motivo da preferência. “Eu já gostava do charuto, que é um quitute saldável, sem fritura. Aí provei o charuto com os itens do tacacá, como o caldo, e aprovei. É uma refeição completa: eu como aqui no fim da tarde e não janto mais e nem sinto fome”.



Cuidados
Como o Marcado do Bosque funciona 24 hortas, o trabalho de manutenção garantido pela prefeitura de Rio Branco, acompanha o ritmo, como na limpeza e segurança.
A exemplo dos outros dez Mercados Municipais administrados pela prefeitura, no Mercado do Bosque, é o poder público municipal que garante o transporte de produção agrícola, limpeza, manutenção de energia elétrica e água e vigias. A gestão dos mercados municipais é feita por meio da secretaria de Floresta e Agricultura – SAFRA, que mantem equipe com mais de 150 servidores nos mercados.
A prefeita Socorro Neri, que faz constantes visitas de avaliação de funcionamento aos mercados municipais, ressalta que o “ objetivo da gestão municipal é manter os mercados com suas características próprias e atuar no sentido de garantir aos usuários e trabalhadores, toda a estrutura necessária para que os mercados continuem sendo locais de encontro das famílias rio-branquense, seja para compras, serviços ou degustação dos nossos pratos regionais”.
