Os serviços do Facebook ficaram fora do ar globalmente por horas na segunda-feira (4). A pane afetou Facebook, WhatsApp e Instagram, começando por volta do meio-dia (horário de Brasília) e normalizando apenas no começo da noite.
A empresa não divulgou as causas oficiais do problema, e se limitou a emitir um comunicado oficial genérico. Mas especialistas em tecnologia apontaram que o estopim para o apagão provavelmente foram DNS e BGP, protocolos digitais que fazem com que os sites sejam exibidos para os usuários.
Neste texto, explica o que são esses protocolos e qual foi o impacto do apagão do Facebook.
Enviando o site para você
Todo site que você acessa tem pelo menos dois tipos de identidade: a real e a nominal.
A identidade nominal é aquela que você digita na barra de endereços do navegador, como, por exemplo “www.facebook.com”. A identidade real é como o site é identificado em seus servidores – no caso do Facebook, “69.63.176.13” e “69.63.181.15” são alguns deles.
O serviço de DNS (sigla em inglês para Sistema de Nomes de Domínio) é o protocolo que faz a ponte entre essas duas identidades, levando o site desejado até você. Para que essa trajetória aconteça, é necessário que os dados passem por um caminho em meio ao emaranhado de conexões na internet.
É aí que entra em cena o BGP (sigla para Protocolo de Entrada da Fronteira), uma espécie de GPS da internet. É ele que mostra qual é o caminho mais rápido para que o conteúdo seja entregue a você.
Nessa metáfora, a internet é uma série de cidades (os sites e plataformas) conectadas por grandes rodovias, pequenas estradas e pontes. O BGP vai determinar se é mais rápido chegar ao Facebook pela rodovia ou se, pelo trânsito intenso, é preferível optar pela estrada de terra menos movimentada.
No entanto, se há um problema de configuração, o GPS do protocolo fica confuso e acaba dizendo para o seu navegador que o melhor caminho para chegar na cidade desejada é dirigir em linha reta até um penhasco ou até o mar. Com isso, a ponte entre as duas identidades do site e o seu dispositivo ficam impedidas.
O posicionamento do Facebook
O Facebook emitiu um comunicado oficial na manhã de terça-feira (5). Embora não tenha apontado o DNS e o BGP como causas do problema, a empresa afirmou que uma falha interna gerou o apagão.
“Essa interrupção no tráfego de rede desencadeou um efeito cascata na maneira como nossos data centers se comunicam, interrompendo nossos serviços”, diz a nota.
“Agora, nossos serviços estão novamente online e estamos trabalhando ativamente para retornar totalmente às operações regulares. Queremos deixar claro neste momento que acreditamos que a causa raiz da interrupção foi uma falha na mudança de configuração. Também não temos evidências de que dados dos usuários tenham sido comprometidos como resultado desse tempo de inatividade”, completa a empresa.
O impacto do apagão
Com a pane, Mark Zuckerberg, fundador e CEO do Facebook, perdeu US$ 6 bilhões.
O empresário caiu uma posição no ranking de bilionários mantido em tempo real pela revista Forbes, passando a ocupar o sexto lugar entre as pessoas mais ricas do mundo com patrimônio agora avaliado em US$ 116,8 bilhões. À frente de Zuckerberg, aparecem Larry Ellison (Oracle), Bill Gates (Microsoft), Bernard Arnault (LVMH), Jeff Bezos (Amazon) e Elon Musk (Testla), o líder do ranking que detém uma fortuna de US$ 201,2 bilhões.
A paralisação nos serviços pertencentes ao Facebook foi a segunda crise enfrentada pela empresa em poucas semanas. Desde 14 de setembro, uma série de reportagens publicadas pelo jornal americano The Wall Street Journal abalou a reputação do Facebook ao mostrar que a empresa resistiu a adotar medidas para combater a desinformação entre 2018 e 2020 por temer que mudanças no algoritmo levassem à diminuição dos lucros.
A rede sofreu novo revés no domingo (3), quando a ex-funcionária Frances Haugen, que cuidava de projetos relacionados a eleições, disse em uma entrevista à emissora americana CBS News que foi responsável pela entrega de documentos que subsidiaram as reportagens. Ela, que presta depoimento no Senado dos EUA na terça-feira (5), disse que o Facebook escolhe “lucro em vez de segurança”.
Desde a publicação das denúncias, os papéis do Facebook se desvalorizaram 15% na bolsa de Nova York. A pane nos serviços acentuou as perdas ao longo de segunda-feira (4) e os papéis fecharam em queda de 4,9%.
O Facebook acumulou perdas de cerca de US$ 545 mil por hora em receita de publicidade apenas nos Estados Unidos durante a interrupção dos serviços, de acordo com estimativas da empresa de medição de anúncios Standard Media Index.
Pequenos empresários, que dependem do Facebook, do Instagram e do WhatsApp para trabalhar relataram os efeitos da pane.
“Hoje não tive venda. É como tirar a empresa da tomada”, disse ao jornal Folha de S.Paulo Murilo Ferraz, dono de uma loja virtual de produtos para animais de estimação.
“Hoje vai ser um dia perdido de vendas. Não fazemos iFood e Rappi e não temos loja física, então usamos o WhatsApp. Paramos de vender, e não estamos nem com o Instagram para poder direcionar os clientes para outro canal“, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo Ilana Pelosof, dona de uma confeitaria em São Paulo.