Painel Fonte da Vida

Uma das mais belas obras de arte de Rio Branco é praticamente desconhecida dos acreanos, apesar de ser grande, estar ao ar livre e ser bem-exposta. Os que a conhecem, com raras exceções, desconhecem sua história e seus autores. Trata-se do painel Fonte da Vida, inaugurado em 1991, no governo de Édson Cadaxo. A obra tem por objetivo retratar a história da captação da água para o consumo na história do Acre.

Ele destaca, em fases, uma índia que pega água em cuias em um lago qualquer. Essa seria a fase primitiva, quando os povos da floresta bebiam as águas puras dos rios, igarapés e lagos abundantes em toda a Amazônia.

Em seguida, vem um seringueiro, que usa as famosas latas de querosene para levar água da fonte até o seu habitat. Era assim que se abastecia as colocações de seringa e os barracões onde residiam os grandes seringalistas. Tudo feito de forma manual.

A terceira fase já mostra uma bela mulher carregando água em um pote de barro. Essa fase já é mais urbana, quando os primeiros moradores das cidades do Acre também tinham que transportar a água em recipientes diversos, já que não havia a captação e distribuição na forma como se conhece hoje.

A parte final retrata o trabalho de execução das obras de saneamento básico, com operários implantando tubos sob a superfície das ruas, mostra o trabalho dos engenheiros e, em um segundo plano, mas com bom destaque, mostra os reservatórios elevados que eram a atração na cidade naquela época.

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Obra reforçada, feita para durar

O painel é, sem dúvida, uma das maiores obras de arte do Acre. Tem 20 metros de comprimento por seis de altura e está localizado na parede externa do reservatório de água do Palheiral, na rua A, próximo à ladeira do Bola Preta.

Foi construído em alto-relevo com concreto e argamassa quimicamente reforçada. Por baixo de tudo isso, está uma malha de aço e pinos que garantem sua fixação na parede do reservatório.

“Foi uma obra muito reforçada. Esses pinos que nós usamos e a malha de aço devem garantir que o painel permaneça firme no local por muitos anos”, explicou o artista plástico Ulisses Sanches, um dos quatro artesões que trabalharam durante 75 dias no painel. Junto com ele estavam também Péricles Silva, Pedro Duarte (Pedro Art) e Joaquim Mota. “E o que se pode notar é que esse método foi eficiente, pois o painel está inteiro, necessitando apenas de uma boa limpeza e alguns retoques, mas nada significante”, completou.

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Um emocionante reencontro

Na última terça-feira, 15, Ulisses visitou o painel que ajudou a construir no início dos anos de 1990. Ele não escondeu a emoção ao falar sobre o trabalho, ao reencontrar moradores do local e ao lembrar da importância do para a cidade de Rio Branco naqueles anos em que o Estado valorizava mais os artistas e suas obras.

“Naquele tempo os artistas eram muito mais valorizados. A gente conseguia viver de arte, mas agora temos que ter alguma atividade paralela para conseguir sobreviver”, lamentou Ulisses.

O coordenador do trabalho foi Péricles Silva. De acordo com Ulisses, ele não está mais no Acre. Reside agora no Nordeste. Além dos três colegas artistas plásticos, Péricles também contratou outros operários, um total de 12. Todos homens que tinham algum conhecimento em trabalhos complexos como esse.

“O Péricles fez uma pequena maquete da obra e, com base nela, a gente ia avançando no trabalho.”

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Obra inaugurada em março de 1991

Depois dos 75 dias de trabalho, o painel Fonte da Vida foi inaugurado no dia 14 de março de 1991, durante o governo de Édson Cadaxo. Mas ele é apenas a cereja do bolo de uma série de obras de saneamento em Rio Branco, que inclui diversos reservatórios de água que chamam à atenção por serem elevados, os chamados cogumelos. Eles foram iniciados no governo do atual deputado federal Flaviano Melo. Ao todo, são três instalados na região do Palheiral, Calafate e Adalberto Sena. Foram feitos para acumular a água já tratada e facilitar a distribuição para os consumidores através de gravidade.

No dia da inauguração, o jornal A Gazeta fez matéria de página inteira falando sobre o painel. Nela, além de fotos dos artistas e trabalhadores, aparece o depoimento do seu principal executor, Péricles Silva.

“Entendo que seja importante a decoração e o embelezamento dos prédios públicos. A beleza visual faz com que qualquer monumento torne-se simpático aos olhos da população”, disse Péricles naquela reportagem.

A matéria dizia ainda que “Para Joaquim Mota, o que chama mais atenção no trabalho artesanal que realizaram é justamente as formas sincronizadas quem encontram-se em harmonia, além da temática abordada que versa sobre o precioso líquido que o homem rio-branquense utiliza diariamente”.

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O vizinho que acompanhou todo o trabalho

28 anos atrás, quando os artistas e operários iniciavam a obra do painel Fonte da Vida, o jovem Pedro de Moura Ferreira, então com pouco mais de 20 anos, observava curioso tentando entender o que se dava do outro lado da rua, em frente à sua casa. Ele já tinha visto toda a obra do reservatório e acreditava já está concluso. Não imaginava que faltava o toque final, o grande painel.

“Eu acompanhei tudo e fiz amizade com todos eles. Achei interessante a forma como trabalhavam e fiquei encantado com o resultado de todo esse trabalho”, relatou Pedro.

Ao rever Ulisses na terça-feira, Pedro o reconheceu de longe e se apressou para cumprimenta-lo. Pedro o levou à sua casa e o apresentou para os amigos presentes e os parentes que não haviam acompanhado a obra.

“Eu conto sempre pra todo mundo que vem aqui como foi que eles fizeram isso. Faço questão de falar porque nem todos conhecem, nem todos eram nascidos quando esse painel foi inaugurado”, destacou.

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Cartão postal abandonado

Pedro Moura só lamenta que aquela bela obra, um belo cartão postal de Rio Branco, seja praticamente desconhecido dos acreanos. Disse entristecido por ver que o próprio governo do Estado não tem valorizado a obra. Ele reclama que o painel está sujo e mal iluminado, necessitando de uma revitalização.

“Poderiam fazer uma boa limpeza, jogar uma água, botar umas boas luzes para que todos vejam durante a noite. Acho que isso não sairia caro e poderia dar uma vida nova nessa região da cidade”, sugeriu Pedro.

Ulisses também defende uma revitalização aos moldes do sugerido por Pedro Moura, mas vai adiante sugerindo que o painel poderia ser colorizado, dando mais vida à toda a temática. Ele espera que as autoridades voltem seus olhos para a obra e escutem as sugestões da comunidade, destinando recursos para a sua revitalização.

A matéria publicada pelo jornal A Gazeta cita um convênio entre a Empresa de Saneamento do Acre (Sanacre), responsável pelo saneamento básico no Estado à época, e a Fundação Cultural do Acre, atual Fundação Elias Mansour, para a “manutenção da obra artística no sentido que a mesma seja guardada por todos, protegida das intempéries e preservada da depredação dos vândalos”.

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Expectativa de vida do acreano aumenta 1,9 ano, diz pesquisa realizada pelo IBGE

O Acre ocupa a 14ª posição no ranking de maior esperança de vida entre os Estados

A expectativa de vida do acreano alcançou 74,2 anos em 2017, de acordo com a pesquisa do IBGE publicada nesta quinta-feira, 29. Isso significa crescimento de 1,9 ano em relação a um estudo divulgado em 2013 pelo mesmo instituto. O Acre ocupa a 14ª posição no ranking de maior esperança de vida entre os Estados.

Em 2013, o IBGE apontava para os nascidos no Estado a expectativa de vida de 72,3 anos. Em 2014 houve o acréscimo de 0,4 ano, o que levou o Estado ocupar a 15ª posição entre os Estado naquele ano. A redução da mortalidade infantil e as políticas de bem-estar para a população da terceira idade estão entre os fatores que explicam o aumento da esperança de vida do acreano. Apesar disso, o acreano ainda vive menos que a média brasileira, de 76 anos.

Uma pessoa nascida no Brasil em 2017 tinha expectativa de viver, em média, até os 76 anos. Isso representa um aumento de três meses e 11 dias a mais do que para uma pessoa nascida em 2016. A expectativa de vida dos homens aumentou de 72,2 anos em 2016 para 72,5 anos em 2017, enquanto a das mulheres foi de 79,4 para 79,6 anos.

Expectativa de vida cresce no Acre e supera a da Região Norte

De 2011 para 2018, a expectativa de vida dos acreanos ao nascer passou de 72,11 para 74,56 anos. Entre os estados da Região Norte, o Acre é o que apresenta a maior esperança de vida, aproximando-se, inclusive, da média nacional, que registra 76,25 anos.

Esperança de vida ao nascer expressa o número médio de anos que um recém-nascido esperaria viver se estivesse sujeito a uma lei de mortalidade, conforme dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para o secretário de Estado de Saúde, Rui Arruda, de forma positiva, a projeção da expectativa de vida no Estado responde aos investimentos e prioridades do governo em ofertar saúde pública de qualidade, infraestrutura, saneamento básico e outras ações que impactam diretamente na vida da população.

“Se você melhora a qualidade de vida das pessoas, melhora o ambiente, faz um tratamento de esgoto e melhora a qualidade da água, isso tudo evita que as doenças cheguem às famílias. Portanto, o crescimento na expectativa de vida no Acre reflete muito bem essas ações. Nós conseguimos uma redução na mortalidade infantil em Rio Branco de 50% e no estado todo mais de 20%. Um investimento geral, não apenas na saúde, uma vez que o governo tem focado em uma política macro de saúde que envolve outras secretarias”, destaca Arruda.

Galgando ano a ano avanços até na medicina especializada, com hospitais da criança, do idoso, do câncer, maternidades e até da ortopedia, como o Complexo do Instituto Estadual de Neurocirurgias, Traumatologia e Reabilitação, a saúde ganhou a atenção especial que sempre necessitou na gestão pública.

Somente nas últimas semanas, duas grandes estruturas de saúde foram entregues à população, duas etapas do Hospital Regional de Brasileia – uma das maiores unidades de saúde da Amazônia, cujos investimentos ultrapassam 80 milhões de reais –, o Centro Especializado em Reabilitação Padre Paolino Baldassari e o Lago do Amor, em Rio Branco, que além de proporcionar maior qualidade de vida aos acreanos com práticas esportivas e de lazer, será utilizado na reabilitação de pacientes em tratamento.

“A saúde pública não está limitada apenas nas unidades de saúde. A entrega do Lago do Amor é bem representativa nisso. Um ambiente de lazer cercado de instituições de saúde, agregando qualidade de vida e também saúde com a reabilitação de pacientes”, aponta Rui Arruda.

Investimentos em 2017 proporcionaram a renovação da frota do Serviço Móvel de Urgência (Samu) com entrega de novas ambulâncias, ampliação e mais agilidade aos serviços do Programa Saúde da Família, aos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), à Saúde Bucal e Agentes Comunitários de Saúde, nos munícipios de Assis Brasil, Brasileia, Cruzeiro do Sul, Feijó, Jordão, Mâncio Lima, Porto Walter, Rodrigues Alves, Santa Rosa do Purus, Sena Madureira e Xapuri.

Educação

A educação também não ficou para trás, muito pelo contrário. Dados do Ministério da Educação (MEC), divulgados no início deste mês, colocam o Acre em destaque com seis escolas de ensino fundamental da rede pública com a melhor evolução, ou seja, acima da média no Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb) de 2007 a 2017.

O Ideb é o principal indicador de qualidade da educação básica, que possibilita o monitoramento da qualidade da Educação pela população por meio de dados concretos, com o qual a sociedade pode se mobilizar em busca de melhorias.

Redução do número de fumantes

Outro ponto positivo é a redução de fumantes no Acre. Fruto de ações de promoção à saúde da Secretaria Estadual de Saúde (Sesacre), por meio do Programa de Controle do Tabagismo, Rio Branco registrou uma diminuição de 51,1% na quantidade de fumantes passivos em ambientes domiciliares nos últimos oito anos, conforme apontou a pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), divulgada em agosto do ano passado. No mesmo período, a quantidade de fumantes passivos no pais teve uma redução de 42%.

Em Rio Branco e demais municípios, esse enfrentamento é feito regularmente via Atenção Primária e já são mais de 50 unidades de saúde preparadas para realizar o acolhimento e o acompanhamento dos usuários de tabaco, sendo que 12 delas ficam na capital acreana.

Além disso, a Sesacre, por meio da Divisão de Doenças Crônicas, oferece desde 2005 capacitação voltada aos profissionais de saúde para prevenção do tabagismo, identificação e tratamento do tabagista e qualificação do cuidado. No ano seguinte, em 2006, o programa de controle ao tabagismo com oferta de tratamento foi implantado no estado.

Atenção à população idosa

O Centro Dia para Idosos, coordenado pelo Serviço de Proteção Social Especial da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Seds), assim com a Associação de Arte em Movimento do Idoso de Rio Branco, fazem parte das ações de promoção à qualidade de vida da pessoa idosa no Acre.

Terapia ocupacional, recreação, caminhada, ginástica, fisioterapia, hidroginástica, oficina de artesanatos e reuniões familiares periódicas estão entre os serviços disponíveis ao idoso.

Com objetivo de qualificar a atenção ofertada às pessoas idosas no Sistema Único de Saúde, o Ministério da Saúde criou a Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa. Um instrumento estratégico proposto para auxiliar no bom manejo da saúde dessa população, sendo usada tanto pelas equipes de saúde quanto pelos idosos, por seus familiares e cuidadores.

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Um dos maiores programas sociais

A juventude de hoje talvez não se recorde, mas houve um tempo no Acre em que o simples fato de sair de casa era uma missão árdua, quando não impossível, devido as péssimas condições das ruas poeirentas e enlameadas, resultado da falta de saneamento básico que gerava graves problemas de saúde pública e transtornos à população.

Como um dos maiores programas sociais do governo do Estado, o Ruas do Povo, que nasceu com uma proposta ousada de pavimentar todas as ruas do Acre, trouxe mobilidade urbana, principalmente nas áreas mais pobres, mas acima de tudo, a garantia de qualidade de vida com o fortalecimento da saúde e o auxílio na redução da mortalidade infantil.

Lançado em 2011 pelo governador Tião Viana, médico com doutorado em Medicina Tropical, que desde o início de seu primeiro mandato assumiu o compromisso não só com a pasta da saúde, mas com todos os setores em promoção ao bem-estar dos acreanos, o programa, presente nos 22 municípios, consumiu R$ 1 bilhão de reais.

Atualmente, o governo do Acre está investindo mais de 100 milhões de reais em obras de saneamento nos municípios de difícil acesso, que são Marechal Thaumaturgo, Jordão, Santa Rosa e Porto Walter.

II Jornada de Valorização da Vida discute prevenção ao suicídio em evento na FAAO

Em alusão ao mês de prevenção ao suicídio, setembro amarelo, está sendo realizado em Rio Branco, a II Jornada de Valorização da Vida. O evento acontece de 10 a 13 deste mês na FAAO. São três dias de debates sobre o problema que apresenta elevado crescimento no país e no mundo.

A depressão quase sempre é a ponte que para que o pior aconteça. A diretora Geral do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb) Michele Melo falou que o suicídio é um problema de saúde pública.

“O suicídio é um problema de saúde pública, não é apenas um transtorno, ou algo que só existe na cabeça das pessoas que passam por isso”. Na ocasião, Michele pediu desculpas as famílias que já perderam alguém nesta para os altos índices de suicídios.

“Gostaria aqui hoje de pedir desculpas, como médica, porque todos os estudos apontam que 90% das pessoas que se suicidam tem transtornos mentais associados, e se nós estivemos fazendo bem esse trabalho junto com a saúde pública e os poderes, com todas as governanças, nós hoje poderíamos ter reduzido esse número”, enfatizou.

O promotor de Justiça da promotoria de justiça especializada de defesa da saúde do Ministério Público do Acre Glaucio Ney Oshiro falou que o problema precisa ser enfrentado não apenas em setembro, mas durante todo o ano.

“Um problema de saúde pública que precisa ser enfrentado não apenas no mês setembro amarelo, mas em todo o ano. Desejo a todos que nos próximos três que possamos discutir estratégias, possamos trazer conscientização e alertas a respeito de como lidar com esse tema durante o ano todo”, disse o promotor.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) até 2020 a doença será responsável pela maioria dos afastamentos do trabalho. O Brasil, tem a maior número de casos de pessoas com depressão da América Latina cerca de 5,8% da população tem a doença.

O representante da Secretaria Estadual de Saúde (Sesacre) João Paulo Silva falou da importância da integração dos demais profissionais de saúde na prevenção ao suicídio e a depressão.

“A saúde mental não pode está presa, quando falamos em mental, estamos falando de várias causas, porque saúde mental envolve tudo, quando falamos em saúde mental falamos em várias mãos, o agente comunitário de saúde é importante, o enfermeiro, o médico são importantes para saúde mental do indivíduo” afirmou.

A segunda jornada acontece de segunda a quarta-feira,12. Participam do evento profissionais de diversas áreas da saúde, educação, segurança além de profissionais diretamente ligados ao tema.

Artesanato indígena contribui para a melhoria de vida

Conhecidos mundialmente por suas culturas, tradições e espiritualidade, o povo Yawanawa é referência também no artesanato indígena. Utilizando recursos naturais, as mulheres confeccionam tapetes, leques e vasos de palha de jaci, matéria-prima extraída da floresta.

Com miçangas, elas fabricam pulseiras, colares, anéis, brincos e tiaras, além de objetos de uso comum nas tradições dos povos da floresta.

As políticas públicas desenvolvidas pelo governo do Estado, por meio da Secretaria de Pequenos Negócios (SEPN), têm favorecido a independência das indígenas em diferentes aldeias. No Mutum, as mulheres afirmam ter adquirido mais respeito dos homens desde que começaram a fazer parte do programa de artesanato acreano e adquirir a própria renda.

Nas feiras nacionais, o artesanato indígena conquistou a clientela que opta por adquirir peças que configurem a identidade dos povos nativos. Com uma exuberância e designer diferenciado, o artesanato dos povos Yawanawa conquista novas clientelas.

A quebra de paradigma entre os Yawanawas, com a responsabilidade e liderança da aldeia sob o comando de uma cacica, tem atraído pessoas de diferentes lugares do mundo. A holandesa Tessa Van de Ven afirma que ouvia falar sobre as tradições e lhe chamou atenção saber que uma mulher é uma das principais lideranças Yawanawa e considera que o universo feminino é responsável pelo progresso mundial.

“Sempre ouvia falar sobre essas culturas e sobre a espiritualidade desses povos e me chamou atenção saber que uma mulher é a maior autoridade na aldeia, desconstruindo a conjuntura de que é uma função genuinamente masculina. Não imaginava que isso pudesse existir numa sociedade tão machista, mas isso é muito legal. Na Holanda, as mulheres são tão independentes quanto os homens, e é importante esse contexto social. Já vim outras vezes aqui nesta aldeia e é sempre uma emoção diferente, gosto muito desse povo”, disse.

A artesã Francisca Yawanawa reafirma a importância do artesanato para a vivência nas aldeias. “Nós queremos muito agradecer as pessoas que vêm nos visitar e sempre compram nossos produtos. É com esse dinheiro que ajudamos nossos maridos a comprar algumas coisas necessárias para o trabalho do dia a dia”, disse.

O coordenador do Artesanato Acreano, Wanderson Lopes, não esconde a satisfação de estar gerindo uma equipe sempre disposta a galgar novos desafios por meio do artesanato e se considera honrado em poder contribuir com a realização desse projeto.

Inflação aumenta custo de vida para acreano, diz assessor da Fecomércio/AC

Alimentação, habitação, transporte, saúde, artigos para residência e despesas pessoais tiveram aumento significativo no mês de julho, segundo avaliação do assessor da presidência para assuntos econômicos da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Acre (Fecomércio/AC), Alex Barros. A base para o estudo, de acordo com Alex, é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

O IPCA tem, como principal objetivo, medir a inflação de um conjunto de produtos e serviços comercializados no varejo. Ainda segundo o assessor, houve redução apenas nos itens de vestuário, quando comparado com o mês de junho.

“O indicador demonstra que, embora, a inflação esteja abaixo da meta estabelecida pelo CMN [Conselho Monetário Nacional], que é de 4,5%, e encontra-se, hoje, em 4,39%Fica evidente o impacto desse aumento no bolso dos consumidores”, reflete Barros.

O faturamento subiu no setor de alimentos, embora tenha permanecido o número de itens vendidos. “Isso demonstra que os consumidores estão substituindo produtos com um preço maior por um similar de menor preço”, reitera.

Barros enfatiza que o aumento no IPCA tem reflexo direto no setor do comércio. “Pois reduz as vendas e compromete o fluxo de caixa dos empresários”, finaliza.

Com educação e trabalho, reeducandos encontram um novo caminho para a vida

A vida em sociedade requer desafios diários. Para alguns, cada escolha é uma batalha interna entre o bem e o mal. Porém, outros sucumbem às piores escolhas para se fazer e o crime se torna um estilo de vida.

Pode-se dizer que 5.970 aprisionados no Acre fizeram essa escolha errada e, de alguma forma, infringiram as regras da convivência social. Para eles o sol nasce todos os dias entre as grades de ferro.

Com essa realidade, o Estado tem a obrigação constitucional de aplicar para cada um deles, condenados ou provisórios, as regras da Lei de Execução Penal, com rigor e buscando a ressocialização. “Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei”, prega o artigo 3º.

Além disso, organizar e ter o controle da população carcerária é uma questão de segurança pública, principalmente após o advento dos grupos criminosos que fazem dos presídios seu ambiente de recrutamento.

Como explica a doutora em sociologia e associada ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública Camila Caldeira Nunes Dias, em sua tese “Da guerra à gestão: a Trajetória do Primeiro Comando da Capital (PCC) nas Prisões de São Paulo”: “Nesta nova forma de exercer o poder, o PCC utiliza ao máximo as potencialidades de cada indivíduo preso, companheiro ou irmão”.

Neste sentido, se torna primordial, tanto para o cumprimento da lei quanto para o controle da segurança pública no território estadual, gerenciar os presídios e buscar a ressocialização dos aprisionados, que nacionalmente são em sua maioria jovens e sem formação educacional.

Segundo o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), de dezembro de 2014, entre os que se encontram presos, 30,12% são jovens de 18-24 anos, enquanto essa faixa etária representa 11,16% na composição da população geral. Esta mesma pesquisa aponta que 75% da população carcerária nem sequer iniciou o ensino médio.

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Trabalho

Com esse cenário quase predominante nos presídios brasileiros, é visível a composição de um ambiente propício para a propagação da consciência de que o crime é o único caminho a se seguir. Por isso, o desafio das instituições gestoras é grande, principalmente para não recorrerem ao erro de aplicar a violência como única ferramenta de controle.

“Foucault (filósofo) já dizia que a violência gera violência. Na área da sociologia, entendemos que toda força gerada dentro com um indivíduo, proporcionalmente ele vai replicar isso em alguma forma ou de algum jeito. Por isso entendemos que ressocializar não é só a utilização da força”, conta o diretor-presidente do Instituto de Administração Penitenciária do Acre, Aberson Carvalho

Com formação em Ciência Sociais, o gestor acredita que é preciso “apresentar um novo modelo de custódia do preso, no qual ele passe por um processo de reconstrução de identidade”.

Na Unidade Prisional do Quinari (UPQ), situada em Senador Guiomard, ao percorrer os pavilhões é possível perceber que há uma evidente tentativa de gestão voltada para o trabalho social dos 589 aprisionados que ali cumprem pena. Rente ao muro da Unidade, do lado de fora, em um pedaço de terra cedido por um fazendeiro local, ao longo do dia estão sete presos com enxada, terçado, roçadeira e foice em mãos, trabalhando no cultivo de uma horta.

Pepino, melancia, alface, cheiro verde e outras verduras e o trabalho com a mão nas terras é uma das alternativas encontrada pela direção da UPQ para cumprir com seu dever de “proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado”, conforme prega a Lei.

“Aqui penso em meu filho, inclusive tenho uma terra lá fora, sessenta hectares. Meu projeto de quando sair daqui é mexer com piscicultura e aproveitar também as hortaliças, com o milho que serve para ajudar o peixe. Ter uma melancia, um alface, um repolho, um couve, um agrião… Só vai ter como eu plantar para os meus filhos e minha esposa”, declara Antônio Pessoa.

Desde os 14 anos de idade, Pessoa esteve envolvido com o tráfico de drogas. Hoje, com 40 anos está pagando os crimes cometidos. No tempo em que está trabalhando, sob a vigilância dos agentes penitenciários, ele pensa em seu passado e como esse cenário atual se apresenta para os jovens.

“Tenho um filho com vinte e cinco e eu penso: o crime não compensa, cara, porque de nenhum modo ele compensa. Você pode se dá bem hoje, amanhã se dá bem, dois anos se dá bem, mas vai chegar o momento que tudo vem à tona”, afirma. Ele continua, relembrando que a vida perde seu valor nesse mundo. “Muitos morreram ao meu lado, muitos. Todos da minha juventude, a maioria dos meus amigos morreu”.

Por isso, mostrando o cultivo dos pepinos e a melancia que cresce na horta, Pessoa afirma: “Para as pessoas de hoje, uma criança, um jovem de treze quatorze anos, eu digo: não compensa o crime. A gente fala é de experiência própria, é a vida vivida, crime não compensa”.

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Educação

A educação também faz parte do processo de ressocialização. Na UPQ, em 2017, 58 aprisionados finalizaram o ano em algum dos projetos de educação oferecidos. “Nós contamos hoje com alfabetização, com o programa estadual Quero Ler e o Ensino para Jovens e Adultos (EJA). Temos também o ensino fundamental e nós conseguimos no ano passado trazer o ensino médio pra dentro do presídio”, afirma Arlenilson Cunha, diretor da Unidade.

Ele explica que esse caminho é possível pois além de o perfil dos aprisionados ser diferenciado, existe um trabalho de estruturação por parte do governo do Estado, um processo que está ocorrendo em todas unidades. Foram investidos R$ 32 milhões na ampliação de vagas, além de estruturação das unidades como instalação do bloqueador de celular na unidade de Rio Branco.

Além disso, os investimentos são feitos também para aquisição de armamento letal e não letal, coletes e munições para o trabalho dos agentes.

Essa busca por um ambiente de controle e propício para o cumprimento de penas já tem proporcionado alguns resultados. Frutos que se tornam ainda mais importantes diante de um cenário nacional em que grupos criminosos comandam a rotina nos presídios e estão em uma ofensiva de ataques e rebeliões. A UPQ, por exemplo, está há cerca de um ano e meio sem ter nenhum incidente, como informa Arlenilson.

Com as ações de educação que tem ocorrido, a unidade comemorou recentemente o bom desempenho de três internos no 3° concurso de redação teve como tema “Mais direitos, menos grades”, organizado pela Defensoria Pública da União (DPU). Da UPQ, saíram os três melhores textos na categoria Redação IV para alunos de 6° ao 9°ano do ensino fundamental e 1° ao 3° ano do ensino médio em situação de privação de liberdade.

Os reeducandos acreanos premiados nas redações inscritas foram José Willian do Nascimento (1° lugar), Gilson Cavalcante (2° lugar) e Aryel Mayllow Acácio de Menezes (3° lugar). A competição foi realizada em todas as unidades da federação, com 6.607 redações inscritas, sendo 5.044 de estudantes internos do sistema penitenciário do país.

“Nós entendemos que quanto pior é, pior fica. Por isso, fazemos uma gestão que oportuniza e promove, e assim resgata essa confiança do preso. Resgata valores talvez que não teve ainda, porque o sistema hoje em si tem essa finalidade de devolver a pessoa para a sociedade”, declara Arlenilson.

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Caminhos de futuro

O diretor da Unidade faz questão de lembrar também de um caso recente, em que um dos aprisionados saiu e está tentando construir um novo caminho. “Nós temos um exemplo vivo, é o Francisco Orisvaldo. Ele foi aqui capacitado em um curso de horticultor pelo Instituto Dom Moacyr aqui na UPQ, e hoje ele tem a sua horta na cidade”, relata.

“Oportunizar e profissionalizar o preso quebra o ciclo vicioso”, afirma Arlenilson. Essa visão vai de encontro com a análise que a especialista Carol, que mostra a importância de ter um sistema prisional seguindo as regras constitucionais. Assim, para combater o mal que são os grupos criminosos criando raízes nos presídios, é preciso muito além da repreensão.

“A aposta na reiteração e no aprofundamento de um modelo extremamente – e tão somente – repressivo é fundamental para fortalecer o discurso ideológico das facções, que se ancora exatamente no sentimento de opressão e de injustiça que aglutina esses sujeitos cujas experiências de vida são marcadas pelas sistemáticas violações de direitos às quais estão submetidos no âmbito do sistema de justiça criminal”, escreveu Caldeira na publicação “Encarceramento, seletividade e opressão”.

Caldeira pontua ainda a questão prisional para além dos muros. Ela considera que em 2014 pelo menos 1 milhão de pessoas passaram pelo sistema prisional, isso contando além dos condenados, aqueles que de alguma entraram e saíram do sistema.

Com esse dado alarmante, a especialista ainda relaciona aquelas pessoas que podem ter ligação com esses que estão ou estiveram no sistema, como familiares, amigos e vizinhos, demonstrando que há uma parte muito grande da sociedade brasileira diretamente envolvida na questão prisional.

Tendo em conta essa extensão do impacto, somente relacionado ao sistema prisional, vale ter em mente as palavras do aprisionado Leonardo de Oliveira Rodrigues, que também trabalha na horta da UPQ: “Há caminhos que para o homem parece direito, mas o fim deles são a morte”.

A vida é um absurdo!

Se alguém duvida de que nós estamos em uma guerra é só parar um pouco e começar a contar o número de mortos. Somente grandes tragédias naturais e guerras produzem tantas vítimas. A verdade é que estamos sem rumo. O barco está sem quilha, o leme travou e a tempestade continua. Muitas pessoas estão morrendo de tiro, outras de acidentes de carro, mas nunca se constatou tantos suicídios.

O filósofo Albert Camus, franco-argelino, escreveu o livro intitulado “O Mito de Sísifo”, em plena 2ª Guerra Mundial, para falar de quão absurdo é a vida. O Sísifo é um mito grego. Ele foi condenado pelos deuses a passar toda a eternidade empurrando uma pedra montanha acima. Quando chega ao topo, a pedra rola morro abaixo e Sísifo recomeça tudo de novo. Forever!

Camus recorreu ao mito para dizer que a vida não tem (e não faz) o menor sentido. É literalmente absurda. Por essa razão as pessoas escolhem entre suicidar-se, encontrar um sentido para a vida na religião ou simplesmente viver como na música do Martinho da Vila, “Deixa a vida me levar”. O problema é que pessoas religiosas também estão se matando. Já os que levam a vida por cima da pausada estão se saindo melhor.

Cada tempo e cada época da humanidade tem sua própria tragédia. De tragédia em tragédia vamos vivendo. No século XX foram as guerras mundiais. Na nossa, quem sabe, seja o crescimento assustador dos suicídios como nunca existiu na história. Cá entre nós: a vida não é mesmo um absurdo?

Artigo Obra O Grito


Astério Moreira é jornalista