Representantes da Diocese são recebidos na Aleac para tratar do encerramento da parceria entre SUS e Hospital Santa Juliana

Andressa Oliveira/ Mircléia Matos – O presidente da Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), deputado Nicolau Júnior (PP), suspendeu a sessão ordinária na manhã desta quinta-feira (21) para receber representantes da Diocese de Rio Branco, que administram o Hospital Santa Juliana. Na ocasião, os membros da igreja católica expuseram os problemas que os levaram a encerrar o convênio da Unidade Hospitalar com o Sistema Único de Saúde (SUS). Falaram ainda sobre o possível encerramento das atividades da Casa de Acolhida Souza Araújo.

A partir do próximo dia 31, o Hospital Santa Juliana não atenderá mais pacientes encaminhados pelo SUS. Dentre os problemas expostos durante a reunião, foram apresentados dados relacionados à falta de pagamento do governo. Os funcionários estão com salários atrasados, fornecedores estão suspendendo a entrega de materiais devido ao atraso e cirurgias cardíacas estão sendo canceladas. O Bispo Dom Joaquim lamentou a situação e disse que pessoas estão morrendo e eles não podem fazer mais nada para mudar esse quadro.

O presidente da Aleac, deputado Nicolau Júnior (PP), ressaltou que é de extrema importância os parlamentares promoverem uma mediação entre governo e a Diocese Rio Branco, para evitar que os atendimentos sejam encerrados. Ele se colocou à disposição para intervir junto ao governador.

“Sabemos da importância dos serviços da Diocese de Rio Branco e por isso mesmo ainda hoje faremos essa tratativa no Gabinete Civil. Evitar que esses atendimentos sejam encerrados é uma questão humanitária. Me coloco à disposição para intervir no que estiver ao meu alcance”, garantiu.

O Bispo Dom Joaquim, presidente das Obras Sociais da Diocese na Capital, informou que o contrato entre Sesacre e Hospital Santa Juliana encerra no dia 31 de março. Disse ainda que o governo do Estado não manifestou interesse na renovação do contrato que possibilita o Hospital Santa Juliana atender pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).

O Bispo também relatou a situação da Casa de Acolhida Souza Araújo, que, de acordo com ele, também enfrenta sérios problemas financeiros devido à falta de repasse do governo do Estado desde o mês de julho do ano passado.

“O convênio da Secretaria de Saúde com o Santa Juliana, assinado em 2013, vence no próximo dia 31 de março. Até lá a Obra Social da Diocese de Rio Branco se responsabiliza pelo gasto financeiro, mas a partir do mês de abril deixa de ser nossa responsabilidade. Nós não viemos a esta casa causar polêmica, essa nunca foi nossa intenção, o que estamos querendo é garantir o atendimento de saúde à população e queremos que o Estado cumpra com sua parte”, disse.

O Bispo frisou que a Diocese possui todos os documentos que comprovam tudo o que o Estado fez e deixou de fazer para com as Obras Sociais da Diocese, tanto com relação ao Santa Juliana quanto à Casa de Acolhida Souza Araújo.

“O atual governo fez uma proposta com um valor inferior ao que era pago, e nós não podemos aceitar. A situação está realmente precária, fizemos um empréstimo para pagar os funcionários e este mês, por exemplo, eu não sei nem como vamos fazer. Até os nossos fornecedores já estão suspendendo o serviço por falta de pagamento. Já conversamos com a Sesacre e até agora nada foi feito para resolver essa situação. Fizemos todo o possível e impossível, mas quem tem responsabilidade, que é o Estado, não fez sua parte, inviabilizando os trabalhos que estávamos realizando”, argumentou.

O Bispo Dom Joaquim frisou ainda que sempre houve atraso com relação ao repasse de verbas em outros governos, mas sempre foram superados, o que não está sinalizado pela atual gestão.

“Estamos realmente sem saber o que fazer, já avisamos, inclusive, aos pacientes das duas unidades de saúde, eles estão arrasados. É uma pena que não haja ainda nenhuma proposta a ser analisada para a renovação do contrato, já que a atual gestão decidiu pôr fim ao convênio. Até hoje, não movimentaram um dedo a fim de resolver esse problema”, complementou.

O deputado José Bestene (PP), presidente da Comissão de Saúde, informou que a Secretaria de Saúde do Estado (Sesacre) já enviou uma minuta à Casa Civil, para a elaboração do projeto de lei de que garante a renovação do convênio com a Diocese.

“Esta minuta já foi enviada à Casa Civil e quando estiver pronta será encaminhada a esta casa para a devida apreciação e votação. O que está havendo é que as questões orçamentárias referentes às subvenções sociais não foram discutidas na transição governamental e isso dificultou essa discussão. Mas todas as questões burocráticas em relação a este assunto serão devidamente resolvidas, essa é vontade do atual governo”, disse. (Agência Aleac)

Internos do Souza Araújo fazem ‘vaquinha’ para comprar gazes e curativos

Irmã Celene administra a Casa de Apoio Souza Araújo há três anos

Por Tião Vitor – A situação da Casa de Acolhimento Souza Araújo se aproxima de um ponto crítico. A coisa por lá só não está pior porque, apesar de não estarem recebendo, boa parte dos fornecedores ainda entrega os produtos em solidariedade aos internos. Eles também confiam na Diocese e esperam que, em breve, a situação vá se normalizar. Mas ocorre que outros não pensam da mesma forma e suspenderam, entre outras coisas, o fornecimento de gazes e outros insumos para curativos.

Esses matérias estão sendo adquiridos através de “vaquinha” que é feita pelos próprios internos com a ajuda dos funcionários da Souza Araújo.

“Eles têm um salário mensal. E é com desse dinheiro que eles tiram um pouco e doam para a compra desse material que falta. Se não fosse por isso, a situação estaria bem pior”, contou a freira Francisca Vieira de Lima, conhecida como irmã Celene. Ela é a atual administradora da Souza Araújo.

Além de gazes, ataduras e outros materiais, falta dinheiro para a manutenção de quase tudo, principalmente uma van e um veículo gol, fundamentais para o transporte dos internos quando são levados para algum exame em outras unidades de saúde, por exemplo. O caso mais grave é o da van do tipo Topic, um veículo adquirido pela Diocese no ano 2013. Seu estado de conservação é lastimável, mas só não está pior devido ao empenho do seu motorista Manoel da Silva Gomes, que já trabalha na Souza Araújo há 24 anos.

“Ela está apresentando um problema na bomba de gasolina. Quando ela pifa, eu tenho que esperar uns cinco minutos até tudo esfriar. Só então que dou na partida para ela pegar novamente. Isso já aconteceu várias vezes quando estou com ela cheia de internos que têm que esperar tudo isso em meio ao sol quente”, revelou Manoel.

De acordo com o profissional, os casos mais graves são resolvidos por um mecânico amigo da instituição, amigo esse que não tem recebido pelo serviço que presta, mas que está sempre à disposição para resolver as panes dos veículos.

“Quando quebra, ele faz umas ‘gambiarras’ que dão certo por algum tempo, mas sempre voltam a quebrar porque já não tem peças para essa van aqui na cidade”, explicou.

Também é grave o caso das lavadoras do Souza Araújo. Essas máquinas são fundamentais para manter a higiene dos internos e dos seus leitos.

“São máquinas velhas que costumam quebrar muito. Mas nós precisamos delas para manter as roupas limpas, assim como os lençóis, toalhas e outros”, disse irmã Celene.

Campo produtivo

Ainda não falta alimento para os 33 internos da Souza Araújo. Ainda! Uma parte da alimentação é produzida ali, já que o local é uma pequena fazenda que cria algumas cabeças de gado, porcos, peixes e cultiva verduras. O restante, como os grãos, legumes e frangos, estão sendo fornecidos por aquelas empresas que citamos acima, as que se solidarizam com a situação daquela casa de acolhida. Mas, para manter tudo isso, é necessário ter uma mão-de-obra que é paga com os recursos do convênio com o Estado.

“Nós temos aqui um vaqueiro e outros seis homens que tomam conta de tudo mais relacionado ao campo produtivo”, essas pessoas precisam sobreviver também. E sem salário isso não é possível”, lamentou administradora.

O corpo de servidores ainda conta com três enfermeiros, dez técnicos em enfermagem, 14 serviços gerais, uma lavadeira, um motorista e uma pessoa que toma conta da farmácia.

Custo mensal é de R$ 170 mil

O valor necessário para a manutenção mensal da Casa de Acolhida Souza Araújo, segundo irmã Celene, não é alto. O custo é de R$ 170 mil, dinheiro que vem, em sua maior parte, de um convênio firmado pela Diocese de Rio Branco com o Governo do Estado. Mas o Governo não honra com sua parte há pelos menos oito meses. A dívida estaria hoje em torno de R$ 2 milhões, já que o convênio, de R$ 250 mil, também prevê o custeio das casas terapêuticas Arco Íris e Estrela da Manhã. A última transferência feita pelo Governo aconteceu em julho de 2018. Desde então, a instituição vem acumulando dívidas atrás de dívida.

A Diocese de Rio Branco tem procurado resolver esse impasse através de reuniões com a Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre) e com os assessores diretos do governador Gladson Cameli.

Desses encontros, foi dada a garantia de que os repasses seriam feitos novamente, mas, até esta quarta-feira, nenhum tostão caiu na conta da Diocese.

Doe e ajude a Souza Araújo

Aqueles que desejam ajudar os internos da Souza Araújo, podem fazer a doação de matérias para os curativos que podem ser entregues na sede da Diocese, no Palácio do Bispo, ao lado da catedral Nossa Senhora de Nazaré, no Centro.

Eles estão precisando de:

  • – Luva de procedimentos tamanho M;
  • – Luva estéril tamanho 7 ou 7½;
  • – Atadura larga 15cm;
  • – Gaze PCT grande não-estéril;
  • – Esparadrapo normal;
  • – Pomada neomicina;
  • – Pomada sulfadiazina de prata
  • – Pomada colagenese (para limpeza de feridas)
  • – Pomada lidocaína

Internos da Casa de acolhida Souza Araújo prometem fechar a BR-364 em protesto por falta de recursos

Sem receber do Governo do Estado há oito meses a diocese de Rio Branco afirma não ter mais condições de sustentar a casa de acolhida Souza Araújo, local onde reside os portadores de hanseníase. Temendo um possível fechamento da unidade, os internos prometem fechar a BR-364 para cobrar uma solução do governo.

Em vídeo, os internos afirmam quem irão realizar um protesto no próximo dia 18 para pressionar o governo e relatam as dificuldades que tem enfrentado.

“Vamos fechar dia 18, já está todo mundo avisado. A Souza Araújo está prestes a fechar e não queremos isso porque é dever do governo nos assumir, e agora estão querendo tirar a responsabilidade”, comenta um dos internos.

Em outro trecho do vídeo, eles relatam que a Casa de acolhida está em falta de diversos insumos necessários para o acompanhamento dos doentes. Segundo os internos, está faltando gases, ataduras e até remédios.

“Eu como portador de hanseníase, quero dizer para o seu governador que nós também somos gente, que ele olhe por nós, porque quando foi para tirar nós de dentro das casas, que a polícia tirava e jogava aqui eles não pensaram, agora querem fazer isso conosco”, relata outro interno.

Atendendo pessoas com hanseníase no Acre há vários anos, a casa de apoio Souza Araújo, mais conhecida como colônia Souza Araújo, corre o risco de fechar as portas por causa da falta de repasse do governo do estado.

Os doentes afirmam ainda que a única coisa que ainda estão recebendo alimentação porque a diocese está garantindo, porém o estoque dura até 31 deste mês. Em fevereiro o jornal opinião alertou para a possibilidade de fechamento da Casa de acolhida na ocasião a assessoria de comunicação da instituição relatou as dificuldades.

Administração é feita pela diocese de Rio Branco

Há 50 anos, a administração do local é feita pela Diocese de Rio Branco. Segundo a assessoria de comunicação da Diocese o valor do repasse feito pelo governo é R$ 220 mil mensais, com os pagamentos atrasados há oito meses a dívida ultrapassa R$ 1 milhão.

“O último repasse foi feito no mês de julho do ano passado, desde de agosto não vem repasse nenhum para o Souza Araújo, isso significa dizer que estamos de agosto até agora fevereiro sem receber o recurso para manutenção do Souza Araújo’’, disse o padre Jairo Coelho.

O recurso repassado pelo governo é utilizado para manter o funcionamento da casa de acolhimento nas mais diversas atividades, desde de alimentação, remédios, transportes e para pagar os funcionários.

Segundo a Diocese, a Casa de Acolhida tem 90 funcionários, os trabalhadores foram pagos até o mês de dezembro, mas para tal, a Diocese teve que deixar de pagar fornecedores.

“Fornecedores estão sem receber, vamos ter que suspender alguns serviços, por exemplo, a questão de carros para transportar pacientes, vamos ter parar por falta de combustível”, afirmou à época padre Jairo.

De acordo com a Diocese, foram feitas algumas tentativas para solucionar o problema, tanto com a gestão passada quanto com o atual governo. “Já tentamos todo tipo de diálogo com o governo passado e com o atual, a reposta é sempre que vão verificar. Esse problema de saúde pública, nós estamos dando nossa contribuição administrando e a contra partida, o espaço utilizado é nosso”, disse o padre.

Resposta do governo

O governo do Acre através da assessoria de comunicação da Secretaria Estadual de Saúde informou que deverá ser efetuado o pagamento referente ao mês agosto no valor de R$ 220 mil.

“A Sesacre já tem o recurso disponível para pagamento e aguarda o parecer da CGE para a realização da transferência. A previsão é que até sexta-feira o pagamento seja realizado”, informou.