Por Conceição Cabral* – De uma mulher é sempre cobrado mais em todos os aspectos pela sociedade machista e patriarcal em que vivemos. Olhares críticos a acompanham onde quer que vá, infelizmente, esses olhares vêm em grande parte de outras mulheres. O que ela veste, seu peso, sua aparência física, tudo é avaliado e criticado. Lamentavelmente foi o que li em uma matéria “jornalística” escrita por uma mulher, no mês da mulher, triste coincidência!
Todo jornalista tem o direito a crítica, a liberdade de expressão assegurados na Constituição e tão salutar a democracia. No entanto, temos responsabilidades sobre o que escrevemos e dizemos. Quando se critica a prefeita por sua gestão ou falta dela, tudo bem. No entanto, o que a jornalista Gina Menezes escreve são ataques de cunho pessoal a honra e a dignidade da mulher Socorro.
Longe de ser vitimismo, o discurso proferido pela prefeita, na Assembleia Legislativa e alvo de análise da jornalista, por mim ouvido atentamente através de uma gravação, foi o externar da realidade vivenciada por Socorro e todas as mulheres que se posicionam criticamente na sociedade, em rede social ou em lugares de poder. A presidenta Dilma foi a maior prova disso.
Muitas são as mulheres que já parecerem e padecem, todos os dias, de agressões no mundo virtual que é extremamente machista, misógino e parece ser ” terra de ninguém”, tanto é o atrevimento dos agressores.
O que se viu, na matéria de Menezes, foi um ataque pessoal e machista, em uma cobrança extremamente agressiva e desrespeitosa jamais feita a qualquer homem que passou pelo poder municipal, seja ele de “direita” ou de “esquerda”. A sociedade machista cobrar mais das mulheres, especialmente das que ocupam lugares de poder. A intenção todos sabemos: desmoraliza-la, deslegitimá-la, intimidando outras mulheres para que não ousem ocupar espaço aos homens “destinados”. Em especial , os da políticas. Mesmo que às vezes não nos demos conta disto ( quero crer que este tenha sido o caso de Gina). Afinal, a desconstrução do machismo é um aprendizado diário.
Como munícipe e pagadora dos meus impostos, gostaria muito ter lido uma matéria com a prefeita sobre as razões para existência de inúmeros buracos na cidade. É fato que eles incomodam a qualquer pessoa, inclusive a mim. Ao jornalista cabe esclarecer e informar a população dos fatos, se não é apenas expressar de uma opinião pessoal.
Vamos cobrar da prefeita uma melhor trafegabilidade nas vias urbanas, mas vamos cobrar também dos deputados homens que votaram na EC 55, inclusive um deles governa o nosso Estado. Essa Emenda Constitucional retirou recursos da Educação, saúde, segurança e infraestrutura das cidades. O Corte dos recursos públicos não foi pautado por uma mulher. O presidente Temer começou esse processo, Bolsanaro vem agravando ainda mas esse quadro. Vamos cobrar aos homens com a mesma ênfase que cobramos as mulheres.
Não é fácil ser mulher nesse mundo patriarcal e cheio de cobranças que distorce nossas falas, tentam nos silenciar em cada espaço que ocupamos. Apesar de todas conquistas ainda há muito para ser melhorado principalmente dentro de nós mesmas. Então, que haja mais solidariedade e companheirismo entre nós, as mulheres. Sororidade é preciso!