Em mais um episódio de desgaste, o presidente Jair Bolsonaro promoveu nesta terça-feira (9) reunião ministerial no Palácio do Planalto sem a presença do vice-presidente Hamilton Mourão.
O encontro, que não foi inicialmente incluído na agenda oficial, reuniu 22 dos 23 ministros. O único que não compareceu foi o ministro das Comunicações, Fábio Faria, que está em agenda no exterior.
Segundo assessores palacianos, Bolsonaro avisou do encontro a cada pasta de maneira individual, evitando convocar uma reunião do conselho de governo, justamente para não precisar convidar o general da reserva.
O vice-presidente faz parte do colegiado consultivo e costuma participar dos encontros. Recentemente, ele ficou ausente quando estava em recuperação após ter sido contaminado pelo coronavírus.
Além da desconfiança que Bolsonaro tem de Mourão, o presidente já disse acreditar a integrantes da equipe ministerial que o militar vaza para a imprensa informações discutidas durante o encontro.
Na segunda-feira (8), em entrevista à TV Bandeirantes, Bolsonaro foi perguntado sobre a relação com o vice-presidente. De maneira lacônica, disse que “está tudo bem”.
Desde o ano passado, Bolsonaro tem tratado Mourão como um adversário de seu governo. O presidente evita consultar o militar sobre questões estratégicas, raramente o recebe para um audiência particular e desautoriza de forma indireta declarações públicas.
Como a Folha mostrou em outubro, o presidente não pretende ainda disputar a reeleição em 2022 com o general da reserva como candidato a vice-presidente.
A intenção foi verbalizada pelo presidente a três aliados, que relataram o conteúdo das conversas reservadas com Bolsonaro à Folha.
Segundo eles, o presidente disse que quer escolher outro nome para a sua chapa eleitoral e ressaltou que não conseguiu estabelecer uma relação de completa confiança com o militar.
Nas palavras de um dos aliados, Bolsonaro afirmou que é preciso encontrar uma solução para o posto de vice-presidente e acrescentou que Mourão de novo “não dá”, segundo os relatos.
Nas três conversas, Bolsonaro lembrou que o general da reserva foi escolhido em 2018 devido a uma dificuldade, na época, em encontrar um nome para sua chapa eleitoral.
A intenção do presidente de escolher outro nome para a chapa eleitoral já foi informada a integrantes das Forças Armadas, que passaram a avaliar uma espécie de saída honrosa para o general.
Eles defendem que o militar, que acumulou capital político no cargo, siga na vida pública e dispute, em 2022, um mandato de senador no Rio Grande do Sul, onde o general chefiou o Comando Militar do Sul.
Para militares do governo, uma candidatura de Mourão no Rio Grande do Sul poderia até mesmo, se bem articulada, ter o apoio de Bolsonaro, que contaria com um palanque forte em um importante colégio eleitoral.