Gilmar Mendes concede habeas corpus e mantém Queiroz em casa

O ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), concedeu habeas corpus determinando que Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), permaneça em prisão domiciliar.

Um dos argumentos centrais do magistrado é o de que os fatos narrados para determinar a detenção, de 2018 e 2019,​ não têm atualidade e por isso não justificariam a permanência do PM aposentado no cárcere.

Com isso, a decisão do ministro Felix Fischer, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), que na quinta (13) determinou que Queiroz deixasse a prisão domiciliar e voltasse para o regime fechado, fica anulada.

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro já havia emitido mandado de prisão para o ex-assessor de Bolsonaro. Ele perde a validade.

A decisão de Gilmar Mendes se estende à mulher de Queiroz, Márcia Oliveira de Aguiar.

O magistrado determinou ainda o uso de tornozeleiras e proibiu que eles saiam do país.

“Além de recair fundadas dúvidas sobre a contemporaneidade dos fatos invocados para justificar a segregação dos pacientes, a suposta conveniência para fins de instrução criminal e de garantia da ordem pública parecem se referir muito mais a conjecturas, como as de que o​ paciente teria influência em grupos de milícias e no meio político”, diz o magistrado.

Ele afirma ainda que, “mesmo que os fatos imputados aos pacientes sejam da mais alta gravidade _como de fato o são”, a Justiça não observou a possibilidade de aplicar outras medidas cautelares ao casal.

“A decisão atacada parece padecer de ilegalidade por não ter sopesado se, no caso concreto, outras medidas cautelares diversas da prisão não seriam menos invasivas e até mesmo mais adequadas para garantir a regularidade da instrução penal”, completa.

Ele escreve ainda que é preciso considerar “o grave quadro de saúde do paciente, que deve ser compreendido dentro de um contexto de crise de saúde que afeta gravemente o sistema prisional”.

O ex-assessor da família Bolsonaro foi preso em 18 de junho, depois de ser encontrado na casa de Frederick Wassef, então advogado de Jair Bolsonaro, em Atibaia (SP).

Ele é pivô do escândalo das rachadinhas, em que funcionários de gabinetes de deputados estaduais do Rio de Janeiro são investigados por dividir seus salários com os parlamentares.

Queiroz e integrantes da família dele trabalhavam nos gabinetes de Flávio Bolsonaro quando o filho do presidente exercia mandato parlamentar no estado (de 2003 a 2019), e também de Jair Bolsonaro, na época deputado federal.

Os investigadores descobriram, entre outras coisas, que funcionários do gabinete de Flávio depositavam dinheiro de seus salários em uma conta de Queiroz. O Ministério Público do Rio de Janeiro suspeita que os valores coletados por ele foram usados para bancar despesas pessoais de Flávio e família, um crime tecnicamente denominado peculato.

Há documentos que mostram que Queiroz pagou contas de Flávio Bolsonaro em dinheiro vivo. Fez ainda depósitos na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O presidente da República diz que o ex-assessor apenas devolvia dinheiro emprestado a ele.

Os procuradores citam também uma suposta ligação de Queiroz com milícias do Rio de Janeiro.

Detido no fim de junho, Queiroz ficou preso em regime fechado por pouco tempo: em 9 de julho, o presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), João Otávio de Noronha, determinou que ele fosse transferido para prisão domiciliar.

Ele atendeu ao pedido da defesa, que apontava riscos em razão da Covid-19.

Noronha estendeu ainda o benefício à mulher de Queiroz, Márcia, que estava foragida, argumentando que ela precisaria cuidar do marido.

Levantamento do jornal nas edições do Diário da Justiça da semana pré-recesso revelou que o ministro rejeitou 133 de 137 pedidos (97%) para que detentos pudessem deixar as cadeias e cumprir medidas alternativas durante a crise sanitária.

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Queiroz deixa condomínio para voltar ao regime fechado

O ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz deixou o condomínio onde mora na Taquara, zona oeste do Rio, por volta de 11h10, para retornar ao sistema prisional. Ele e a mulher, Márcia Aguiar, cumpriam prisão domiciliar desde o mês passado beneficiados por habeas corpus concedido pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, mas a medida acabou revogada pelo ministro Félix Fischer, da mesma corte, nesta quinta-feira, 13.

Queiroz deixou o condomínio dentro de um carro do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ), que chegara minutos antes. Um carro com vidros escuros saiu logo atrás – não há ainda a confirmação de que Márcia estaria nele. Um advogado do casal, que saiu às pressas, limitou-se a dizer que ‘os dois estavam saindo’.

Assessor parlamentar do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) à época em que ele era deputado estadual no Rio, Fabrício Queiroz é suspeito de coordenar um esquema de ‘rachadinhas’ – apropriação de salários de funcionários – no gabinete de Flávio.

Ele foi preso no dia 18 de junho na casa de Frederick Wassef, então advogado do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), em Atibaia (SP). Sua mulher, Márcia Aguiar, também era alvo de mandado de prisão, mas ficou foragida até ser beneficiada pela decisão dada por Noronha no dia 9 de julho, garantindo prisão domiciliar ao casal.

Na decisão em que derrubou a domiciliar de Márcia e Queiroz, o ministro Félix Fischer alegou questões processuais. No despacho de 39 páginas o ministro também apontou que o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro não chegou a examinar o pedido de liberdade e os laudos médicos de Queiroz. Ou seja, o caso deveria ser resolvido primeiramente numa instância inferior, antes de chegar à Corte superior.

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Depósito em dinheiro de Queiroz ajudou mulher de Flávio Bolsonaro a quitar parcela de apartamento

O policial militar aposentado Fabrício Queiroz depositou R$ 25 mil em dinheiro na conta da mulher do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), de quem era assessor, uma semana antes de o casal quitar a primeira parcela na compra de uma cobertura em construção na zona sul do Rio de Janeiro.

Dados da quebra de sigilo bancário obtidos pelo Ministério Público do Rio indicam que o depósito, junto com outras movimentações financeiras na conta da dentista Fernanda Bolsonaro, foi feito para dar cobertura ao pagamento de entrada no imóvel.

Entre os outros valores, há também um crédito em espécie de R$ 12 mil realizado por uma pessoa cuja identidade é mantida sob sigilo.

Amigo do presidente Jair Bolsonaro, Queiroz é apontado pelo MP-RJ como o operador financeiro do esquema da “rachadinha” no antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, onde ele exerceu o mandato de deputado estadual de fevereiro de 2003 a janeiro de 2019.

A suspeita é a de que o ex-assessor recolhia parte do salário de alguns assessores para repassá-los ao filho do presidente Bolsonaro.

Preso no mês passado em Atibaia, no interior de São Paulo, Queiroz está atualmente em prisão domiciliar, pedida por sua defesa e concedida pelo presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), João Otávio de Noronha.

Segundo os dados da investigação da Promotoria, dias antes de a família de Flávio Bolsonaro pagar R$ 110,5 mil pela entrada no apartamento, em agosto de 2011, houve um movimento de créditos na conta de Fernanda para cobrir a despesa futura. O primeiro foi realizado por Queiroz, no dia 15.

Dois dias depois, a conta da dentista Fernanda Bolsonaro recebeu R$ 74,7 mil de resgate de aplicações em fundos. No dia 19, há um novo depósito em espécie (feito por pessoa cujo nome não é revelado) na conta da mulher do hoje senador.

Toda a movimentação nesses quatro dias gerou um crédito adicional de R$ 111,7 mil na conta da dentista —o total de saída para entrada no imóvel foi de R$ 110.520.

Os gastos com a cobertura começam no dia 19, data do último crédito. Ela primeiro paga R$ 1.610 ao 15º Ofício de Notas, cartório no qual a compra da cobertura na planta foi registrada.

No dia 22, Fernanda tem um cheque de R$ 73.140 compensado. A quebra não identifica o nome da empresa beneficiada, mas se trata da mesma data e valor de pagamento do casal à construtora responsável pelo condomínio Cenário Laranjeiras.

No dia seguinte, outro cheque de R$ 35.770 é compensado em favor da imobiliária Patrimóvel, responsável até hoje pela venda das unidades do condomínio. Em compras de imóveis em construção, é comum o comprador pagar a taxa de corretagem diretamente à imobiliária, debitando o valor do total do pagamento à construtora.

Esse não é o primeiro indício de vínculo entre Queiroz e despesas pessoais da família de Flávio. O MP-RJ obteve, por exemplo, imagens da agência bancária do Itaú na Assembleia Legislativa do Rio mostrando o PM aposentado pagando em dinheiro a mensalidade escolar das filhas do senador em outubro de 2018.

Os promotores suspeitam que a mesma dinâmica ocorreu no pagamento de outros 53 boletos da escola de 2014 a 2018 feito com dinheiro na boca do caixa. Eles somam R$ 153,2 mil.

O mesmo ocorreu com a mensalidade do plano de saúde da família do senador. Foram 63 boletos pagos em dinheiro de 2013 a 2014, somando R$ 108,4 mil.

Também houve uso de dinheiro vivo na compra de mobiliário para outro apartamento do casal e na quitação de débito com uma corretora de valores. Investigadores afirmam que os recursos em espécie usados nas operações do senador têm como origem o esquema da “rachadinha”. O uso de papel-moeda visa dificultar o rastreio do caminho do dinheiro ilegal.

O MP-RJ afirma ainda que há indícios de lavagem de dinheiro por meio da compra de outros dois imóveis pelo casal e na loja de chocolate do senador. Nesses dois casos, o volume é bem maior: R$ 2,3 milhões, segundo os promotores.

Queiroz prestou depoimento nesta quarta-feira (15) aos promotores do caso, 19 meses após ser notificado pela primeira vez e ter faltado às convocações anteriores. O teor da oitiva é mantido sob sigilo.

O imóvel de Laranjeiras adquirido em 2011 pelo casal também é objeto de um inquérito eleitoral que apura falsidade ideológica pelo senador. A suspeita decorre do fato de ele ter atribuído valores distintos ao imóvel nas declarações de bens entregues à Justiça Eleitoral nos pleitos de 2014 e 2016.

O jornal mostrou, contudo, que a diferença se deve ao parcelamento da cobertura e mudança na forma de declaração pelo casal —os dois passaram a declarar metade da propriedade ao Fisco. Especialistas afirmam que a mudança, quando relatada às autoridades, é legal.

A PF e o Ministério Público Eleitoral sugeriram o arquivamento do caso, mas o juiz Flávio Itabaiana, responsável pelo inquérito na Justiça Eleitoral, submeteu a decisão à 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal.

A venda deste imóvel também foi usada como explicação por Flávio para a aparição de seu nome num relatório do Coaf. O órgão federal considerou atípicos 48 depósitos de R$ 2.000 em dinheiro feitos na conta do senador num intervalo de um mês.

O filho do presidente disse que ele depositou em sua conta valores recebidos em dinheiro como parte do pagamento pela venda do imóvel em Laranjeiras. O comprador do imóvel confirmou ter quitado parte da transação em espécie.

NÃO HÁ ILEGALIDADES NAS CONTAS DO CASAL, DIZ DEFESA

A defesa do senador afirmou, em nota, que “não há nenhuma ilegalidade nas contas de Fernanda e de Flávio Bolsonaro”.

“Todas essas questões foram esclarecidas nos autos. Os vazamentos de informação, ocorridos diariamente, causam estranhamento na defesa. O processo é sigiloso e os detalhes na imprensa só podem ter sido divulgados por quem tem acesso aos depoimentos. Por esse motivo, a defesa fará uma representação no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) para a devida apuração”, afirmou a defesa de Flávio, em nota.

O advogado Paulo Catta Preta, que defende Queiroz, disse que não iria se manifestar porque a investigação corre sob sigilo.

MOVIMENTOS NA CONTA DE FERNANDA, MULHER DE FLÁVIO

Entrada em 15.ago.11
R$ 25 mil de depósito em espécie por Fabrício Queiroz

Entrada em 17.ago.11
R$ 74.777,28 de resgate de aplicações em quatro fundos

Entrada em 19.ago.11
R$ 12 mil de depósito em espécie por pessoa mantida sob sigilo

Total de entradas
R$ 111.777,28 em 4 dias

Saída em 19.ago.11
R$ 1.610 para pagamento a cartório por escritura

Saída em 22.ago.11
R$ 73.140 para pagamento a construtora do condomínio

Saída em 23.ago.11
R$ 35.770 para pagamento a imobiliária

Total de saída para entrada no imóvel
R$ 110.520

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Wassef se diz diferente dos Bolsonaros e vê falta de bom senso em Queiroz

Ele já privou da intimidade da família de Jair Bolsonaro. Serviu ao primogênito, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Destituído da função, teve que se afastar do clã do presidente da República em decorrência das investigações sobre a prática de “rachadinha” no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Esse não é o policial aposentado Fabrício Queiroz, e sim o advogado Frederick Wassef.

Defensor de Jair e de Flávio até a noite de 21 de junho, Wassef teve que abandonar as causas três dias depois de Queiroz ter sido preso em sua propriedade na cidade de Atibaia, no interior paulista.

Desde então, o advogado ganhou holofotes, virou peça central nas desconfianças em torno do papel dos Bolsonaro no refúgio de Queiroz e vem repetindo que é vítima de armação e fake news daqueles que têm como objetivo prejudicar o presidente, a quem diz amar.

Queiroz foi preso em 18 de junho. Na peça em que pediu a prisão, o Ministério Público do Rio apontou indícios de que Wassef teria não apenas abrigado Queiroz, mas também controlado e restringido sua movimentação. Queiroz nunca foi considerado foragido e hoje cumpre prisão domiciliar.

Para muitos um potencial “homem-bomba”, Wassef rechaça essa rotulação e diz que tudo o que fez foi permitir que um simples averiguado, no caso Queiroz, usasse uma de suas casas para escapar de um suposto plano de assassinato e que tivesse paz no tratamento de um câncer.

Na última sexta-feira (10), em um centro comercial a 10 km do Palácio do Planalto, em Brasília, Wassef ziguezagueia ao falar de sua relação com os Bolsonaro.

A pergunta do Jornal é sobre por que a família Bolsonaro não teria tomado a iniciativa de acolher Queiroz, já que o considera inocente.

Wassef afirma que, em dezembro de 2018, “quando estoura esse escândalo [da “rachadinha”] e vem a público essa questão, a decisão da família do então presidente eleito foi imediatamente cortar todo e qualquer tipo de relação com o ex-assessor de Flávio“.

“O fato fala por si. A família fez uma opção. Deu o escândalo, eles cortaram relações e falaram: ‘Vamos esperar isso ser apurado. Quando se resolver, [vemos] se volta a falar [com ele]’.”

Queiroz é um policial militar aposentado que atuou como assessor de Flávio de 2007 a 2018. O Ministério Público do Rio afirma que ele atuou como operador financeiro de um esquema de “rachadinha” (devolução de salários) no gabinete de Flávio.

Questionado se atualmente estaria em melhor situação caso repetisse o exemplo dos Bolsonaro, Wassef concorda, aponta suas diferenças com a família e se compara a Queiroz na luta contra o câncer.

“Sim. A diferença entre eu [sic] e a família Bolsonaro é que sou uma pessoa que passou os últimos dez anos sofrendo em hospital, tive quatro cânceres, duas quimioterapias horrorosas. Passei dez anos de muita dor e sofrimento. Sou um ser humano diferente. Tenho uma sensibilidade especial à pauta câncer, saúde, ajuda ao próximo.”

Três minutos depois, instado a explicar qual seria essa diferença com os Bolsonaro, ele se corrige.

“Não falei que sou diferente da família. Sou diferente de todas as pessoas. Quem passou dez anos sofrendo em hospital com quatro tipo de cânceres, viu a morte de perto… Uma pessoa dessa se torna diferente de qualquer pessoa.”

Wassef não para de fumar e demonstra sentimentos conflitantes ao falar de Queiroz. Ele diz que o amigo de Bolsonaro foi no mínimo descuidado ao participar de festas, almoços e levar estranhos para a casa de Atibaia sem o seu conhecimento.

“Se ele [Queiroz] está ali, em busca de paz, privacidade, para cuidar da saúde e não ser um lugar público para que não o assassinem, é óbvio que a pessoa tem que ter o mínimo de bom senso e o mínimo de cuidado. Coisa que ao tudo indica ele não teve.”

Para o ex-advogado de Jair e Flávio, “Queiroz não teve o devido cuidado” ao enviar imagens da casa pelo WhatsApp. Wassef diz que não permitiria que Queiroz ficasse na casa se soubesse dos amigos que levou para lá. Mesmo contrariado, afirma não se arrepender de ter oferecido abrigo ao ex-assessor dos Bolsonaros.

O então advogado do presidente e de Flávio monitorou e controlou a movimentação do ex-assessor, como indicam mensagens apreendidas pelo Ministério Público.

Os promotores que pediram a prisão de Queiroz afirmam que o ex-servidor buscava omitir de Wassef as saídas que fazia do sítio. O MP-RJ diz ainda que o ex-assessor e seus familiares desligavam seus telefones quando se aproximavam da casa, a fim de evitar eventual monitoramento das autoridades policiais.

Mas como Jair e Flávio não sabiam do paradeiro de Queiroz, já que este era amigo de pescaria do presidente e assessorou Flávio por anos na Assembleia do Rio? Queiroz e Bolsonaro se conheceram no Exército e são amigos há mais de 30 anos. Foi por meio de Jair que o ex-assessor ingressou no gabinete de Flávio.

“Nunca comuniquei ao presidente nem ao Flávio e tenho meus motivos. Acreditava que, se eu comunicasse ao presidente ou ao seu filho, em algum momento alguém mais poderia saber. Que contaria a alguém mais e colocaria em risco a vida do Queiroz. Se essa informação circulasse, matariam o Queiroz dentro da minha casa e ainda colocariam a culpa em mim.”

Queiroz é apontado como o elo da família Bolsonaro com as milícias do Rio de Janeiro. Foi ele quem indicou para o gabinete de Flávio na Alerj a mãe e a mulher do ex-capitão do Bope e antigo líder da milícia Escritório do Crime, Adriano da Nóbrega, morto em fevereiro dete ano durante operação policial na Bahia.

Segundo mensagens obtidas pela Promotoria, o miliciano ficava com parte do salário obtido pelas duas —não ficou esclarecido, no entanto, o destino dado pela família a esse dinheiro.

Na peça que pediu a prisão de Queiroz, o Ministério Público afirma, ainda, que o ex-assessor mantém influência sobre um grupo paramilitar de Rio das Pedras, na zona oeste do Rio de Janeiro.

Antigo frequentador da residência oficial do presidente da República, o Palácio da Alvorada, Wassef senta-se a uma mesa improvisada em uma praça de alimentação inabitada no Lago Sul, em Brasília.

Com mesas e cadeiras empilhadas ao redor, ele reclama da advogada Karina Kufa, tesoureira da Aliança pelo Brasil, partido que os bolsonaristas patinam para tentar criar para as eleições de 2022.

No dia da prisão de Queiroz, Kufa divulgou nota na qual negava que Wassef advogasse para o presidente. Segundo Wassef, o presidente não sabia dessa nota, não a autorizou e não gostou do conteúdo.

“Disse ao presidente: ‘Essa advogada tem um distúrbio psicólogo sério, mentiu’. Eu disse ao presidente o que iria acontecer. Se concretizou. No dia da prisão do Queiroz, assista ao Jornal Nacional. Fez um capítulo [bloco do telejornal] para falar do Fred e provou que eu era, sim, sempre fui advogado do presidente Bolsonaro.”

Em uma hora e cinco minutos de entrevista, Wassef repete que Queiroz nunca morou em seu escritório, não permaneceu lá mais de um ano e jamais esteve escondido. “Nunca escondi Fabrício Queiroz porque ninguém estava procurando ele. Fez incontáveis viagens de ida e volta. Era um cidadão em trânsito.”

Naquele final de tarde de sexta-feira, o telefone de Wassef toca uma única vez. O advogado diz que, mesmo que Bolsonaro quisesse, não permitiria que o presidente saísse em sua defesa. “Não estou defendendo Queiroz ou Flávio. Estou rebatendo mentiras e fake news imputadas à minha pessoa.”

Sem usar máscara de proteção contra coronavírus, Wassef refuta o rumores de que seja capaz de implodir o governo Bolsonaro.

“Não sou bomba coisa nenhuma. Sou leal, amo o presidente. Se realmente falasse todos os segredos que sei do presidente Bolsonaro, se eu pudesse falar tudo que sei dele, da nossa relação dos últimos seis anos, sabe qual seria a consequência? Bolsonaro eleito em primeiro turno em 2022.”

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A lógica da prisão domiciliar de Queiroz. E seu uso no Brasil

O presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro João Otávio Noronha, determinou na quinta-feira (9) a prisão domiciliar de Fabrício Queiroz por causa das condições de saúde do policial militar aposentado, que luta contra um câncer no intestino.

Queiroz, amigo do presidente Jair Bolsonaro e ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), estava preso preventivamente desde o dia 18 de junho, sob suspeita de tentar interferir nas investigações das rachadinhas na Assembleia do Rio. O ex-PM é apontado como operador do esquema no gabinete de Flávio, quando o filho mais velho do presidente era deputado estadual.

A decisão de Noronha de mandar Queiroz para casa, sob vigilância e com restrições de comunicação, segue uma recomendação do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) sobre detentos durante a pandemia do novo coronavírus. A normativa incentiva magistrados a reverem as prisões de pessoas de grupos de risco e em final de pena que não tenham cometido crimes violentos ou com grave ameaça.

O juiz também determinou a prisão domiciliar de Márcia Aguiar, esposa de Queiroz, foragida desde o dia 18 de junho. Ele justificou a decisão afirmando que sua presença ao lado do marido seria recomendável em caso de necessidades médicas decorrentes do câncer.

Segundo a revista Época, entre março e junho, Noronha negou sete pedidos de habeas corpus vindos de indivíduos que alegaram risco de contaminação pela covid-19, assim como constava no pedido de Queiroz.

Dados divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça na terça-feira (7) contabilizaram 10.484 casos confirmados de pessoas infectadas pelo novo coronavírus nos presídios do país – 5.965 são de detentos e 4.519 são de servidores. Ao todo, foram registradas 126 mortes no sistema prisional brasileiro: 64 de detentos e 62 de servidores.

Os crimes leves e os tribunais superiores


No dia 28 de junho, o ministro Felix Fischer, também do Superior Tribunal de Justiça, negou habeas corpus para um homem de 30 anos, acusado de furtar dois frascos de xampu de um estabelecimento comercial. O valor de cada um deles era de R$ 10.

Fischer argumentou que o homem já tinha sido preso por furtos em outras ocasiões, e que, por isso, representaria risco à ordem pública. Dois dias depois, o caso foi analisado no Supremo, e a soltura foi também negada pela ministra Rosa Weber.

Nesse caso, além de ir na contramão da recomendação do CNJ, a evocação do princípio da insignificância – que diz que o Direito Penal não deve se ocupar de condutas cujo prejuízo é insignificante – também foi ignorada.

No mesmo dia, o ministro Gilmar Mendes, também do Supremo, absolveu uma mulher presa em flagrante por roubar um pedaço de picanha em um supermercado. Ele argumentou que o prejuízo material foi insignificante.

A resistência à recomendação do CNJ


A recomendação do CNJ foi publicada no dia 17 de março, seis dias depois da OMS (Organização Mundial da Saúde) decretar o estado de pandemia do novo coronavírus.

No dia 1º de abril, o desembargador Alberto Anderson Filho, da 7ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, negou o pedido de prisão domiciliar de uma detenta que cumpria regime semiaberto, argumentando que apenas astronautas que estão na Estação Espacial Internacional não correm risco de se contaminar pelo novo coronavírus.

Até a manhã desta sexta-feira (10), o sistema prisional de São Paulo registrava 296 casos de covid-19, com 15 mortes, segundo o Departamento Penitenciário Nacional.

Em 3 de abril, Samuel Andreis, juiz titular da 2ª Vara Criminal da Comarca de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, negou a prisão domiciliar de 42 presos por crimes leves.

Segundo ele, o presídio local dispunha de protocolos rigorosos para conter o vírus. Até a manhã de sexta (10), foram registrados 179 casos de covid-19 no sistema prisional do estado.

A recomendação do CNJ retirou cerca de 32 mil pessoas de unidades prisionais desde que foi publicada. O montante representa 4,98% da população carcerária do país.

Jair Bolsonaro criticou a normativa do CNJ. “Eu, se depender de mim, não soltaria ninguém. Afinal de contas, estão muito mais protegidos dentro da cadeia, porque nós proibimos as visitas íntimas, proibimos as visitas também nos presídios, de modo que estão bem protegidos lá dentro”, disse o presidente em entrevista à RedeTV no dia 30 de março.

No dia 1º de abril, o então ministro da Justiça, Sergio Moro, criticou a normativa. Ele usou uma notícia falsa contra a recomendação. No Twitter, o ex-ministro disse que um preso no Rio Grande do Sul tinha sido enviado para prisão domiciliar com base no texto do CNJ e que, uma semana depois, tinha sido preso com armamentos pesados e drogas. A operação de fato ocorreu, mas o homem em questão não estava cumprindo pena.

Horas depois, no mesmo dia, Moro fez um apelo aos juízes do país, para que não soltassem presos indiscriminadamente a partir da recomendação.

‘Amor à primeira vista’


Responsável por mandar Queiroz para casa, Noronha já demonstrou alinhamento com os interesses de Bolsonaro em diversas vezes. De acordo com reportagem publicada no jornal O Estado de S. Paulo, o juiz atendeu os interesses do presidente em 87,5% das decisões que a ele couberam entre janeiro de 2019 e maio de 2020.

Na cerimônia de posse do ministro da Justiça, André Mendonça, no fim de abril, Noronha ganhou elogios de Bolsonaro. “Confesso que a primeira vez que o vi foi um amor à primeira vista. Me simpatizei com Vossa Excelência. Nós temos conversado com não muita persistência, mas, as poucas conversas que temos, o senhor ajuda a me moldar um pouco mais para as questões do Judiciário”, disse o presidente da República.

Um mês depois, Noronha decidiu manter os exames de Bolsonaro sobre a covid-19 sob sigilo. No dia anterior, ele já havia comentado o caso publicamente, sustentando que não seria “republicano” exigir a divulgação dos laudos. A ordem foi posteriormente derrubada pelo Supremo.

O magistrado é candidato a uma das duas vagas que serão abertas no Supremo durante o mandato de Bolsonaro. Celso de Mello se aposenta em novembro de 2020. Marco Aurélio Mello se aposenta em julho de 2021. A indicação para o cargo e ministro da mais alta corte do país cabe ao presidente, com posterior confirmação do Senado.

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‘Qual o problema? Vão matar?’, diz mulher de Queiroz em mensagem apreendida pelo MP

 Em mensagens apreendidas pelo Ministério Público do Rio, a ex-assessora parlamentar Márcia Oliveira de Aguiar, mulher de Fabrício Queiroz, reclamou das táticas impostas pelo advogado Frederick Wassef. Em novembro do ano passado, ela disse à advogada Ana Flávia Rigamonti, que trabalha com Wassef, que não queria mais viver como “marionete do Anjo”. “Deixa a gente viver nossa vida. Qual o problema? Vão matar?”

As mensagens reforçam indícios de que, embora negue, Wassef atuava de forma efetiva na proteção e abrigo de Queiroz e familiares. Segundo as investigações, “Anjo” é o codinome de Wassef, que defendeu o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) no processo que apura o esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). O advogado nega que o codinome seja uma referência a ele (leia mais abaixo). 

Márcia está foragida desde o dia 18, quando a Justiça do Rio determinou a prisão dela e de Queiroz. Ele foi detido em uma casa de Atibaia (SP) que funcionava como escritório de Wassef e enviado para o presídio Bangu 8. O advogado deixou a defesa do senador após a prisão do ex-assessor de Flávio.

Nas conversas obtidas pelo MP, Márcia assume que poderia fugir caso tivesse a prisão decretada. “A gente não pode mais viver sendo marionete do Anjo. ‘Ah, você tem que ficar aqui, tem que trazer a família’. Esquece, cara. Deixa a gente viver nossa vida. Qual o problema? Vão matar? Ninguém vai matar ninguém. Se fosse pra matar, já tinham pego um filho meu aqui”, diz Márcia, em mensagem enviada a Flávia no fim do ano passado. O MP teve acesso ao material em dezembro, quando foram cumpridos mandados de busca em endereços ligados a Queiroz e um celular da ex-assessora foi apreendido.

Os planos de Wassef, segundo os diálogos apreendidos, incluíam alugar uma casa em São Paulo para abrigar toda a família de Queiroz. Naquele momento, o Supremo Tribunal Federal (STF) estava prestes a autorizar a retomada da investigação sobre as rachadinhas (apropriação de parte dos salários dos servidores) no antigo gabinete de Flávio, então paralisada devido à discussão sobre o uso de informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). As conversas mostram que Márcia e Ana Flávia, que passou seis meses com Queiroz em Atibaia enquanto trabalhava no escritório, achavam a ideia ruim.

Com o passar dos dias, os áudios enviados por Márcia à amiga eram cada vez maiores e mais frequentes. Em algum deles, Márcia alternava choro com relatos sobre como a situação mexia com sua saúde física e emocional. “Sei que também tá acabando com a (saúde) dele (Queiroz)”. Em outra mensagem, a conversa revela que o ex-assessor de Flávio também não concordava com os planos de Wassef. 

Segundo a advogada, Queiroz disse isso ao advogado, mas Wassef insistia no plano de esconder a família. “Ele (Queiroz) não quer ficar mais aí, não”, diz Márcia, antes de ponderar: “Ele (Anjo) vai fazer terror, né?” Quando Wassef passava uns dias em Atibaia, Ana Flávia tomava cuidado ao falar com Márcia. A fim de evitar que o chefe ouvisse a conversa, ela ia para o quintal.

Aos poucos, enquanto as duas demonstravam incômodo com a situação, também começavam a questionar a eficácia da estratégia do defensor. “O Anjo tem ideias boas, sim, mas na prática a gente sabe que não é igual às mil maravilhas que ele fala”, comenta Ana Flávia. A advogada diz que havia conversado até com a mulher de Wassef na tentativa de frustrar a ideia de alugar uma casa para abrigar a família Queiroz em São Paulo.

Márcia revela, nos áudios, achar que o marido estava no “limite” e temia que o estado emocional dele prejudicasse o tratamento do câncer. Segundo a ex-assessora, Queiroz mantinha a compostura em Atibaia, mas, quando ia para o Rio, despejava toda a carga sobre ela. “Chega a ser insuportável a convivência com ele”, diz. “Estou vendo que ele está no limite dele”.

Casal

Essa preocupação levava Márcia a evitar se lamentar na presença do marido. É notória a diferença entre as mensagens enviadas ao companheiro e a Ana Flávia. Enquanto para a advogada chegavam áudios e textos grandes, as conversas com o marido se limitavam a informações pragmáticas ou, no máximo, comentários sucintos, como ao dizer que achava “exagero” morar em São Paulo.

Os diálogos entre Márcia e Queiroz costumavam se dar mais no campo da descontração. Ele enviava, por exemplo, fotos de churrasco, pizza e o que mais estivesse comendo. Márcia revela, nas mensagens trocadas com a amiga, se preocupar com a alimentação do marido. Segundo ela, Queiroz não sabe fazer comida saudável e se alimenta de “besteiras”.

Enquanto a defesa de Márcia e de Queiroz afirma que não trabalha com a hipótese de delação premiada, interlocutores da família sondaram escritórios de advocacia do Rio que trabalham com o instrumento nos últimos dias. O Jornal apurou que um advogado que já defendeu clientes famosos foi sondado, mas disse que não trabalhava com delação. Outros escritórios foram procurados. 

Procurada, Ana Flávia, que não é investigada no caso, disse que não vai comentar. Também afirmou que não tem nada a ver com o processo, já que apenas trabalhava no escritório de Wassef. Flávio Bolsonaro não respondeu até a conclusão desta edição.

Wassef disse que não articulou qualquer rotina de ocultação do paradeiro de Queiroz, e negou der dado ordens à família. Ele ainda diz ser falso que o ex-assessor tenha passado período de seis meses em seu imóvel em Atibaia. O advogado afirma ser “vítima de uma campanha de fake news e ilações irresponsáveis”. 

Confira a resposta de Wassef ao Jornal na íntegra: 

Eu, Frederick Wassef, jamais articulei qualquer rotina de ocultação do paradeiro de Fabrício Queiroz, assim como nunca dei ordens a ele ou à sua família. Da mesma forma, nunca o escondi. 

Fabrício Queiroz não era procurado ou foragido da justiça para ter que se esconder, e sequer existiam intimações ou solicitações de comparecimento ao Poder Público do Rio de Janeiro.

Nunca tive apelido de “anjo” com quem quer que seja, da mesma forma nunca criei nenhum plano de esconder Queiroz ou alugar casa para que sua família se mudasse. Não é verdade que ele passou um período de 6 meses direto em Atibaia. Eu apenas autorizei o uso da propriedade para quando Fabrício Queiroz entendesse necessário. 

Tenho sido vítima de uma campanha de fake news e ilações irresponsáveis, enquanto apenas atuei no regular exercício da advocacia, e minha única intenção era preservar uma vida humana e garantir sua integralidade física, assim como evitar sua execução no Rio de Janeiro quando autorizei o uso da propriedade.

Além disso, Queiroz foi submetido a 3 intervenções cirúrgicas ao mesmo tempo em que passava por seguidas consultas e acompanhamento médico nas proximidades do imóvel, que serviu para ele se visse livre de assédio e hostilidade.

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Não quero e não tenho o que delatar, diz Queiroz a advogado

O advogado Paulo Catta Preta questionou Fabrício Queiroz sobre a informação de que ele estaria negociando um acordo de delação premiada com os investigadores do escândalo da rachadinha. “Doutor, eu não quero delatar e não tenho o que delatar”, respondeu o ex-assessor de Flávio Bolsonaro, segundo o defensor.

NADA SEI 

A informação de que uma delação estaria a caminho foi divulgada na semana passada —quando Catta Preta, que é contra acordos de colaboração, disse não ter conhecimento de nada.

ME CONTA 

Na segunda (29), porém, ele esteve na prisão com Queiroz e afirma que o questionou com clareza. “Disse a ele que, se fosse essa a opção, eu teria que sair do caso e indicar outro advogado. E ele me respondeu que era o contrário”, diz o Catta Preta.

TUDO CLARO 

“Eu estou seguro com o que ele me disse. Não teria por que mentir”, afirma o defensor. “Se quisesse fazer delação, ele teria que eticamente me comunicar.”

NO ESCURO 

Ele afirma também não acreditar em uma conversa direta de Queiroz com policiais ou procuradores, sem o seu conhecimento. “A lei diz que qualquer contato [com um possível delator] sem a presença de defensores é nulo e irregular”, diz.

folha

Em Atibaia, Queiroz tinha ‘rotina normal’ e chegou a reclamar de ‘abandono’

Acusado de operar o esquema de “rachadinha” no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro e de obstrução à Justiça, o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz deve ser ouvido nesta segunda-feira, 29, no Rio, pela primeira vez desde que seu nome veio à tona, em dezembro de 2018. Em Atibaia, onde foi preso no dia 18, Queiroz tinha uma “rotina normal”, segundo pessoas que conviveram com ele, e chegou a reclamar de “abandono”. 

Advogados envolvidos na defesa de Queiroz foram comunicados no sábado, 27, que o ex-assessor será interrogado pelos investigadores da Operação Furna da Onça, no inquérito que apura o vazamento de informações sigilosas. Queiroz e Flávio, hoje senador pelo Republicanos, foram intimados depois de o empresário Paulo Marinho, ex-aliado dos Bolsonaro, dizer que o gabinete foi informado com antecedência da investigação sobre as “rachadinhas”.

Desde que ao jornal revelou as movimentações financeiras atípicas no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, no dia 6 de dezembro de 2018, Queiroz se recusava a depor presencialmente diante dos responsáveis pela investigação. Ele se limitou a enviar um depoimento por escrito no qual isenta o filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro de culpa.

A possibilidade de Queiroz estar pela primeira vez frente a frente com os investigadores é motivo de preocupação entre pessoas próximas ao presidente que acompanham o caso. Elas veem o risco de o ex-assessor fazer uma delação premiada em troca de proteção à família. A mulher de Queiroz, Márcia, também teve a prisão decretada e está foragida desde o dia 18.  

Rotina em Atibaia

O motivo da preocupação é o frágil estado emocional do ex-assessor. No tempo em que ficou em Atibaia, no interior de São Paulo, Queiroz deixava claro que sabia que mais cedo ou mais tarde acabaria preso. Nas imagens interceptadas pelo Ministério Público que embasaram o pedido de prisão, ele aparece sorridente fazendo churrasco com a camisa do Vasco e uma cerveja na mão, mas o dia a dia do ex-assessor em Atibaia era bem diferente, segundo pessoas que conviveram com ele.

Queiroz tomava antidepressivos e vivia reclamando das dores e sequelas causadas pelo câncer no intestino – que trata no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

“Não era uma rotina de festa. Era uma rotina normal”, disse ao jornal Ana Flávia Rigamonti, que trabalhava no escritório do ex-advogado de Flávio, Frederick Wassef, onde Queiroz foi preso.

Ele passava a maior parte do tempo vendo televisão, além de filmes e séries em plataformas de streaming. Pouco falava sobre política ou sua relação com a família Bolsonaro, e se queixava de saudade da família.

Algumas vezes recebeu a visita da mulher e dos três filhos. Também ia ao Rio, onde passava temporadas mais longas. Para isso, pegava emprestado o carro de Ana Flávia.

Uma pessoa que acompanha a investigação resumiu da seguinte maneira o estado de ânimo de Queiroz em Atibaia: “Abandonado, puto, sem dinheiro, sem emprego, vendo os amigos de 30 anos no bem bom”.

Ao longo de mais de um ano em que ficou na casa de Wassef, Queiroz fez apenas um amigo na cidade, o comerciante Daniel Carvalho, dono da loja de conveniência em um posto de gasolina próximo. Ele ia almoçar quase diariamente no restaurante montado em um deque ao lado da loja. Depois, Carvalho passou a levá-lo para passeios e consultas médicas em Atibaia e Bragança Paulista.

O “point” de Queiroz em Atibaia era o “deque do Daniel”, que às vezes serve espetinhos na brasa, mas ele também frequentava pizzarias, churrascarias e lanchonetes na cidade. Nestas incursões, nunca escondeu a verdadeira identidade,  mas usava boné e óculos escuros para evitar ser reconhecido.

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Para 64%, Bolsonaro sabia onde Fabrício Queiroz estava escondido, diz Datafolha

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sabia onde estava escondido Fabrício Queiroz, segundo a opinião de 64% dos brasileiros que tiveram conhecimento da prisão do ex-assessor do clã presidencial, detido em Atibaia na quinta retrasada (18).

É o que mostra pesquisa do Datafolha —a margem de erro da pesquisa é de dois pontos para mais ou menos.

Três quartos dos entrevistados pelo Datafolha afirmaram ter tido ciência do caso, 29% deles bem detalhadamente, 35% mais ou menos e 11%, mal.

O grau de familiaridade com a história cresce ainda mais entre os mais ricos (96% entre quem ganha de 5 a 10 salários mínimos e 95% dos que têm renda maior que 10 mínimos) e instruídos (91% de quem fez curso superior).

A crença dos entrevistados é aferida depois de o próprio presidente Jair Bolsonaro ter afirmado, em uma live transmitida no dia da prisão, que sabia sobre procedimentos contra um câncer que Queiroz fazia na região.

Assim, só 21% acham que o presidente não sabia sobre o amigo, investigado no esquema das “rachadinhas” da Assembleia do Rio de Janeiro quando Flávio Bolsonaro era deputado estadual.

O filho do presidente tinha Queiroz, próximo de Bolsonaro desde 1984, como assessor no seu gabinete. Já as “rachadinhas” eram desvios de salários de funcionários do gabinete, prática comum na Assembleia, segundo o Ministério Público.

Entre os que aprovam o governo, 45% acreditam que Bolsonaro não sabia do esconderijo de Queiroz.

Do total de entrevistados, 15% dizem não saber avaliar se o presidente sabia ou não.

Por outro lado, 46% dos 2.016 brasileiros ouvidos pelo Datafolha em 23 e 24 de junho não acreditam que o presidente esteja envolvido no caso das “rachadinhas”.

Para 38%, Bolsonaro estava envolvido e 16% não opinaram. Aqui, a fé dos bolsonaristas na inocência do presidente é maior: 80% deles acham que ele não está envolvido.

Os jovens são os mais céticos. Entre quem tem de 16 a 24 anos, 52% dos ouvidos acham que o presidente está envolvido no escândalo.

O caso Queiroz é um dos maiores incômodos políticos para Bolsonaro. O ex-assessor foi preso numa casa de Frederick Wassef, advogado do presidente e do hoje senador Flávio —a quem deixou de defender logo na sequência.

Uma das principais dores de cabeça do presidente Jair Bolsonaro desde a sua eleição, as suspeitas contra seu filho Flávio e seu amigo Fabrício Queiroz, ganharam um novo capítulo na semana passada.

A suspeita do Ministério Público é a de que Queiroz operava um esquema de “rachadinha” —em que funcionários são coagidos a devolver parte de seus salários— no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio. O filho de Bolsonaro foi deputado estadual de fevereiro de 2003 a janeiro de 2019.

Ainda não houve denúncia, e a suspeita é de interferência de Queiroz nas investigações da Promotoria, por isso a prisão preventiva. A mulher dele, Márcia Aguiar, que foi assessora de Flávio na Assembleia, também teve a prisão decretada —ela não foi encontrada em seu endereço e é considerada foragida.

Flávio é investigado desde janeiro de 2018 sob a suspeita de recolher parte do salário de seus subordinados na Assembleia do Rio de 2007 a 2018. Os crimes em apuração são peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e organização criminosa.

A apuração relacionada ao senador Flávio Bolsonaro começou após relatório do antigo Coaf, hoje ligado ao Banco Central, indicar movimentação financeira atípica de Fabrício Queiroz, seu ex-assessor e amigo do presidente Jair Bolsonaro.

Além do volume movimentado, de R$ 1,2 milhão em um ano, chamou a atenção a forma com que as operações se davam: depósitos e saques em dinheiro vivo em datas próximas do pagamento de servidores da Assembleia.

Queiroz afirmou que recebia parte dos valores dos salários dos colegas de gabinete. Ele diz que usava esse dinheiro para remunerar assessores informais de Flávio, sem conhecimento do então deputado estadual. A sua defesa, contudo, nunca apontou os beneficiários finais dos valores.

Jair Bolsonaro e Queiroz se conhecem desde 1984. Queiroz foi recruta do agora presidente na Brigada de Infantaria Paraquedista, do Exército. Depois, Bolsonaro seguiu a carreira política, e Queiroz entrou para a Polícia Militar do Rio de Janeiro, de onde já se aposentou.

Desde que o caso emergiu com força, incomodando de sobremaneira a ala militar do governo, Bolsonaro baixou sua visibilidade pública e tem tomado medidas para tentar apaziguar sua relação com outros Poderes.

Enviou emissários para falar com o ministro do Supremo Alexandre de Moraes, titular de inquéritos que
atingem o bolsonarismo.

Nesta quinta (25), nomeou um técnico, o professor Carlos Decotelli, para o Ministério da Educação. Ele ocupará o lugar de um dos bolsonaristas radicais da Esplanada dos Ministérios, Abraham Weintraub, que foi para os EUA em polêmica viagem ainda como ministro, apesar de já fora do cargo na prática.

Os Bolsonaros sempre negaram saber de irregularidades atribuídas a Queiroz.

PESQUISA FOI FEITA POR TELEFONE PARA EVITAR ABORDAGEM PESSOAL

A pesquisa telefônica, utilizada neste estudo, representa o total da população adulta do país.

As entrevistas são realizadas por profissionais treinados para as abordagens telefônicas e as ligações feitas para aparelhos celulares, utilizados por cerca de 90% da população.

O método telefônico exige questionários rápidos, sem utilização de estímulos visuais, como cartão com nomes de candidatos, por exemplo.

Assim, mesmo com a distribuição da amostra seguindo cotas de sexo e idade dentro de cada macrorregião, e da posterior ponderação dos resultados segundo escolaridade, os dados devem ser analisados com alguma cautela por limitar o uso desses instrumentos.

Na pesquisa divulgada hoje, feita dessa forma para evitar o contato pessoal entre pesquisadores e respondentes, o Datafolha adotou as recomendações técnicas necessárias para que os resultados se aproximem ao máximo do universo que se pretende representar.

Todos os profissionais do Datafolha trabalharam em casa, incluídos os entrevistadores, que aplicaram os questionários através de central telefônica remota.

Foram entrevistados 2.016 brasileiros adultos que possuem telefone celular em todas as regiões e estados do país.

A margem de erro é de dois pontos percentuais.

A coleta de dados aconteceu nos dias 23 e 24 de junho de 2020.

folha

Aprovação de Bolsonaro segue estável após prisão de Queiroz, aponta Datafolha

A popularidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) segue estável na semana seguinte à prisão do ex-assessor de sua família Fabrício Queiroz.

Segundo pesquisa do Datafolha, Bolsonaro manteve sua aprovação em 32%, o mesmo índice do fim de maio (33%). A rejeição ao governo é de 44%, ante 43% da rodada anterior, enquanto os que avaliam Bolsonaro como regular estacionaram nos 23% (eram 22%).

O Datafolha ouviu 2.016 pessoas por telefone terça (23) e quarta-feira (24). A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

A estabilidade contrasta com a tensão política decorrente da prisão de Queiroz, amigo de Bolsonaro desde 1984 e ex-assessor de seu filho Flávio, hoje senador.

Investigado no esquema das “rachadinhas” quando era deputado estadual no Rio, Queiroz é o elo entre o clã presidencial e figuras do submundo miliciano no Rio.

O caso, contudo, tem grande potencial destrutivo. A aprovação de Bolsonaro cai para 15% entre aqueles que acham que o presidente sabia onde Queiroz se escondia até ser preso no dia 18.

Esse é o índice de popularidade considerado crítico na política para a abertura de processos de impeachment.

Bolsonaro segue com o mesmo perfil de aprovação. O rejeitam mais jovens (16 a 24 anos, 54%), detentores de curso superior (53%) e ricos (renda acima de 10 salários mínimos, 52%).

Moradores da região Sul, reduto bolsonarista, aprovam mais o presidente: 42% o acham ótimo ou bom.

Na mão contrária, pessoas de 35 a 44 anos (37%), empresários (51%) e os que sempre confiam em Bolsonaro (92%) são os mais satisfeitos com a gestão do presidente.

Bolsonaro não inspira muita confiança. São 46% os que dizem nunca confiar, 20% que sempre confiam e 32%, aqueles que o fazem às vezes.

Novamente, o Sul desponta como uma fortaleza do titular do Planalto, com a menor taxa de desconfiança (35%) entre as regiões.

O Nordeste, que se mantém como o local de maior rejeição a Bolsonaro (52% de ruim ou péssimo), é a região que mais desconfia: 53% dos ouvidos nunca dão crédito a ele.

O presidente segue sendo o mais mal avaliado da história em seu primeiro mandato desde a volta das eleições diretas para o Planalto no pós-ditadura, em 1989.

Antes dele, o pior índice era de Fernando Collor. Com ano e seis meses de gestão, em setembro de 1991, o hoje senador amargava 41% de rejeição. Acabou impedido em 1992.

Fernando Henrique Cardoso (PSDB) era rejeitado por 25% na mesma altura de seu primeiro mandato, enquanto Luiz Inácio Lula da Silva (PT) era por 17% e Dilma Rousseff (PT), por 5%.

O desgaste dos reeleitos só poupou Lula. FHC tinha 41% de ruim/péssimo a essa altura do segundo mandato, e Dilma acabaria impedida logo após marcar 63%.

Já os vices que assumiram após impeachment não foram melhor. Itamar Franco marcou 37% de rejeição no meio de 1994, e Michel Temer (MDB), 71% logo após a eclosão do caso Joesley Batista.

PESQUISA FOI FEITA POR TELEFONE PARA EVITAR ABORDAGEM PESSOAL

A pesquisa telefônica, utilizada neste estudo, representa o total da população adulta do país.

As entrevistas são realizadas por profissionais treinados para as abordagens telefônicas e as ligações feitas para aparelhos celulares, utilizados por cerca de 90% da população.

O método telefônico exige questionários rápidos, sem utilização de estímulos visuais, como cartão com nomes de candidatos, por exemplo.

Assim, mesmo com a distribuição da amostra seguindo cotas de sexo e idade dentro de cada macrorregião, e da posterior ponderação dos resultados segundo escolaridade, os dados devem ser analisados com alguma cautela por limitar o uso desses instrumentos.

Na pesquisa divulgada hoje, feita dessa forma para evitar o contato pessoal entre pesquisadores e respondentes, o Datafolha adotou as recomendações técnicas necessárias para que os resultados se aproximem ao máximo do universo que se pretende representar.

Todos os profissionais do Datafolha trabalharam em casa, incluídos os entrevistadores, que aplicaram os questionários através de central telefônica remota.

Foram entrevistados 2.016 brasileiros adultos que possuem telefone celular em todas as regiões e estados do país.

A margem de erro é de dois pontos percentuais.

A coleta de dados aconteceu nos dias 23 e 24 de junho de 2020.

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Polícia faz buscas em casa de parentes de Queiroz para localizar sua mulher

Membros do MP-MG (Ministério Público de Minas Gerais), com apoio da Polícia Militar, realizam buscas em uma casa de parentes Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), na manhã desta terça (23), no bairro São Bernardo, região norte de Belo Horizonte.

A operação é realizada em parceria com o Ministério Público do Rio de Janeiro e tem o objetivo de localizar Márcia Oliveira de Aguiar, mulher de Queiroz, que está foragida desde a semana passada, quando seu marido foi preso em Atibaia (inteiro de São Paulo).

Ao todo são cumpridos quatro mandados de busca e apreensão. Não foi informado se outros endereços estão sendo alvo da operação.

De acordo com informações da rádio Itatiaia, na residência vivem dois irmãos, uma tia e alguns primos de Queiroz. A casa seria de uma madrinha de Queiroz que morreu recentemente, segundo a Globonews.

O casal é acusado de participar de um suposto esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, quando servidores devolvem parte dos seus salários.

Queiroz estava em um imóvel do advogado Frederick Wassef, responsável pelas defesas de Flávio e do presidente Bolsonaro. Wassef é figura constante no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, e em eventos no Palácio do Planalto.

A Operação Anjo, batizada com esse nome por causa do apelido de Wassef entre os investigados, foi coordenada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, que indicou o paradeiro de Queiroz aos policiais de São Paulo. O ex-assessor de Flávio foi transferido para o Rio de Janeiro ainda na manhã de quinta-feira.

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Investigadores creem que contato na caderneta de Queiroz é de agente da PF conhecido dos Bolsonaros

O telefone… Em caderneta de Fabrício Queiroz, encontrada em dezembro de 2019, investigadores acharam papel que dizia “Aroldinho federal” e “Aroldinho pode chegar até o Queiroz caso seja preço (sic)”. Eles acreditam ser Aroldo Mendonça, agente da PF aposentado que é conhecido dos Bolsonaros.

… tocou novamente Nas redes sociais, Aroldo se descreve da seguinte forma: filho, pai, trabalhou com o pai, entrou na PF e hoje está com Bolsonaro. Assim como o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), é dono de franquia da loja de chocolates Kopenhagen.

Dividida Aroldo afirma que não é amigo de Flávio, mas que fez campanha para ele e esteve com ele só em eventos políticos, em 2018, pois seria candidato a deputado pelo PSL –a exceção foi uma vez em que jogaram bola, diz. Ele acabou desistindo da candidatura.

O diretório do PSL definiu o nome de Aroldo como candidato à prefeitura de Duque de Caxias em 2020, mas ele diz que não concorrerá.

De vista O agente diz ter estado pessoalmente com Queiroz só três vezes, na mesma época, quando trocaram números de telefone. As únicas mensagens que mandaram um ao outro, diz, foram sobre eventos de campanha, para saber onde estava Flávio e coisas do tipo.

Afirma que votou em Flávio e em Jair Bolsonaro, mas que, caso tenham cometido irregularidades, que paguem, como qualquer um.

“Se não nem tive contato com o tal Queiroz solto, imagine preso”, argumenta. Sobre a loja de chocolates, diz ser “pura coincidência”.

“Mas, diante da citação, sugiro que seja apurado se há algum vínculo entre as franquias. Não quero que paire dúvidas sobre a minha vida ou de meus familiares”, completa.

Ele diz que nesta segunda (22), com seu advogado, vai se colocar à disposição da Justiça para fornecer qualquer informação que possa interessar à investigação: dados telefônicos, bancários, etc..

Desvio Anotações como a que se refere a “Aroldinho da PF” e outras similares levantaram a suspeita nos investigadores de que Queiroz poderia continuar a cometer delitos caso fosse custodiado no Batalhão Especial Prisional da Polícia Militar do Rio. Por isso, a Promotoria solicitou que fosse mandado para Bangu.

folha

Defender Bolsonaro ficou mais difícil após advogado abrigar Queiroz, avaliam líderes do centrão

Líderes do centrão ficaram assustados com o que consideram irresponsabilidade de se abrigar Fabrício Queiroz na casa de Frederick Wassef, advogado da família de Jair Bolsonaro.

TODO CUIDADO  

Se havia intenção de acolher Queiroz para que ele não virasse homem-bomba, que isso pelo menos fosse feito de forma mais eficiente, dizem alguns líderes.

BATATA  

Do jeito que as coisas foram organizadas, a bomba explodiu no colo de Bolsonaro. E criou dificuldades para os parlamentares recém-aliados sustentarem uma defesa convincente.

folha

PF antecipou a Flávio Bolsonaro que Queiroz seria alvo de operação, diz suplente do senador

empresário Paulo Marinho, 68, foi um dos mais importantes e próximos apoiadores de Jair Bolsonaro na campanha presidencial de 2018. Ele não apenas cedeu sua casa no Rio de Janeiro para a estrutura de campanha do então deputado federal, que ainda hoje chama de “capitão”, como foi candidato a suplente na chapa do filho dele, Flávio Bolsonaro, que concorria ao Senado. Os dois foram eleitos.

Em dezembro daquele ano, com Jair Bolsonaro já vitorioso e prestes a assumir o comando do país, Flávio procurou Paulo Marinho. Estava “absolutamente transtornado”, segundo o empresário. Buscava a indicação de um advogado criminal.

escândalo de Fabrício Queiroz, funcionário de Flávio no seu gabinete de deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio, não saía das manchetes. Havia acusações de “rachadinhas” e de desvio de dinheiro público. O senador recém-eleito temia as consequências para o futuro governo do pai —e precisava se defender.

As revelações que Marinho diz ter ouvido do filho do presidente nesse encontro são bombásticas: segundo ele, Flávio disse que soube com antecedência que a Operação Furna da Onça, que atingiu
Queiroz, seria deflagrada.

Foi avisado da existência dela entre o primeiro e o segundo turnos das eleições, por um delegado da Polícia Federal que era simpatizante da candidatura de Jair Bolsonaro.

O empresário Paulo Marinho, 68, em sua casa no Rio de Janeiro – Ricardo Borges – 28.ago.2019/UOL

Mais: os policiais teriam segurado a operação, então sigilosa, para que ela não ocorresse no meio do segundo turno, prejudicando assim a candidatura de Bolsonaro.

O delegado-informante teria aconselhado ainda Flávio a demitir Fabrício Queiroz e a filha dele, que trabalhava no gabinete de deputado federal de Jair Bolsonaro em Brasília.

Os dois, de fato, foram exonerados naquele período —mais precisamente, no dia 15 de outubro de 2018.

Queiroz estava sumido em dezembro. Mas, segundo Marinho, o senador Flávio Bolsonaro mantinha interlocução indireta com ele por meio de um advogado de seu gabinete.

Nesta entrevista, Marinho, que é pré-candidato a prefeito do Rio de Janeiro pelo PSDB, começa falando da cidade que pretende governar, dos planos para a campanha presidencial de João Doria em 2022 —e por fim detalha os encontros com Flávio Bolsonaro.

Segundo ele, as conversas podem “explicar” o interesse de Bolsonaro em controlar a Superintendência da Polícia Federal no Rio, causa primeira dos atritos que culminaram na saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça.

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Fux suspende investigação sobre movimentações de Queiroz

O ministro Luiz Fux, vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu as investigações sobre movimentações financeiras suspeitas de Fabrício Queiroz, ex-assessor e ex-policial militar, que era lotado no gabinete do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). A decisão é temporária.

Fux, que responde pelo plantão judicial do Supremo até o início do mês que vem, suspendeu a investigação até análise do relator, ministro Marco Aurélio Mello, sobre uma reclamação protocolada no STF pela defesa do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). O processo corre em segredo de Justiça.

Responsável pelo procedimento de investigação criminal sobre o caso, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) disse – por meio de nota – que, “pelo fato do procedimento tramitar sob absoluto sigilo, reiterado na decisão do STF, o MPRJ não se manifestará sobre o mérito da decisão”.

Na decisão, Fux entendeu que ao assumir o mandato de senador em fevereiro, Flávio passará a ter foro privilegiado, e por isso seria melhor esperar a definição pelo STF sobre qual deve ser o responsável por conduzir as investigações.

Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou que em um mesmo ano houve a movimentação de R$ 1,2 milhão por parte de Queiroz.

O MPRJ informou que, pelo fato tramitar sob “absoluto sigilo”, não se manifestará sobre o mérito da decisão.

Esclarecimentos

O nome de Fabrício Queiroz consta em um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeira (Coaf) que aponta uma movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em uma conta em nome do ex-assessor. O documento integrou a investigação da Operação Furna da Onça, desdobramento da Lava Jato no Rio de Janeiro, que prendeu deputados estaduais no início de novembro.

O MPRJ marcou duas vezes o depoimento de Queiroz. Ele não compareceu, justificando problemas de saúde. A mulher Márcia Oliveira de Aguiar e as filhas dele Nathália Melo de Queiroz e Evelyn Melo de Queiroz também faltaram ao depoimento, alegando que o acompanhavam em tratamento em São Paulo.

Na semana passada, o deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente da República, afirmou – por meio das redes sociais – que se comprometia a comparecer para prestar esclarecimentos em novo dia e horário. Como parlamentar, ele tem a prerrogativa legal de combinar previamente a data e horário para depor.