Como parte da programação da 9ª edição do Prêmio de Jornalismo do MPAC e em alusão à campanha ‘Setembro Amarelo’, foi realizada, nesta segunda-feira (24), a roda de conversa ‘Diálogos sobre o suicídio’. O evento reuniu integrantes do Ministério Público, profissionais da saúde e jornalistas no Espaço Amarelo localizado em uma das salas do Via Verde Shopping, em Rio Branco.
A intenção foi traçar uma estratégia de conscientização, prevenção e mobilização quanto a uma forma mais humana e menos prejudicial de se noticiar casos de suicídio na mídia e a postura dos veículos de comunicação ao transmitir os fatos.
“A gente buscou mostrar aos jornalistas a importância e a responsabilidade que eles têm dentro do tema, pois são formadores de opinião”, destaca a coordenadora do Centro de Apoio Operacional (Caop) de Defesa da Saúde, Pessoa Idosa e Pessoa com Deficiência, procuradora Gilcely Evangelista, que também coordena o Centro de Especialidades em Saúde do MPAC (CES).
Suicídio por imitação
Desde a década de 70, estudos evidenciam que a divulgação inadequada da notícia de suicídio pode aumentar as taxas. Previstas pela Organização Mundial de Sáude (OMS), algumas medidas são fundamentais para uma informação coerente, que evite, sobretudo, o efeito ‘Werther’, que é quando o número de suicídios é maior após uma ocorrência divulgada de forma ampla e sensacionalista ou após o suicídio de alguém famoso.
“Trata-se do suicídio por imitação. Não é que ver uma notícia sobre um caso vai levar a pessoa a praticar o ato. O que ocorre é que existem pessoas que já estão predispostas, passando por crises, pensando idéias suicidas e, quando colocadas em frente a uma matéria que diz como a pessoa executou, o que ela fez, os passos, isso pode ser um disparador”, explica a jornalista e professora do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Acre (Ufac), Juliana Lofêgo.
Medidas como evitar espetacularizar ou romantizar o ato do suicídio ou demonstrar que a prática possa ser uma resposta aceitável às adversidades da vida foi um dos pontos elencados pela jornalista, além de evitar incluir o método, local ou detalhes da pessoa que praticou o ato e limitar as informações aos fatos que o público precisa saber.
Segundo ela, por muito tempo, a imprensa viveu esse tabu. “Só se podia noticiar casos de celebridade. Mas acredito que a gente tem que divulgar sim, porém, da forma correta, com bastante cuidado, de preferência, colocando caminhos para evitar, formas de se aproximar, abordando saúde mental e prevenção, como perceber que a pessoa está entrando em depressão”, destaca.
Para a psicóloga Lenira Pontes, do MPAC, existem alguns traços para se identificar uma pessoa com predisposição ao suicídio, porém, nem sempre eles estão presentes. “Há muitos mitos e verdades, por exemplo, que se a pessoa está falando que vai se matar, ela não tem real intenção disso ou está fazendo drama, e não é assim que acontece. Existem sutilezas que o profissional precisa estar atento para identificar. A questão é que nem sempre as pessoas procuram ajuda profissional”.
Na ocasião, a jornalista Juliana Lofêgo ponderou, ainda, que é preciso ter mais empatia e que, nos dias de hoje, todo mundo é um formador de opinião em potencial com o celular na mão. “As pessoas divulgam coisas absurdas, fotos da vítima, detalhes da situação. Isso tem que se evitar por respeito ao ser humano, à família, à pessoa. O limite é da humanidade mesmo, do respeito ao outro”.