A mandioca é uma cultura tradicional entre muitos povos indígenas fazem dessa raíz uma das principais fontes de alimentação, mas a presença de insetos nos roçados prejudica a produção nas aldeias. Para controlar esse problema, moradores da Terra Indígena Kaxinawá de Nova Olinda, localizada no município de Feijó, participaram de curso sobre insetos benéficos e controle biológico de pragas da agricultura, em novembro. Realizada pela Embrapa Acre, por meio do projeto “Etnoconhecimento e Agrobiodiversidade entre os Kaxinawá de Nova Olinda – Fase II”, a capacitação contou com aulas teóricas e práticas, baseadas na troca de conhecimentos.
Segundo Rodrigo Santos, pesquisador da Embrapa e coordenador da atividade, muitas espécies de insetos, incluindo uma diversidade de pequenas vespas, ajudam no controle de insetos-pragas da agricultura. “Considerados inimigos naturais, essas vespas utilizam outros insetos como hospedeiro para depositar seus ovos e completar seu ciclo de vida. Ao saírem dos ovos, as larvas se alimentam do hospedeiro, contribuindo para eliminar a praga e para o equilíbrio na natureza”, explica.
Os moradores das aldeias receberam orientações sobre como identificar insetos benéficos para a agricultura e reconhecer as características e classificação de espécies comuns nas aldeias, a partir de materiais coletados nos roçados. “Além de mostrar a relevância desses insetos para o ecossistema e para o próprio cotidiano indígena, buscamos enfatizar que é possível controlar a presença de pragas nos cultivos agrícolas por meio de inimigos naturais”, destaca a bolsista da Embrapa Eva Maria, uma das ministrantes da capacitação.
Controle de formigas cortadeiras
As atividades práticas abordaram métodos caseiros para o controle de formigas cortadeiras, conhecidas como formigas de roça, nos plantios de mandioca, utilizando sementes de gergelim. “Colocadas no caminho das formigas, as sementes são levadas para o interior do formigueiro, onde se degradam e liberam uma substância tóxica que mata o fungo que se desenvolve no interior da colônia e serve de alimento para as formigas. Na falta de alimento, esses insetos abandonam o formigueiro e saem em busca de outro local para habitar”, explica a bolsista Lídia Cunha, também ministrante do curso.
O controle biológico de formigas cortadeiras nos roçados indígenas já foi tema de outras capacitações. Atividades anteriores orientaram sobre o uso de produtos à base de esterco bovino fervido, calda de pimenta-do reino e uso de um fungo (Penicilium) extraído de laranjas apodrecidas no solo como alternativas para conter o problema.
“Também compartilhamos técnicas que ajudam a controlar os ataques do moleque da bananeira, como o uso de armadilhas tipos “queijo” e “telha”, confeccionadas a partir do pseudocaule da planta, e as infestações do gorgulho do milho, com uso de extrato de cipó vick, planta com elevado potencial inseticida. Os métodos de controle biológico são eficientes no combate a pragas agrícolas e ajudam a preservar os insetos que atuam como inimigos naturais. Disseminar esses conhecimentos é uma forma de reduzir perdas na produção e fortalecer a agricultura nas comunidades indígenas”, afirma.