Pesquisa realizada por professores da Ufac alerta sobre praga de caramujos

Uma pesquisa da Universidade Federal do Acre (Ufac) investigou a invasão de uma praga na cidade de Rio Branco. Sob orientação do professor Edson Guilherme, do Centro de Ciências Biológicas e da Natureza, o estudante do curso de Ciências Biológicas, Marcos Silva de Lima, analisou a invasão do chamado caramujo gigante africano em diferentes bairros da capital acreana. O estudo acaba de ser publicado na revista cientifica Biota Neotropica.

Trazido ao Sul do Brasil na década de 1980, na tentativa frustrada de alternativa mais rentável ao “escargot”, um molusco apreciado na França como iguaria gastronômica, o caramujo africano acabou não sendo aceito no mercado local e descartado irregularmente.

“Não se pode precisar exatamente como esses caramujos chegaram ao Acre. O que se sabe é que foi um transporte passivo, ou seja, não vieram pelas próprias pernas e, uma vez aqui, a infestação, como no restante do país, foi rápida”, explica o professor Edson Guilherme.

Segundo relato dos moradores mais antigos, a presença desses caramujos tornou-se comum nos últimos dez anos.  “Como uma espécie invasora, não pertencente ao Brasil; esse bicho não tem predador natural e logo se transformou em um problema de saúde pública, pelo potencial de transmissão de doenças, e econômico, já que se reproduz facilmente e destrói plantações inteiras”, completa Marcos Silva de Lima.

Pesquisa

A pesquisa de Marcos é fruto de um projeto de iniciação científica idealizado pelo professor Edson Guilherme e desenvolvida com recursos do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), entre os anos de 2015 e 2016, sendo premiada como destaque na área de ciências biológicas e da natureza durante o 25º Seminário de Iniciação Científica da Ufac, em 2016.

O estudo mostra que o caramujo gigante africano (‘Lissachatina fulica’) está presente em pelo menos 26 dos 36 bairros de Rio Branco pesquisados. Os pesquisadores coletaram e enviaram 44 indivíduos vivos ao Laboratório de Referência Nacional para Esquistossomose-Malacologia, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a análise revelou que os animais estão infectados por nematódeos ‘Aelurostrongylus abstrusus’ e ‘Strongyluris sp’, indivíduos que podem causar doenças em animais domésticos (gatos) e selvagens.

“Os resultados da pesquisa apontam para uma ampla infestação dessa praga na cidade de Rio Branco e constata a total ausência do poder público no que diz respeito à implementação de medidas de controle, manejo e conscientização da população com relação aos perigos que essa espécie representa como vetora de doenças e praga agrícola”, avalia o orientador da pesquisa.

Em conversa com os moradores dos bairros contaminados, os pesquisadores verificaram que eles têm consciência da presença do molusco, mas desconhecem sua origem e a forma de manejá-lo adequadamente.

“Existe uma normativa do Ibama para o extermínio dessa espécie, visto que não é nativa do país e, portanto, não tem predador. Mas nós temos, na região, um molusco nativo que pode ser confundido com o africano, daí a importância da ação do poder público nesse combate e extermínio”, destaca Guilherme.

Ele lembra que, além de ser vetor de vermes que acometem animais, o molusco também pode estar contaminado por micro-organismos capazes de afetar o sistema nervoso central do homem, causando meningite, cegueira e problemas intestinais.

“Nas espécies que coletamos, não foi identificada a contaminação dos moluscos com micro-organismos capazes de transmitir essas doenças ao homem, mas como essa é uma praga generalizada, é importante dar continuidade às pesquisas, porque essa é uma possibilidade que não pode ser totalmente descartada. O poder público precisa ficar atento”, conta Marcos.

Equipes de governo são capacitadas para identificar praga que afeta plantio de cupuaçu

O território do Acre está sob risco iminente da entrada de uma praga que afeta frutos do cupuaçu, cacau e cacauí. Trata-se da monilíase do cacaueiro, que pode dizimar até 100% dos frutos dessas culturas. Em virtude disso, o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre (Idaf) realizou nesta sexta-feira, 11, um curso de multiplicadores para identificação da doença.

Agrônomos e técnicos que compõem as equipes do Idaf na região do Vale do Juruá e da Secretaria de Agropecuária do Estado (Seap) foram a clientela da ação.

“Temos a informação oficial do órgão de defesa da Bolívia, o Senasag [Serviço Nacional de Sanidade Agropecuária e Segurança Alimentar], de que em 2015 esse fungo estava a 50 quilômetros da fronteira com o Brasil, no Departamento de Pando”, informa Pedro Arruda, coordenador de identificação de pragas do Idaf.

Desde que a informação foi encaminhada ao governo do Acre, por meio do Idaf/AC, em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) iniciou uma série de ações para evitar que a doença ultrapasse as fronteiras e atinja os plantios brasileiros.

“Estamos fazendo trabalhos de campo e, por meio das atividades de nossos técnicos que foram treinados em Rondônia, demos início a esse curso de multiplicação das informações. Assim, essas equipes estejam aptas a identificar a Monília do Cacaueiro e Cupuaçuzeiro, caso a praga chegue ao nosso Estado”, pontua Arruda.

Doença perigosa para plantios

Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Amauri Siviero, alerta que a doença é perigosa.

“O fungo se espalha muito rápido. Estudos epidemiológicos indicam que ele pode se deslocar em até quatro quilômetros por dia, se o vento for a favor. Ou seja, se em 2015 foi detectado na Bolívia, então percebemos que é iminente a entrada no Brasil. Por isso, estamos nessa força-tarefa para esclarecer as equipes e agricultores, principalmente os que vão e voltam aos territórios do Peru e Bolívia”, destaca Siviero.

A agrônoma Michelma Lima, da Seap, participou da qualificação realizada no auditório do Idaf/AC e destacou a importância do compartilhamento das informações acerca da Monília do Cacaueiro.

“O curso serviu para nos alertar e manter a vigilância fitossanitária nas fronteiras do Brasil, evitando que a Monilíase seja introduzida na Amazônia Ocidental e, protegendo outras regiões. É bom que nós, técnicos, tenhamos esse conhecimento para auxiliar os produtores no que for necessário e evitar a disseminação dessa doença”, comentou Michelma Lima.