Após passar por revitalização e restauro, o Memorial Wilson Pinheiro será entregue pelo governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM), nesta sexta-feira, 20, às 9 horas, em Brasileia.
Participam da solenidade o governador Tião Viana, a prefeita de Brasileia, Fernanda Assem, a presidente da FEM, Karla Martins, a presidente Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia, Francisca Bezerra, e líderes comunitários.
Símbolo da resistência dos trabalhadores extrativistas, o espaço que abriga o memorial está situado no antigo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia, local onde Wilson foi assassinado. No último sábado, 21, completaram-se 38 anos de sua morte. O espaço está localizado na Rua Geny Assis, 269, no Centro da cidade.
Empoderamento comunitário
O projeto do memorial foi proposto pelo sindicato ao governo do Estado, por meio da FEM, em 2008.
O espaço sofreu com as duas alagações que atingiram o município, sendo necessários sua revitalização e restauro. Para isso, o governo Tião Viana investiu mais de R$ 150 mil, com a nova sede e exposição.
Conjunto de obras
Ao todo, serão revitalizados 19 equipamentos artístico-culturais, além da implantação do Museu dos Povos Acreanos na capital. O projeto contempla a política de fomento e salvaguarda dos bens culturais, com investimentos de mais de R$ 40 milhões. Os espaços estão localizados em Rio Branco, Cruzeiro do Sul, Epitaciolândia, Tarauacá, Sena Madureira, Xapuri e Brasileia.
Na região do Alto Acre, em Xapuri será revitalizado o Museu do Xapuri, com investimento de mais de R$ 130 mil, e em Epitaciolândia, a Biblioteca Pública Estadual Elomar de Souza Braga, em mais de R$ 238 mil.
Para Karla Martins, as reformas dos espaços de cultura são fundamentais porque englobam equipamentos de arte, de patrimônio e leitura.
“O Memorial Wilson Pinheiro que estaremos entregando nesta sexta, 20, representa muito para Brasileia porque traz consigo uma memória do município e do sindicalista. Então é importante para a memória da cidade e dos movimentos sociais o governo do Estado entregar esse espaço totalmente restaurado. Englobam esse conjunto de obras o Museu do Xapuri e a Biblioteca de Epitaciolândia, ou seja, são vários investimentos na região na área da leitura e patrimônio. Quero reiterar o convite para que as pessoas se façam presentes nessa inauguração”, comentou a presidente da FEM.
Exposição retrata a luta de Wilson Pinheiro e a formação de Brasileia
A nova exposição do memorial desenhada pela equipe do Patrimônio Histórico da FEM, com consultoria do historiador Marcos Vinicius das Neves e do jornalista Elson Martins, busca mostrar aos moradores da cidade, principalmente para os acreanos, um pouco da formação da cultura seringueira no Acre durante um século em que os seringais foram um meio de vida junto com a formação da cidade de Brasileia.
Para Marcos Vinicius, todo esse processo resultou numa verdadeira aventura épica que foi criar Brasileia, na fronteira do Brasil com a Bolívia, a partir da herança que veio da Revolução Acreana.
Na terceira parte da exposição, serão mostradas a vida do líder Wilson Pinheiro e a luta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia, com ele à frente e Chico Mendes como secretário, junto de centenas de companheiros corajosos e valentes como Valdiza Alencar, uma das primeiras a se juntar na luta pela conquista das reservas extrativistas.
“Essas pessoas realizaram no Acre, vencendo a opressão dos invasores que vinham derrubar a floresta, uma verdadeira revolução. Alcançaram uma grande vitória da demarcação das reservas extrativistas, finalizando esse processo de destruição que infelizmente culminou com a morte de Wilson em 1980 e do Chico em 1988. Esse foi o preço pago por esses líderes para uma conquista tão importante que os acreanos tiveram no fim do século 20”, explicou o historiador.
Wilson Pinheiro
Líder seringueiro e sindicalista, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia.
Na década de 80, os invasores latifundiários defendiam a derrubada da floresta e a expulsão dos seringueiros de suas terras. Foram os seringueiros, ribeirinhos e castanheiros que se uniram para os “empates”.
Um dos líderes dos empates foi Wilson Pinheiro. Mesmo jurado de morte por latifundiários, ele permanecia com sua batalha diária, encontrando no sindicato uma verdadeira fortaleza.
Pinheiro liderou o que ficou conhecido como “mutirão contra a jagunçada”, episódio em que centenas de trabalhadores marcharam contra bandidos que ameaçavam os posseiros da região, preservando, ao mesmo tempo, a floresta. Tomaram dezenas de rifles e entregaram as armas ao Exército. O desfecho do episódio foi trágico – acuados pela liderança de Pinheiro, latifundiários da região mandaram matá-lo na noite de 21 de julho de 1980.