PF divulga áudios entre presidente do Iteracre e cabo eleitoral sobre compra de votos: ‘manda bala’

Nil Figueiredo aprova compra de votos respondendo ‘que maravilha’ e pede para cabo eleitoral continuar com crimes eleitorais. Presidente e mais sete servidores foram presos nesta sexta (19) na Operação Democracia

Áudios divulgados pela Polícia Federal no Acre (PF-AC), nesta sexta-feira (19), mostram uma conversa entre o presidente do Instituto de Terras do Acre (Iteracre), Nil Figueiredo, e um cabo eleitoral sobre a compra de dez votos. No diálogo, o interlocutor informa a Figueiredo que já entregou o dinheiro aos eleitores.

“Maravilha. Manda bala, manda bala. Tem que ganhar, não pode perder não, meu irmão. Tu é doido? (sic)”, responde o presidente do órgão.

Figueiredo foi preso preventivamente nesta sexta durante a Operação Democracia. Além dele, um servidor do órgão também está com prisão preventiva. Outros seis tiveram a prisão temporária decretada.

A PF também cumpriu 22 mandados de busca e apreensão, além de quatro mandados de condução coercitiva de testemunhas expedido pela Justiça Eleitoral do Acre.

A operação foi deflagrada para combater a prática de crimes eleitorais de compra de votos, transporte irregular de eleitores, uso ilegal de instalações públicas para fins eleitorais, peculato e associação criminosa. Ao todo, 100 policiais federais do Acre e também de fora do estado atuaram na ação.

Os votos, conforme a polícia, eram pagos por sacolões, caronas no dia da eleição e também por R$ 50. O combustível e veículos do Iteracre também foram usados para fazer o transporte irregular de passageiros pelos próprios servidores que faziam campanha para Figueiredo.

Em nota, o governador Tião Viana diz que determinou o afastamento de todos os servidores envolvidos nessa operação “até que a denúncia seja esclarecida, para evitar juízo de valor antecipado sobre quem quer que seja”.

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Presidente do Iteracre foi preso preventivamente durante Operação Democracia que apura desvio de verbas e compra de votos — Foto: Reprodução

Reservatório ilegal de combustível

Durante uma coletiva de imprensa na sede da PF-AC, os delegados deram mais detalhes do esquema que funcionava dentro do Iteracre para beneficiar o presidente do órgão durante as Eleições 2018. O candidato recebeu 2.161 votos para o cargo de deputado estadual.

O chefe da Delegacia de Defesa Institucional e responsável pela investigação do caso, Eduardo Maneta, destacou que um reservatório de combustível foi montado na casa da mãe de uma servidora do Iteracre.

O local tinha capacidade para cerca de mil litros de combustível, que era desviado do órgão para abastecer veículos de cabos eleitorais que faziam campanha para Figueiredo.

A PF diz que ainda não fez o levantamento dos valores desviados. Porém, diz que, de setembro até 7 de outubro, quando houve o primeiro turno do pleito, o uso de combustível no Iteracre superou o total usado durante todo o ano de 2017.

“A operação ainda está em andamento, mas, nesta sexta ainda apreendemos combustível desviado. Ainda vamos fazer uma avaliação mais apurada em um segundo momento. Vamos calcular o valor do prejuízo ao erário para que, após as medidas policiais, nós possamos assegurar medidas de ressarcimento do patrimônio público que foi lesado por esse grupo criminoso”, destacou o delegado.

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Delegados deram detalhes sobre o esquema de desvio de verbas e compra de votos no Iteracre – Foto/Quésia Melo/G1

Servidora relata ‘medo’ da polícia em áudio

A PF também divulgou o áudio entre uma servidora e um cabo eleitoral em que ela diz que todos os carros estão indo abastecer no reservatório ilegal, pois temem que a polícia acabe descobrindo o esquema.

A mulher, segundo a polícia, já ocupou o cargo de chefe de gabinete da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Proteção Familiar (Seaprof).

“É porque tem que tirar tudo hoje, porque ‘tão’ com medo (sic)”, diz a servidora. Em seguida, o cabo eleitoral pergunta se tem pessoas “de olho” na esquina do reservatório e diz que a casa não deve ter adesivos do candidato.

Diárias em troca de votos

Além do combustível, o delegado diz que diárias indevidas como se os trabalhadores estivessem em atividade do órgão, mas, na verdade, os trabalhadores faziam campanha eleitoral. Segundo Maneta, o valor pago em diárias aumentou em mais de 257% no período analisado em que Figueiredo era diretor e deixou a presidência para concorrer ao cargo de deputado estadual.

O delegado responsável pelo caso destacou que um grupo criminoso atuava dentro do Iteracre e tinha até divisões de tarefas para a compra de votos durante o pleito. Inclusive, conforme a polícia, às vésperas da eleição, Figueiredo atuava com os próprios cabos eleitorais na compra de votos.

“Os trabalhos continuam e a fase de análise investigativa começa a pleno vapor a partir da data de hoje [sexta-feira, 19]. Não descartamos nenhuma hipótese de que novas fases sejam deflagradas. São vários crimes que eles respondem e se somarmos as penas máximas desses crimes podem pegar até 30 anos de prisão”, afirma.

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PF-AC cumpriu oito mandados de prisão em órgão do governo durante operação que apura compra de votos – Foto/Divulgação/PF-AC