Uma ideia na cabeça, o desejo de empreender e nada no bolso é igual a um restaurante de sucesso

Por Tião Vitor – O objetivo deste texto seria falar sobre os investimentos que são feitos na região da Baixada do Sol, uma das mais densamente habitadas de Rio Branco, com cerca de um quarto da população da capital. O restaurante Baixada do Sol, localizado na rua Campo Grande, no bairro João Eduardo, seria um desses novos investimentos. Mas o foco da matéria mudou quando entrevistamos o seu proprietário, o empresário Alessandro Avelino. A história que ele conta é o exemplo fiel de um homem empreendedor. É o retrato de alguém que acredita nos seus sonhos e que não desiste diante os primeiros obstáculos.

O restaurante que fundou há três anos é um grande sucesso na baixada. Em dias da semana, serve uma média de 250 refeições. Nos finais de semana, esse número se aproxima das 500 refeições.

Tanto sucesso se deve a alguns fatores. O primeiro e o mais importante, é a qualidade e variedade dos pratos servidos. Essa qualidade é garantida pelo próprio Alessandro, que diz não saber cozinhar nada.

“Eu sempre comi muito fora e tenho um bom paladar. Então, eu procurei trazer para o meu restaurante o que acho que é bom e, da mesma forma, procuro deixar longe dele, aquilo que considero ser ruim”, explicou Alessandro.

Outro fator é o preço. O prato livre sai por apenas R$ 15 durante a semana e R$ 16 nos fins de semana. Para região, esse é um valor considerado acessível. Por último, o atendimento que não deixa a desejar a nenhum restaurante fino do centro da cidade. Esse também é um elemento controlado de perto pelo empresário. Alguns dos atendentes estão com ele há bastante tempo e são tratados como se fossem membros de sua família.

“Demorei muito para montar essa equipe e hoje tenho orgulho de cada um dos profissionais que trabalham comigo.”

A Baixada do Sol

Vamos agora situar o leitor sobre a Baixada do Sol para que entenda melhor a importância do empreendimento de Alessandro para a região.

Como dito acima, a Baixada do Sol é uma das mais populosas de Rio Branco. Estima-se que ali vivam algo entre 80 e 90 mil pessoas distribuídas em 18 bairros localizados na parte baixa da cidade, nas proximidades do rio Acre.

Apesar disso, a Baixada sempre foi muito carente dos serviços públicos. Sempre foi relegada para segundo ou terceiro plano quando se trata de investimentos dos governos federal, estadual e prefeitura. Mas as necessidades são muitas, já que grande parte de sua população é composta de pessoas carentes, com pouco poder aquisitivo.

Os investimentos mais recentes são a Unidade de Pronto Atendimento da Sobral, o Restaurante Popular e a urbanização de um igarapé nos moldes do parque da Maternidade. Essa obra, no entanto, ainda não foi totalmente concluída. Em alguns trechos, o igarapé continua um depósito de lixo disseminador de pragas e doenças como a dengue e leptospirose, entre outras.

A região suscita preconceito. É sempre vista como local de muita criminalidade, tráfico de drogas e prostituição. Em parte, isso é verdade e se deve, justamente, pela ausência do Estado. Mas crime, drogas e prostituição não é exclusividade da Baixada. Estão presentes em todo o Estado em maior ou menor grau.

Não muito tempo atrás, a região era chamada de Baixada da Sobral, em referência ao bairro Sobral. O argumento para a mudança de nome foi para contemplar todos os bairros, mas também serviu para tirar da mente das pessoas a imagem negativa que a Baixada tinha, ou tem, ainda.

O sonho de ver a Baixada crescer

Agora vamos situar o leitor a respeito do que levou Alessandro a investir na Baixada ao invés de algum outra região tida como mais rica de Rio Branco. De acordo com ele, desde menino, desejava fazer alguma coisa para acabar com esse estigma sobre a região que morava.

“Eu tenho 38 anos, moro nessa região desde os três anos, mas sempre tive o sonho de ver essa região crescer e se desenvolver. Por isso, nunca me passou pela cabeça montar o restaurante em qualquer outra parte da cidade. Tinha que montar aqui, dando certo ou não”, revelou. “Quando estava me preparando para montar, procurei não falar a respeito com muita gente, pois todos me diziam que estava fazendo um mal negócio, me aconselhavam para procurar outro bairro longe da Baixada. Não falava nem para os meus pais, já que até eles não acreditavam muito nesse empreendimento”.

Senta que lá vem a história

A parte interessante desta matéria vem agora. É a parte de como surgiu a ideia e o que faz a história de Alessandro tão interessante. Para começar, vamos revelar quanto foi investido para a montagem do restaurante, de acordo com o que foi relatado pelo seu proprietário: mais ou menos R$ 80 mil, tudo investido em exatos 40 dias, ou seja, de 29 de novembro de 2016, quando o espaço começou a ser preparado até o dia 07 de janeiro de 2017, quando foi inaugurado. O detalhe é que Alessandro tinha menos de R$ 100 em sua conta bancária em dezembro de 2016.

“Eu olhei na minha conta e vi que tinha R$ 27 na conta. Além disso, eu vinha de um período ruim, pois havia saído de um relacionamento e, por consequência, estava em situação financeira não muito boa, também.

“Eu não tinha dinheiro, mas sabia que a ideia era boa, que ia dar certo o meu restaurante. Então, busquei alternativas para colocar a ideia em pauta.”

Certo dia, em meados de 2016, Alessandro passou em frente a um prédio que estava sendo finalizado na rua Campo Grande. Viu que aquele seria um bom lugar para montar um restaurante. “Me deu um estalo de momento e eu vi que aquele era o lugar, que aquela era a minha oportunidade”.

O empresário resolveu buscar o dono do imóvel para alugar o grande salão do térreo. Ele foi audacioso e pensou alto, sem dúvida alguma que poderia fracassar em seu intento.

“Eu falei com ele que queria alugar, disse que pretendia montar um restaurante no local e ele concordou. Propus, então, fazer um contrato de cinco anos. Isso porque imaginei que, se desse certo, ele poderia, pouco tempo depois, querer refazer o contrato com um valor bem mais alto para o aluguel”, contou. “Eu não tinha dinheiro, não tinha experiência administrativa e não sabia cozinhar, mas já tinha definido até o dia que ia inaugurar”, revelou.

Quando já estava tudo encaminhado, faltava o dinheiro para montar o restaurante. Pensou em procurar o Serviço de Apoio às Pequenas e Médias Empresas (Sebrae). Entrou no carro e partiu para o centro da cidade, local onde ficava a sede da instituição. No meio do caminho, se deu conta que não levava nada em mãos para apresentar aos consultores. Decidiu aí que teria que levar ao menos um orçamento dos equipamentos, moveis e utensílios que usaria no restaurante. Mudou de rota e passou a fazer uma coleta de preços. Foi aí que tudo mudou. Foi aí que ele percebeu que o seu sonho poderia ser concretizado. Alessandro descobriu que não precisava de muito dinheiro para comprar tudo que precisava, pois poderia parcelar tudo em vários meses. Precisava apenas de um capital para dar a entrada, mas apenas em alguns casos. Em outros, conseguiu comprar sem dar entrada.

O dinheiro para tanto, ele conseguiu com o pai. R$ 9 mil foi o que o pai lhe deu com a promessa de devolver o quanto antes.

“Eu falei para o meu pai que estava decidido a montar o restaurante e pedi a ele que me ajudasse. Pedi pra ele que fizesse um empréstimo pra mim. Fiquei dias argumentando com ele, até que ele cedeu e conseguiu esse dinheiro.”

Como prometido, o restaurante inaugurou no dia 7 de janeiro e não demorou muito para cair no gosto dos clientes da região. Pouco tempo se passou para que ficasse conhecido em toda a cidade, recebendo clientes de outras partes de Rio Branco que procuravam o local atraídos pela qualidade, preço justo e bom atendimento.

“Hoje eu recebo aqui todo mundo, do cidadão mais humilde, ao empresário, político e até artistas”, comemora. “Já teve caso de vim aqui um cantor que fazia show na cidade. Ele queria comer em um lugar legal e perguntou ao motorista da van que alguma sugestão. O motorista era cliente nosso, então o trouxe para cá. Fiquei muito orgulhoso nesse dia.”

Segurança garantida

Outra boa estratégia usada por Alessandro para atrair clientes para o seu restaurante foi a que incentivou a presença de membros das forças de segurança do Estado no local. Ele faz um preço mais baixo para qualquer um desses profissionais que apareça para o almoço fardado.

“As pessoas sempre acharam que a Baixada é um local muito perigoso. Mas aqui eles se sentem tranquilos, pois sempre tem um policiais militares, policiais civis, agentes penitenciários e policiais rodoviários federais almoçando aqui.”

Apoio do Sebrae

Alessandro não pode contar com o apoio do Sebrae quando foi abrir seu restaurante, mas ele não abriu mão da ajuda que a instituição lhe daria. Quando o negócio começou a engrenar, ele procurou o Sebrae para obter consultoria. Também participou de cursos e treinamentos que estão sendo fundamentais para manter o restaurante com a qualidade que o qualificou como um dos melhores da cidade.

… e o sonho continua

O sonho de Alessandro se concretizou e é um sucesso. Ele se mostrou um exemplo de empreendedor, um empregador exemplar e um empresário que acredita no potencial da comunidade em que vive.

Alessandro continua sonhando e já planeja instalar uma filial do restaurante, um sonho que deve ser concretizado em pouco tempo.

Perguntado se a filial seria em outro bairro, ele exclamou: “Nunca! Jamais! Quando montar o novo restaurante, com certeza, vai ser aqui na baixada”.