‘Auxílio emergencial necessita de contrapartidas’, dizem especialistas da FGV

A gravidade da crise econômica causada pela covid-19 torna necessário que o governo federal adote alguma medida de compensação de renda, como a reedição do auxílio emergencial. Só que o cenário de piora nas perspectivas para a economia, com perda de fôlego na retomada, inflação mais pressionada e juros em alta, ao mesmo tempo que o rombo nas contas públicas só aumenta, exigiria ter contrapartidas em termos de contenção de gastos públicos com outros fins, disseram especialistas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), em seminário online organizado em parceria com o Estadão.

Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro Ibre, vê um quadro de “pandemia meio fora de controle”, responsável por dar “fôlego curto” para a retomada da economia verificada no segundo semestre do ano passado – o Ibre/FGV já projeta, para este início de ano, retrações do Produto Interno Bruto (PIB, todo o valor gerado na economia em determinado período). Diante disso, a vacinação seria a melhor política econômica para garantir a retomada da economia, porém o ritmo de imunização está lento, afirmou a economista.

“Se não tivéssemos nova rodada de pandemia, poderíamos estar falando de revisões para cima no crescimento”, afirmou Silvia, durante o 1.º Seminário de Análise Conjuntural de 2021 do Ibre/FGV, realizado ontem.

Para descrever a gravidade do cenário atual, ela lembrou que esta é a primeira vez que a economia brasileira afundou numa crise sem ter se recuperado da anterior. Isso porque o lento crescimento econômico de 2017 a 2019 foi insuficiente para recuperar o tombo verificado na recessão de 2014 a 2016. Além disso, para piorar, o País entrou na crise da covid-19 com o mercado de trabalho frágil, marcado pela elevada informalidade. “A taxa de desemprego deve ficar mais em torno de 15,5% como média do ano em 2021, chegando até 16%.”

Por isso, para ela, seria possível o governo federal, de um lado, reeditar o auxílio emergencial para apoiar esses trabalhadores mais vulneráveis e, ao mesmo tempo, sinalizar com contrapartidas em termos de corte de gastos com outros fins. Diante desse impacto heterogêneo no mercado de trabalho, os servidores públicos não perderam seus empregos nem tiveram salários reduzidos, lembrou a pesquisadora.

Ou seja, o governo federal poderia ter insistido na redução de salários do funcionalismo como gatilho da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que autoriza a reedição do auxílio emergencial. A PEC foi aprovada na semana passada no Senado e, agora, será apreciada pela Câmara.

Contas

A incerteza em relação ao equilíbrio das contas públicas tem batido no mercado financeiro. Com o risco país e o dólar em alta, já há reflexos em termos de pressões inflacionárias. Para José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV, o ambiente econômico “está muito deteriorado” e, por isso, a taxa básica de juros (Selic, hoje em 2,0% ao ano, na mínima histórica) tem de ser ajustada para cima.

“Existe a possibilidade de uma alta (da Selic) produzir um efeito amenizador”, afirmou Senna, também durante o seminário, ressaltando que, em sua avaliação, uma alta da Selic no curto prazo não teria um impacto tão ruim sobre a atividade econômica.

Além disso, o ambiente piorou nos mercados internacionais. Segundo Senna, nas últimas semanas, as taxas dos títulos de dez anos da dívida pública dos Estados Unidos também subiram “de maneira expressiva”, “chacoalhando” as cotações de ações. Tudo por causa da expectativa de alta da inflação na economia americana, diante do efeito do pacote fiscal de US$ 1,9 trilhão sobre o crescimento. Os efeitos deverão ser sentidos no mundo todo, com elevação de juros em vários mercados, o que eleva a pressão por altas no Brasil também.

Para Senna, essa alta de juros nos títulos americanos tende a ser temporária, e não preocupa tanto. Já para Armando Castelar, coordenador da Economia Aplicada do Ibre/FGV, o quadro preocupa mais. O pesquisador chamou essa deterioração dos mercados externos como a “grande novidade recente” no cenário econômico.

Com o quadro mais difícil tanto no exterior quanto no Brasil, Castelar lembrou ainda que “pegou mal” a crise na Petrobrás – causada pela indicação, pelo governo, do general Joaquim Luna e Silva para substituir Roberto Castello Branco na presidência da petroleira, após o presidente Jair Bolsonaro criticar a política de preços de combustíveis da estatal. Segundo Castelar, a crise com a Petrobrás trouxe a ameaça de “populismo” para a política econômica.

Para o pesquisador do Ibre/FGV, existe o risco de a política monetária “entrar no radar do populismo”, apesar da aprovação recente de legislação que dá autonomia formal para o BC. Nas projeções de Castelar, a Selic chegará ao fim deste ano em 5,5%, mais do dobro do nível atual de 2,0%. O ciclo de alta de juros oferece um “enorme espaço” para ruídos políticos, criados por possíveis críticas de outros membros do governo, de fora do BC.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Bolsonaro prega cautela com auxílio para não virar “paraíso da agiotagem”

Ao falar sobre gastos com auxílio emergencial, que podem atingir até R$ 150 bilhões, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que irá vetar eventual lei que prevê o pagamento de mais duas parcelas do benefício de R$ 600. Bolsonaro pediu ainda cautela com os gastos para que o Brasil não vire o “paraíso da agiotagem legalizada”.

“A terceira (e em princípio, a última) parcela do socorro emergencial de R$ 600 são, aproximadamente, 50 milhões pessoas e a conta é maior que R$ 30 bilhões. Mas deve chegar, nos três meses, a R$ 150 bilhões”, disse Bolsonaro, durante transmissão de live, nas redes sociais.

“Não se pode gastar mais, gostaria de gastar, mas se endividar muito, a gente extrapola a capacidade de endividamento. Se não tivermos cuidado, a Selic pode subir, vira o paraíso da agiotagem legalizada e cada vez mais a riqueza vai para pagar juros das dívidas. A gente tem que ter responsabilidade. Se a Câmara passar para R$ 400, R$ 500 ou voltar para R$ 600, qual vai ser a minha atitude para que o Brasil não quebre? Se pagar mais duas de R$ 600, vamos ter uma dívida cada vez mais impagável… é o veto”, alertou.

Lançado em abril para assegurar uma renda para trabalhadores informais e famílias de baixa renda em meio à pandemia, o auxílio emergencial do governo federal soma cerca de R$ 123 bilhões em recursos orçamentários. O benefício será pago, inicialmente, em três parcelas. No momento, o governo executa o pagamento da segunda parcela do programa.

Fala de Trump

Durante a live, Bolsonaro também minimizou a afirmação do presidente americano Donald Trump, que havia dito na semana passada que se os EUA tivessem seguido estratégia do Brasil no combate ao coronavírus teriam perdido até 2 milhões de vidas.

“Se o Trump falou isso mesmo, realmente a política é dos governadores e prefeitos, a responsabilidade é deles. A nossa foi recurso. A gente deve chegar ao total do gasto disso tudo. Não é apenas a saúde, é rolagem de dívidas, socorro a estados e municípios.

Os Estados Unidos são o país do mundo com o maior número de casos do novo coronavírus, com 1,9 milhão de infecções e mais de 112,9 mil mortos.

Já o Brasil é o segundo do mundo em número de casos, com 787.489 pessoas infecções confirmadas pelo Ministério da Saúde e 40.276 mortes, de acordo com números coletados pelo consórcio de imprensa.

Em resposta à decisão do governo Jair Bolsonaro de restringir o acesso a dados sobre a pandemia de Covid-19, os veículos de comunicação UOL, Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo, G1 e Extra formaram um consórcio para trabalhar de forma colaborativa a partir desta semana e buscar as informações necessárias diretamente nas secretarias estaduais de Saúde das 27 unidades da Federação.

O governo federal, por meio do Ministério da Saúde, deveria ser a fonte natural desses números,mas atitudes recentes de autoridades e do próprio presidente colocam em dúvida a disponibilidade dos dados e sua precisão.

economia.uol

Auxílio emergencial: Caixa libera 2ª parcela para nascidos em agosto

 Caixa Econômica Federal encerra no próximo sábado (13) o calendário de liberação de saques e transferências da segunda parcela do auxílio emergencial de R$ 600 (R$ 1,2 mil para mães solteiras). Hoje (8), será feita a liberação para 2,6 milhões de beneficiários nascidos em agosto.

O dinheiro visa reduzir os efeitos do novo coronavírus nas camadas mais necessitadas. A liberação do saque e a transferência da poupança social da Caixa para outros bancos estão sendo feitas de acordo com o mês de nascimento dos beneficiários. Os recursos estão sendo transferidos automaticamente para as contas indicadas.

Amanhã (9), será liberado o saque para 2,6 milhões de beneficiários nascidos em setembro; na quarta-feira (10), para 2,6 milhões nascidos em outubro; na quinta-feira (11), feriado, não haverá liberação; na sexta-feira (12), para 2,5 milhões nascidos em novembro; e no sábado (13), para 2,5 milhões nascidos em dezembro.

Segundo a Caixa, quem não sacar o auxílio nesse período continua com o crédito disponível nas contas indicadas e poderá realizar o saque, independente do dia de nascimento, a partir da próxima segunda-feira (15).

A transferência dos valores será feita para quem indicou contas para recebimento em outros bancos ou poupança existente na Caixa. Com isso, esses beneficiários poderão procurar as instituições financeiras com quem têm relacionamento, caso queiram sacar.

Segundo a Caixa, mais de 50 bancos participam da operação de pagamento do auxílio emergencial.

Todos os beneficiários do Bolsa Família elegíveis para o auxílio emergencial já receberam o crédito da segunda parcela.

agenciabrasil