Saiba lidar com a ansiedade de um novo ano

Para muitos, a chegada de um novo ano representa esperança, prosperidade e expectativas positivas. É como se tivéssemos a chance de recomeçar. De fazer tudo diferente e melhor. Novas promessas, novos planos… E aí vem a ansiedade a todo vapor, especialmente para pessoas que já têm a propensão. O anseio por renovação, seja no lado pessoal ou profissional, pode desencadear a sensação de preocupação excessiva, desconforto e angústia.

Dependendo do grau de ansiedade, a mente não para de martelar pensamentos ruins e negativos. Típico da pessoa extremamente insegura, que costuma pensar em muitas coisas ao mesmo tempo, sempre com um toque de pessimismo. E o que fazer para controlar essa inquietação, evitar o desgaste e tentar relaxar?

Uma das tendências da pessoa ansiosa é querer fazer várias atividades simultaneamente. Com isso, se “atropela” e não consegue finalizar nada, gerando mais agonia. Querer dar conta de tantas coisas ao mesmo tempo é um chamariz para a ansiedade. Evite marcar milhões de compromissos e foque naquilo que for prioridade. A mente e o corpo agradecem!

Outro ponto importante é a ingestão de bebida alcoólica. O álcool é um depressor do sistema nervoso central. Uma droga psicoativa que altera a percepção da pessoa, pois bloqueia a transmissão de mensagens dos receptores nervosos para o cérebro. Quando a pessoa bebe, se sente relaxada, pois sua percepção diminui. No entanto, o consumo regular reduz os níveis de serotonina no cérebro, um dos neurotransmissores responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar. Sendo assim, o álcool agrava a ansiedade e, principalmente, a depressão. Mesmo fazendo parte das celebrações de fim de ano, o ideal é evitar a bebida alcoólica. Ou, ao menos, não exagerar.

Uma boa (e simples) dica para diminuir a ansiedade é fazer, diariamente, algo que lhe proporcione prazer, alegria. Seja ouvir música, ler um livro, caminhar, meditar, assistir a um filme, praticar uma atividade física… Enfim, qualquer coisa que, de preferência, seja saudável e te faça bem!

Já a privação do sono, prejudicial para qualquer um, é ainda pior para os mais ansiosos. Dormir mal ou pouco pode causar sonolência excessiva diurna, mau humor, fadiga, falta de atenção, dificuldade para retenção de informações novas, queda de produtividade, entre outros. Portanto, mude sua rotina à noite. Comece a se deitar sempre no mesmo horário, se possível. Evite qualquer tipo de iluminação no quarto. Quando não há luz, a retina envia informações para uma região do cérebro, o hipotálamo, que manda uma mensagem até o epitálamo, fazendo com que a glândula pineal libere melatonina, um neuro-hormônio que faz parte do nosso ritmo biológico, promovendo o sono na ausência de luz. Outro exemplo é o barulho. Os ruídos ativam o sistema nervoso central e dificultam o indivíduo a entrar nos estágios iniciais do sono. Já a alimentação deve ser mais leve à noite, para que a digestão, mais lenta neste horário, não prejudique o sono. Bebidas à base de cafeína e álcool são estimulantes, fazendo com que a pessoa tenha insônia ou uma noite mal dormida. Em tempo: por razões óbvias, apenas desconsidere as dicas sobre o sono nas noites de Natal e Réveillon! Divirta-se e desencuca!


artigo perfilProf. Dr. Mario Louzã, médico psiquiatra, doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg, Alemanha, e Membro Filiado do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo

Quem irá nos defender?

Nos primeiros dias de sua gestão neste quadriênio, o diretor superintendente do Sebrae no Acre, Mâncio Cordeiro, surpreendeu sua equipe de trabalho, cerca de 100 funcionários, a maioria com nível superior, fazendo duas perguntas que fazemos a nós mesmos nos primeiros dias de nossas vidas: o que gostaríamos de ser quando crescermos e quem irá nos defender do perigo iminente?

A segunda pergunta parece ter vindo de uma premonição. Nunca o Sebrae e todo o Sistema S estiveram tão ameaçados, por incongruência, justamente diante de um governo que se declara a favor de um Estado enxuto, com maior presença da iniciativa privada, do empreendedorismo.

O Sebrae e os demais parceiros do Sistema S foram idealizados justamente para preparar a sociedade aos caminhos do empreendedorismo, para que os cidadãos tenham uma alternativa de sobrevivência sem a carteira assinada, sem ser empregado, sem ser dependente da controversa relação empregado e empregador.

Quem não reconhece a importância de instituições como o Sesi, o Senai, o Sesc, o Senac e o Senar? São entidades que fazem o serviço social e disseminam o ensino profissionalizante nas áreas do comércio, serviços, indústria e rural. O Sebrae atua na propagação do empreendedorismo incentivando os micro e pequenos negócios, com mais de 10 mil clientes no Acre.

O futuro superministro da Economia, Paulo Guedes, em conferência para dirigentes do Sistema S no Rio de Janeiro deixou claro que é daqui que vai retirar mais dinheiro em nome da recuperação do País. Vai retirar até 50% dos recursos que sustentam estas instituições.

Lá atrás, quando um incêndio destruiu o patrimônio do Museu Nacional do Rio de Janeiro, uma tragédia que entristeceu toda a Nação, o presidente Michel Temer anunciou de imediato a liberação de R$ 400 milhões para ajudar as obras de recuperação, subtraídos dos recursos do Sebrae. Não é preciso ir para a votação no Congresso, é só sacar na hora que quiser.

Este corte orçamentário não atingiu em nada as atividades do Sebrae no Acre até porque as metas traçadas em 2015 já foram dimensionadas para um cenário de crise, segundo Mâncio Cordeiro.  O Sebrae no Acre trabalha com as contas abertas ao público, é só pesquisar na internet, lá tem as receitas e despesas, os salários dos colaboradores e dos diretores.

Para quem não se lembra, na gestão desta diretoria que entrega o mandato em 31 de dezembro, aconteceu a maior cheia do rio Acre nos últimos 30 anos. O comércio na beira do rio foi totalmente destruído tornando crucial a interferência do Sebrae na recuperação dos pequenos negócios.

O artesanato acreano tornou-se o mais vendido do Brasil viajando pelas asas do Sebrae no Acre.  O Sebrae também tem presença forte no fortalecimento da cadeia do leite, da farinha de Cruzeiro do Sul e do bambu entre outras atividades do agronegócio.

A organização em nosso Estado é por demais reconhecida e nesta gestão foi classificada pela Fundação Nacional da Qualidade entre as cinco melhores unidades estaduais do Sebrae no Brasil. Isso tudo graças a um roteiro desenhado numa reunião de planejamento estratégico e posto em prática com liberdade e criatividade.

Agora respondendo à pergunta inicial do diretor superintendente Mâncio Cordeiro, eu saio em defesa do Sebrae no Acre.


PERFILNilda Bernardo é jornalista e ex-assessora de comunicação do Sebrae no Acre

Sempre cabe mais um

Quando menino, morador do Irajá, estudante de escola pública, e, à época, de mudança para a Tijuca, meus pais conseguiram para mim e duas irmãs mais novas matrículas em escolas do bairro. Para sairmos do Irajá, pegávamos o bonde até Madureira, de onde embarcávamos no trem “Deodoro 13”. O trem já chegava lotado, mas sempre havia espaço para mais um. O apelido do trem era “Coração de mãe”.

Ao sair de casa com as irmãs, nossa mãe renovava os cuidados: “Não aceitem balinhas, não sentem no colo de ninguém, não conversem com desconhecidos e não larguem as mãos um dos outros”.

Achávamos que essa dificuldade no trajeto seria por pouco tempo, mas o proprietário do apartamento que meu pai comprara não entregava o imóvel, e foram quase dois anos vivendo um período cheio de aventuras e surpresas.

Com o tempo, ficamos conhecidos no trem e éramos protegidos pelos passageiros habituais. Das recomendações, só se manteve a de não sentar no colo da ninguém. Minha mãe já se preocupava com as ações de tarados, e eu ficava de olho em minhas irmãs, presas fáceis de gente mal-intencionada. Nesse trem, aprendemos a nos defender, a ser gentis, solidários e a nos adaptar às circunstâncias da vida.

Naquela época, ir para a capital era o sonho de milhares de nordestinos que buscavam vida melhor para suas famílias. Parecíamos estrangeiros, reconhecidos pela cabeça chata, baixa estatura e sotaque carregado.

Nesses tempos de conflitos em muitos países, a fuga é a solução. Vivem assim árabes, sírios, africanos, venezuelanos e tantos outros povos dominados pela intolerância de governantes ou disputas internas que causam o caos e milhares de mortos e feridos que, desesperados, enfrentam a violência, o perigo, o desabrigo de idosos, mulheres e crianças.

O Brasil sempre esteve pronto para abrigar os que nos procuram. Foi assim que construímos uma nação miscigenada e multicultural. No nosso território convivem livremente todas as origens, credos, sexos e gêneros. Só recentemente se instalou o confronto entre nós, gerando insegurança e medo.

Com a fragilidade do povo, os bandidos formaram quadrilhas e milícias de grande porte, até mesmo nos altos escalões da Republica. Não vivemos em paz.

Há algum tempo, estive na Palestina e ouvi de uma brasileira a súplica para retirar de lá o seu filho de 15 anos e mandá-lo para os Estados Unidos; perguntei-lhe por que não o Brasil? A resposta foi dura: “Lá não, é muito violento!”.

No entanto, milhares de imigrantes desejam vir para cá, onde ainda há esperança.

São essas pessoas que poderão se juntar a nós para restauramos a dignidade e a tranquilidade dos tempos em que recebemos refugiados de guerras e outras tragédias.

O Brasil é o trem “Deodoro 13” lotado nas grandes cidades, mas com muito espaço para ser ocupado. O nosso gigante pela própria natureza não pode deixar de abrir suas portas para receber imigrantes, devendo abrigá-los no interior onde construirão seus lares, educarão seus filhos, produzirão em pequenas propriedades, garantido a eles o direito de ir e vir e de serem felizes. Que venha o novo governo com sua mensagem de fé e esperança.


Paulo Castelo Branco é sócio-fundador do escritório Paulo Castelo Branco Advogados Associados. Foi Conselheiro Seccional e Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, e Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.

Bolsonaro verá realidade se impor a discurso em sua relação com o Congresso

O presidente eleito, sob o argumento de que a estrutura partidária está viciada e só age à base do toma lá dá cá, fez campanha prometendo que não negociaria com os partidos a formação de seu governo. Mas, tão logo eleito, passou a negociar indicações com as bancadas informais, temáticas ou transversais, que se articulam no Congresso para a defesa de interesses setoriais.

Na formação do primeiro escalão de seu governo, aparentemente foi coerente, na medida em que não consultou os partidos nos casos em que recrutou filiados em alguns deles. Entretanto, há três equívocos nesse raciocínio, que precisam ser explicitados, além de mostrar a mistificação retórica que isso representa.

O primeiro equívoco consiste em dizer que a negociação com as bancadas informais são republicanas e não se dão em bases fisiológicas, como supostamente ocorreria em relação aos partidos. É preciso conhecer o que significam ou o que representam os partidos e as bancadas informais para compreender o desacerto dessa opção ou escolha.

Os partidos, por sua gênese, guiam-se por uma doutrina, seguem princípios e, no exercício da sua função precípua de agregação de interesses, estão aptos a representar toda a sociedade. Apresentam programas e ideias que orientam os mandatos de seus representantes na formulação e implementação de políticas públicas, atendendo a uma multiplicidade de interesses, enquanto as bancadas informais são grupos de pressão dentro do Parlamento, que se organizam para articular interesses específicos dos segmentos que representam, sempre condicionando seu voto ao atendimento de suas demandas e reivindicações setoriais.

Logo, não existe nenhuma base para se afirmar que as bancadas informais seriam menos interessadas em favores do governo do que os partidos. Pelo contrário, pela sua própria natureza, elas representam de forma mais direta os lobbies do que os próprios partidos.

Se a negociação dos conteúdos das políticas públicas, bem como do seu processo de votação, fosse transferida dos partidos para as bancadas informais, como ficariam os segmentos da sociedade que não estivessem organizados em bancada dentro do Parlamento? Ficariam sem voz nem vez? A quem interessaria o esvaziamento dos partidos, especialmente no momento em que a sociedade defende uma reforma política que teria exatamente o condão de fortalecer e empoderar os partidos, inclusive para cobrar deles, e não dos parlamentares individualmente, os compromissos programáticos, além de baratear os custos de campanha, dar equidade na disputa eleitoral e reduzir a corrupção eleitoral?

O segundo equívoco consiste em achar que as bancadas informais terão mais controle sobre os parlamentares do que os partidos. Tudo no Congresso gira em torno dos partidos. Não há institucionalidade no processo legislativo fora dos partidos, e mesmo no caso de partidos em que há um líder forte, centralizador, o funcionamento parlamentar obriga esse líder a dividir o exercício do poder. Já as frentes parlamentares ou bancadas informais não possuem nenhum controle sobre os seus integrantes, nem mesmo possibilidade de constrangê-los ou puni-los caso ajam em desacordo com a sua recomendação. O único elo que une seus membros é, precisamente, a subordinação ao interesse temático que representam.

Os partidos, ao contrário, possuem muitos poderes e prerrogativas que vão desde o exercício do monopólio da disputa eleitoral e do exercício do mandato, na medida em que o mandato pertence ao partido e não ao eleito no pleito proporcional, passam pela orientação e encaminhamento de votação, pela designação de relatores e indicação de nomes para compor ou presidir colegiados no Parlamento, até o poder de fechar questão e punir aqueles que agirem em desacordo com a orientação partidária.

O terceiro equívoco consiste em imaginar que os partidos e suas lideranças irão abrir mão de suas prerrogativas e se curvar aos caprichos do presidente eleito, permitindo que o governo se relacione com seus parlamentares sem observância do programa, da doutrina ou da orientação partidária. Esse entendimento se agrava sob o fundamento negativo de que prefere as bancadas informais aos partidos porque estes supostamente não seriam éticos e republicanos.

Além disso, a retórica governamental de que estaria sendo coerente com o que prometeu na campanha perderá consistência na fase seguinte à formação do primeiro escalão. Aliás, o novo governo já iniciou a conversa com os partidos sobre as propostas governamentais e também na formação do segundo escalão. E nessas conversas sinalizou que terá mais políticos derrotados em seu governo do que qualquer outro presidente no período pós-redemocratização.

Entretanto, o argumento para acomodar os políticos que fracassaram nas urnas, especialmente os deputados e senadores, é de que eles serão chamados a colaborar com o governo, principalmente na coordenação política, não porque pertencem aos partidos, mas porque têm capacidade de articulação ou possuem expertise para os cargos para os quais serão designados. Mais uma vez, é a lógica de aliar-se a “lobistas” em lugar de partidos, pois imagina que, agindo individualmente, esses ex-parlamentares terão acesso facilitado ao Parlamente e, assim, atuarão no “varejo” para o atendimento das demandas governamentais, evitando o “atacado” das negociações com as lideranças dos partidos.

O pior é que muitos jornalistas e analistas políticos, sendo aderente às teses do novo governo, numa postura claramente chapa branca, têm admitido que o presidente eleito pode acabar com o presidencialismo de coalização, como se ele tivesse eleito uma bancada com número suficiente para governar. Ora, enquanto os governantes não elegerem, em sua coligação, base de apoio suficiente para governar, terão que construí-la mediante coalizão, ou seja, por meio do emprego dos três instrumentos tradicionais do presidencialismo brasileiro: cargo, emendas do orçamento e negociação do conteúdo da política pública. E os interlocutores sempre foram, e continuarão sendo, os partidos políticos.

O novo governo, mais do que nunca, vai precisar de apoio parlamentar para implementar sua agenda impopular e contrária às expectativas da população, que espera medidas efetivas para combater a violência e a criminalidade. Mas, também, melhorar o emprego e a renda, ampliar e melhorar a qualidade dos serviços públicos, além de combater a corrupção. Com excesso de demanda e escassez orçamentária, combinado com o voluntarismo, a belicosidade e a inexperiência da nova equipe, queremos ver como o novo governo fará para – em contexto democrático – levar à frente o ajuste fiscal, com corte drástico de despesa, de um lado, e atender as demandas que implicam aumento de gastos, de outro.

O viés autoritário do governo, para usar uma expressão em moda, está presente na indicação de seus ministros, que, com exceção da equipe econômica, foram escolhidos mais por sua agressividade aos adversários de campanha do candidato eleito do que propriamente por sua capacidade ou compromisso em resolver os graves problemas do país. Aliás, a agenda liberal/fiscal e penal do governo em nada combina com as expectativas da população, em geral, e de seus eleitores, em particular.

Além disso tudo, o novo governo pretende articular-se para viabilizar uma série de modificações regimentais para retirar a possibilidade de obstrução da oposição. Seriam pelo menos três alterações regimentais: acabar com a votação automática das emendas aglutinativas, impedir o encaminhamento de votação nos requerimentos de quebra de interstícios, e admitir a liberdade para o presidente prorrogar as sessões extraordinárias pelo tempo que considerar necessário à conclusão da pauta de votação.

O pano de fundo para a certeza de que fará o que deseja e de que terá maioria para governar é o de que o governo, com o respaldo advindo das urnas, teria legitimidade e força política para pressionar os parlamentares, individualmente ou via bancadas informais, para agirem por cima dos partidos. Sob pena de constrangê-los nas redes sociais, de ameaçar convocar referendo ou plebiscito para as políticas públicas de seu interesse ou de insinuar que o ministro Sérgio Moro estaria de olho, além da chantagem ou ameaça de retirada do fundo partidário e eleitoral dos partidos.

O futuro governo, com a anuência de boa parte da imprensa e de muitos analistas políticos, não tem sido contestado sobre sua estratégia, em especial quanto aos riscos de ingovernabilidade – com potencial abuso de autoritarismo – que acarreta. Pelo contrário, tem recebido apoio e estímulo. Entretanto, quando o futuro presidente da República assumir o governo irá perceber o quanto o processo decisório é complexo, podendo se frustrar com a ausência de efetividade de suas ações, especialmente se negligenciar a relação com os partidos no Congresso.

Da forma como reagirá a isso depende o futuro da democracia no Brasil.


Antonio Augusto de Queiroz é jornalista, analista político, diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), idealizador e coordenador da publicação Cabeças do Congresso. É autor dos livros Por dentro do processo decisório – como se fazem as leis e Por dentro do governo – como funciona a máquina pública.

A tolice do antiglobalismo

Está ocorrendo pelo mundo afora uma onda antiglobalista. Talvez haja poucas coisas mais regressivas e disparatadas no mundo atual do que esta. Havia um certo antiglobalismo, fruto do protecionismo de vários países, mas que não ameaçava o processo geral e irreversível da globalização.

Ela foi assumida como plataforma política por Donald Trump que, segundo o prêmio Nobel em economia Paul Krugman, seria um dos presidentes mais tolos da história norte-americana. O mesmo vale para o recém eleito presidente, o ex-capitão Bolsonaro e seus ministros da educação e das relações exteriores, negacionistas deste fenômeno que só desinformados e preconceituosos não percebem.

Por que se trata de um disparate dos mais insensatos? Porque vai diretamente contra a lógica do processo histórico irrefreável. Alcançamos um patamar novo da história da Terra e da humanidade. Senão vejamos: há milhares de anos, os seres humanos, surgidos na África (somos todos africanos), começaram a se dispersar pelo vasto mundo, começando pela Eurásia e terminando na Oceania. No final do paleolítico superior, há quarenta mil anos, já ocupavam todo o planeta com cerca de um milhão de pessoas.

A partir do século 16 começou a volta da diáspora. Em 1521 Fernão de Magalhães fez o périplo do planeta, comprovando que é redondo. Cada lugar pode ser alcançado a partir de qualquer lugar.

O projeto colonialista europeu ocidentalizou o mundo. Grandes redes, especialmente comerciais, ligaram todos com todos. Este processo se prolongou dos séculos 17 ao 19 quando o imperialismo europeu, a ferro e fogo, submeteu a seus interesses o mundo inteiro.

Nós do Extremo-Ocidente nascemos já globalizados. Esse movimento se reforçou no século 20, depois da segunda guerra mundial. Chegou à sua culminância nos dias atuais quando as redes sociais avizinharam a todos, à velocidade da luz, e a economia tomou conta do processo, especialmente através da “Grande Transformação” (K.Polaniy) que significou a passagem de uma economia de mercado para uma sociedade de mercado.

Tudo e tudo até o mais sagrado da verdade e da religião viraram mercadoria. Karl Marx na Miséria da Filosofia” (1847) chamou isso de “a corrupção geral” e da “venalidade universal”.

A globalização que os franceses preferem chamar, com melhor razão, de planetização, é um fato histórico inegável. Todos estão se encontrando num único lugar: no planeta Terra. Estamos na fase tiranossáurica da globalização que vem sendo feita sob o signo da economia mundialmente integrada, voraz como o maior dos dinos, o tiranossauro, por ser profundamente inumana pela pobreza que causa e pela acumulação absurda que permite.

Já entramos na fase humano-social da globalização por alguns fatores tornados universais, como a ONU, a OMC, a FAO e outros, os direitos humanos, o espírito democrático, a percepção de um destino comum Terra-humanidade e de sermos uma única espécie do homo sapiens sapiens e demens.

Notamos já os albores da fase ecozóico-espiritual da globalização. A ecologia integral e a vida em sua diversidade terão a centralidade, não mais a economia, a reverência face a todo criado e o novo acordo com a Terra, vista como Mãe e um superorganismo vivo, que devemos cuidar e amar, valores profundamente espirituais.

Cresce a noção de que somos aquela porção da Terra viva que num alto grau de complexidade começou a sentir, a pensar, a amar e a venerar. Terra e humanidade formamos uma única entidade, como bem testemunharam os astronautas de suas naves espaciais.

Chegou o momento, como profetizava o arqueólogo e cientista Pierre Teilhard de Chardin ainda em 1933: “A idade das nações já passou. Se não quisermos morrer é a hora de sacudir velhos preconceitos e construir a Terra”. Ela é a nossa única Casa Comum que temos como enfatizou o Papa Francisco em sua encíclia “Sobre o cuidado da Casa Comum” (2015). Não temos outra.

Estamos ouvindo preconceitos bizarros dos futuros governantes e de ministros de que a globalização é uma trama dos comunistas para dominar o mundo. Estes são aqueles que, segundo Chardin, não cuidam em construir a Casa Comum, mas se fazem reféns de seu pequeno e mesquinho mundo, do tamanho de suas cabeças parcas de luz.

Se eles não conseguem ver a nova estrela que irrompeu, o problema não é da estrela, mas de seus olhos cegos.


Leonardo Boff escreveu “Destino e Desatino da Globalização” em: Do iceberg à Arca de Noé, Mar de Ideias,Rio 2010 pp. 41-63.

Indicação Geográfica e a Valorização Comercial da Central Juruá e da Farinha de Cruzeiro do Sul

Você certamente já ouviu falar dos vinhos do Vale dos Vinhedos, saboreou um queijo Canastra ou já fez um bom pirão com a farinha de Cruzeiro do Sul. Pois saiba que a relação entre esses produtos e seu local de origem é reconhecida oficialmente pelas Indicações Geográficas, processo este que se constitui em uma das formas especiais de proteção aos produtos, e o que lhes atribui reputação, valor intrínseco e identidade própria, além de distingui-los em relação aos seus similares disponíveis no mercado.

No Estado do Acre, a Central Juruá (Central das Cooperativas de Produtores Familiares do Vale do Juruá) é a primeira no Brasil a obter a concessão do registro de reconhecimento outorgado pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI na modalidade Indicação de Procedência para o produto Farinha de Mandioca (RPI 2433 de 22 de Agosto de 2017). Este documento garante que as cooperativas integrantes possam usar o selo de Indicação Geográfica (IG) e registrar nos rótulos do produto a expressão “Indicação de Procedência Cruzeiro do Sul”.

Buscando determinar o sucesso da instituição na gestão da IG, a Central Juruá, em parceria com o Sebrae, Embrapa, Seaprof, Universidade Federal do Acre (Ufac) e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre (Ifac), realizou uma série de reformulações, criando estratégias organizacionais, financeiras e comerciais para a venda da farinha em mercado nacional, almejando grandes redes de varejo, além de aspirar ao mercado internacional.

Sob esse aspecto, ao analisar a contribuição econômica da Indicação Geográfica na valorização comercial da Central Juruá, Germano Gomes, presidente da entidade, enfatiza que após um ano de concessão do registro, foi possível contabilizar o crescimento das vendas, a agregação de valor e da demanda pelo produto, principalmente via empórios e grandes restaurantes nacionais, além de potencializar o retorno de aproximadamente 36% dos produtores associados inativos para as atividades das cooperativas. Esse movimento reflete diretamente no aumento e disponibilidade de produção para comercialização via cooperativa e agregação de renda dos cooperados. Germano afirma ainda, que além da elevação dos preços de venda da farinha, obteve-se um maior interesse de outros empreendimentos, principalmente os ligados ao turismo, o que demonstra de forma clara que a Indicação Geográfica vem sendo uma alternativa para o desenvolvimento territorial e para o crescimento do comércio local.

Analista I e gestora do projeto Cadeia de Valor da Mandiocultura/ Sebrae no Acre

Epidemiologia e doenças infectocontagiosas: declínio no índice vacinal do Brasil

Quando pensávamos que algumas doenças estavam sob controle, assistimos agora à aceleração da emergência e reemergência de doenças infecciosas no Brasil.

Passamos por momentos otimistas, em que as doenças infecciosas diminuíram sua importância relativa devido especialmente à diminuição dos óbitos por diarreias e doenças imunopreveníveis. Na década de 1960, devido às más condições habitacionais e à carência de saneamento básico, a mortalidade infantil era muito elevada, mas com intervenções como reidratação oral e controle do rotavírus, as diarreias se tornaram pouco relevantes na morbimortalidade infantil.

No mesmo período, doenças imunopreveníveis eram endêmicas e responsáveis por elevadas taxas de morbimortalidade. Em diferentes regiões do Brasil, a principal causa de óbito entre crianças de um a quatro anos de idade era o sarampo. De forma epidêmica, também a poliomielite deixava grande número de pessoas com sequelas motoras e às vezes com manifestações tardias.

Com a criação do Programa Nacional de Imunização (PNI) em 1973, houve redução da morbimortalidade por doenças passíveis de prevenção por vacinação – tendo como exemplos a eliminação da poliomielite em 1989, a ausência de transmissão sustentada do sarampo em praticamente todos os estados em 2001 e a erradicação da varíola certificada em 1980.

A doença emergente é caracterizada pelo surgimento de um novo agente infeccioso, da identificação de um novo problema de saúde. Já doenças reemergentes indicam mudança no comportamento epidemiológico de doenças conhecidas, que já haviam sido controladas, e voltaram a ameaçar a saúde humana. Nessas situações, médicos e demais profissionais devem estar capacitados para enfrentá-las com o fortalecimento da vigilância epidemiológica.

Desde abril de 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emite alerta sobre a volta do sarampo em dez países das Américas, com casos também em 2017 na Europa. A Venezuela é a maior preocupação, pois deixou de vacinar a sua população por questões políticas e econômicas.

Doenças consideradas erradicadas no Brasil, mas em circulação no mundo, podem voltar se a população não estiver vacinada. Algumas regiões brasileiras, por suas características ambientais, geográficas, climáticas e socioeconômicas, oferecem condições propícias para a emergência e reemergência de doenças infecciosas e parasitárias.

Alguns dados precisam ser analisados sobre o declínio do índice vacinal no Brasil, e um deles é a falsa sensação de que não haveria mais necessidade de vacinação efetiva após o sucesso das ações de imunização em 2001. O desconhecimento individual sobre vacinas, seus benefícios e importância na saúde pública, além do crescente movimento de grupos contrários à imunização, ao uso das vacinas por absoluta falta de embasamento científico e total desconhecimento histórico, também são pontos críticos a serem enfrentados.

Importante ressaltar a participação do pediatra nas orientações sobre vacinas pois, com os outros profissionais, ajuda a garantir o desenvolvimento saudável da criança e, com isso, aumenta as chances de uma vida saudável e produtiva no seu futuro.


É pediatra, conselheira federal representante do estado do Acre e coordenadora da Comissão de Integração de Médicos de Fronteira do CFM.

O governo federal acordou para o IRPJ

A reforma tributária americana reduziu a alíquota do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica de 35% para 21%, obrigando os demais países a realizarem o ajuste em suas alíquotas. No Brasil, é de 34% a alíquota média cobrada das empresas. A Argentina que enfrenta uma crise fiscal não tardou em reduzir seu IRPJ de 35% para 25%, com queda gradual até 2020. A França reduziu sua alíquota para 26,80% a partir de 2020. O Reino Unido reduziu para 17% em 2020. Outros países possuem alíquotas de IRPJ abaixo da brasileira (Japão – 29,74%, Austrália – 25%, Canadá – 25%, Itália 24%, Coreia do Sul – 24%, Arábia Saudita – 20%, Chile – 25%, Panamá – 25% e o México – 30%).

Em entrevista ao jornal Estadão, Marco Stefanini, “presidente da Stefanini, multinacional brasileira da área de Tecnologia da Informação que está presente em 40 países, disse que ‘Ficou muito mais atraente investir nos Estados Unidos do que no Brasil.’ Segundo ele, o governo americano não apenas diminuiu a alíquota do IR como criou incentivos adicionais ao investimento. Entre eles está a dedução total e imediata de despesas com a aquisição de bens de capital e ativos intangíveis.”

Diante da nova alíquota americana, os países buscam proteger suas indústrias com a redução da carga tributária a fim de manter o emprego, a renda e a produção industrial. O Brasil ainda impõe uma carga tributária estratosférica e em troca concede subsídio como forma de reter o parque industrial, política que apenas retarda o desenvolvimento tecnológico dos bens fabricados localmente.

Começamos a sentir o problema da nova alíquota americana neste ano. O Banco Central do Brasil (BCB) informou que o fluxo de investimento americano caiu de 15,7% no ano passado para 6,6% no primeiro semestre do corrente ano. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) afirmou que outros países estão na mesma situação brasileira. O relatório da OCDE destaca que o investimento no mundo caiu em 44% no primeiro trimestre de 2018 quando comparado com o mesmo período do ano passado. As empresas americanas decidiram enxugar em todos os lugares os investimentos até que os países reformulem suas legislações a fim de igualar ou aproximar com a americana.

Observando a nova equação tributária mundial e o medo de que as empresas instaladas no Brasil busquem outros países com menor carga de IRPJ, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, em evento do Estadão no último dia 13, afirmou que a “equipe econômica vai esperar o resultado da eleição presidencial para encaminhar ao Congresso as duas medidas tributárias que considera prioritárias: a reforma de PIS/Cofins, já pronta, e a redução do IR para pessoas jurídicas.” Disse, ainda, que é “a tendência internacional de redução da tributação da pessoa jurídica e já ocorreu em vários países, incluindo os EUA. Achamos que é importante equalizar esse mesmo tratamento tributário equiparado ao que acontece no resto do mundo. Mas não dá para perder receita. A gente tem um problema fiscal complexo. Por isso faremos redução acompanhada da tributação de dividendos e de revisão dos juros sobre capital próprio. Temos que ver tudo isso em conjunto fazer conta e poder ter uma transição que permite fazer uma redução responsável da alíquota do IRPJ acompanhada de tributação de dividendos.”

Portanto, a solução encontrada pelo governo será rever a regra dos juros sobre o capital próprio (JCP) além de tributar os dividendos, permitindo a redução do IRPJ. Entende o governo, que o lucro deve ficar na empresa para ser reinvestido, fomentando seu crescimento. A escolha pela distribuição do lucro deve ser o último caminho. “No meu entendimento, seria um erro tributar dividendos sem rever a tributação da PJ. A redução da tributação tem um custo que precisa ser compensado. Você precisa olhar o conjunto. Eu prefiro ir para um sistema que é mais próximo do que o mundo inteiro pratica onde você reduz a tributação da PJ e taxa os dividendos e isso cria um incentivo a reter lucros nas empresas para investir no próprio negocio. Eu não vejo como correto só taxar dividendos sem rever taxa de PJ. Do contrário, nós vamos agravar o que existe hoje porque o Brasil tem uma taxação superior à media internacional.”

A reforma americana não alterou a regra dos dividendos, apenas reduziu a carga da pessoa jurídica, todavia, aqui no Brasil, o governo que vive uma crise fiscal sem fim e não pode perder receita, vai taxar os dividendos e mudar a regra do JCP para compensar a redução da alíquota do IRPJ. O governo afirma que essa nova equação corresponde ao praticado pelos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE. “O ponto de chegada tem que ser uma tributação equivalente à que tem a maioria dos países. Daí se faz uma combinação entre a base de cálculo e a alíquota. O resultado disso deve levar a uma tributação em linha com o que o resto do mundo está fazendo. A média da OCDE está em 21%, 22%, os Estados Unidos convergiram para isso. A partir do momento em que se está tributando o lucro, usa-se os padrões contábeis internacionais. Aí é uma questão de compatibilizar isso com a redução da tributação fiscal. Talvez tenhamos que construir uma transição para chegar lá.”

Por fim, questionado sobre o Imposto de Renda da Pessoa Física, o ministro esclareceu não existir nenhuma deliberação até o momento, nem mesmo para recompor a inflação. O desejo consiste, apenas, na taxação dos dividendos, mudança na regra dos Juros sobre o Capital Próprio e na redução do Imposto de Renda da pessoa jurídica.


Marco Antonio Mourão de Oliveira, 42, advogado, especialista em Direito Tributário pela Universidade de Uberaba-MG e Finanças pela Fundação Dom Cabral-MG.

O dia-a- dia da classe trabalhadora

A recente aprovação da Lei Ordinária Trabalhista, também conhecida como “reforma Trabalhista” ou “Consolidação das Lesões Trabalhistas”, gerou diversos convites para participação em conferências, palestras, debates, comentários ou mesmo elaboração de artigos sobre o tema. E esta demanda reflexiva aumentou nos últimos dias, especialmente em razão do mês de maio iniciar o seu cronômetro temporal com o Dia Internacional do Trabalhador. Em todas as solicitações, quase sem exceção, uma indagação se tornou lugar comum. Buscavam saber minha opinião sobre o caráter comemorativo do 1º de Maio, especificamente se o trabalhador tinha algum motivo para festejar neste dia a ele dedicado.

Mas não se pode falar de um assunto sem conhecer a sua origem. A data não fora escolhida ao acaso, tampouco simboliza mais um feriado a inflacionar o calendário oficial. Ela simboliza o desfecho trágico de um movimento grevista que reuniu mais de cento e oitenta mil operários na cidade de Chicago, no distante ano de 1886. Naquela longínqua época, os trabalhadores reivindicavam a implantação da jornada de trabalho de oito horas. Como resposta, o governo estadunidense promoveu uma irracional repressão, que resultou em seis trabalhadores mortos e cinquenta feridos. Irracionalidade semelhante àquele que motivara a criação do Dia Internacional da Mulher.

Naqueles distantes tempos, a brutal exploração da classe trabalhadora se mostrava natural e derivada da absurda lógica de que “determinadas pessoas e grupos econômicos foram aquinhoados com o direito de ter a propriedade das riquezas e das pessoas que as produzem”. A lembrança anual do apogeu da insensatez fora a razão de ser da criação do Dia Internacional do Trabalhador, pois, a irracionalidade do crime praticado contra a classe trabalhadora, caso publicamente discutida, evitaria que fosse repetida. Não poderia existir, portanto, melhor data para simbolizar a necessidade da sociedade refletir sobre a importância do trabalho e da perspectiva de sobrevivência com dignidade daqueles que trabalham na construção de um mundo mais justo e igualitário.

Mas também fora o tempo do surgimento das ideias socialistas como contraponto ao fortalecimento do poder econômico pela Revolução Industrial. Deste enfrentamento nascera o movimento sindical, geralmente tratado como caso de polícia, e a resistência que conquistava direitos trabalhistas. A própria Igreja Católica, com a Encíclica Rerum Novarum, assinada 15 de maio de 1891 pelo Papa Leão XIII, tivera papel importante para condensar a política de redução da exploração do capital, estimulando a concessão de direitos sociais e trabalhistas. Lutas, concessões, avanços e recuos que resultaram, no dia 1º de maio de 1943, por decreto de Getúlio Vargas, a antiga Consolidação das Leis do Trabalho.

O 1º de maio de 2018, setenta e cinco anos após o anúncio da CLT, transformou o Dia de Reflexão e Luta da classe trabalhadora em Dia de Repetição e Exploração. A coisificação da pessoa humana, a servidão, o trabalho análogo ao de escravo e a terceirização, séculos depois, voltaram a ser regulados como direitos naturais de “determinadas pessoas e grupos econômicos que se julgam aquinhoados do direito de ter a propriedade das riquezas e das pessoas que as produzem”. Descobre-se, outra vez, que os ideólogos pato-amarelos que traduziam a palavra “trabalho” como sinônimo de “castigo” não caíram em desgraça. Ao contrário, são agora louvados como modernistas, mesmo quando sequer disfarçam nas notas de rodapés de suas propostas que apenas pretendem retornar as relações de trabalho à quadra da história conhecida como Idade Moderna.

A Lei Ordinária Trabalhista símbolo do governo plantonista, violando direitos fundamentais e sociais inscritos na Constituição Federal, desandou ao permitir a agressão, a exploração e a apropriação do trabalho enquanto bem da vida. O retrocesso na política de concessão de direitos e o não reconhecimento do trabalho como fator de dignidade e distribuição de riquezas retornaram ao dia-a- dia da classe trabalhadora brasileira. Cento e trinta e dois anos após o 1º de maio de 1886, a classe trabalhadora brasileira volta a reivindicar condições e jornadas de trabalho dignas, pautas que pareciam superadas no avançar da humanidade.


Cezar Britto é advogado e escritor, autor de livros jurídicos, romances e crônicas. Foi presidente da Ordem dos Advogados do Brasil e da União dos Advogados da Língua Portuguesa. É membro vitalício do Conselho Federal da OAB e da Academia Sergipana de Letras Jurídicas.

O Deus que o STF escolheu para a escola pública

Em 27 de setembro, fez um ano que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou improcedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4439, onde a Procuradoria-Geral da República (PGR) questionava o modelo de ensino religioso nas escolas da rede pública. Por maioria dos votos (6 x 5), os ministros entenderam que o ensino religioso nas escolas públicas pode ter natureza confessional, ou seja, vinculado às diversas religiões.

O STF votou a favor de um ensino religioso subjetivo e dogmático, o que significa separar fé e razão, devendo a escola ser atravessada por vários dogmas de fé, pois “quem ensina os dogmas religiosos são aqueles que acreditam na própria fé”, justificou o ministro Alexandre de Moraes. Por essa razão, a teologia dogmática deve estar em sala de aula.

Assim, a disciplina de filosofia não pode cumprir função do ensino religioso ou o ensino religioso não pode chegar aos alunos por meio da filosofia, pois não seria ensino religioso porquanto o aluno perderia “o núcleo básico do ensino religioso, que é a fé”, concluiu o ministro Alexandre. Se coubesse à filosofia o ensino religioso, “confundir-se-ia”, segundo o ministro, “ensino religioso com filosofia”.

Para legitimar essa cisão, Alexandre de Moraes cita o filósofo Hegel, afirmando que a filosofia tem como base a razão, isto é, a filosofia se afasta da fé; separa-se do subjetivo e do dogma, não se caracterizando, portanto, como disciplina de ensino religioso. Entretanto, fé e razão em Hegel comungam-se, mesmo porque sua filosofia reconcilia os contrários. Hegel tem duas fases: 1ª) a religião harmoniza a reflexão e o amor, unindo-os no pensamento; 2ª) subordina a religião à filosofia. Além disso, o filósofo vê a religião não como assunto privado, e sim como valor educativo em seu livro Religião popular e cristianismo. Ao ter aprovado o ensino religioso confessional pelo princípio único da fé, o STF escolheu um Deus que não pode ser pensado em uma instituição criada pelos seres humanos justamente para eles pensarem: a escola.

Lugar destinado ao pensamento, a escola pública deveria ser o espaço legítimo para Deus ser pensado a partir, por exemplo, de Êxodo (3:14), onde o Criador diz a Moisés: “Eu sou o que sou”. Se o próprio Deus afirma que “Eu sou o que sou”, Deus é Aquele que é. Pensar Deus é, portanto, pensar o Ser, e o estudo que pensa Deus é o estudo filosófico, visto que só cabe à filosofia o estudo do “Ser”. Sem filosofia, não se pensa Deus, e o STF negou ao aluno estudar filósofos que pensaram Deus.

Se o STF tivesse permitido à escola pensar Aquele que “é”, Deus deixaria de ser em sala de aula a subjetividade de cada religião e deixaria de ser o dogma de fé de cada homem enquadrado por sua religião, pois as subjetividades religiosas cederiam por meio da filosofia ao princípio Universal e o dogma de fé se apresentaria como aporia natural aos limites da linguagem filosófica.

O ministro Alexandre de Moraes partiu do princípio da fé (subjetividade e dogma) para justificar o ensino religioso confessional, mas o aluno não se encontra em sala de aula para aceitar por aceitar a palavra dada pela profissão de fé, e sim para entender por meio da filosofia que a linguagem, por ser limite nela mesma, não pode pensar mais do pensa, chegando, portanto, ao silêncio. Nesse momento, a fé se faz “presente”, porque, não podendo Deus ser mais pensado por causa do limite da própria linguagem, a palavra silencia-se para somente crer. Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, por exemplo, construíram por meio da linguagem filosófica um caminho racional que os levou ao limite da palavra pensada para afirmar, só depois, a beleza da fé em Deus. O limite de Deus pensado é o limite da linguagem; porém, só depois de um longo trajeto racional, a linguagem se depara com sua linha de demarcação e afirma o dogma de fé. Alunos deveriam ter tido acesso a esse caminho da linguagem filosófica, mas ele foi obstruído pelo STF há um ano: seis ministros votaram no ensino religioso subjetivo e dogmático.

Em 1167, surge a Universidade de Oxford, onde o conhecimento de filosofia da natureza possibilitou ao sacerdote Roberto Grosseteste (1168-1253) influenciar, séculos depois, Isaac Newton (1643-1727) no estudo de óptica. Grosseteste foi filósofo de uma época em que a filosofia entrelaçou fé e razão, o mesmo Hegel fez entre os séculos 18 e 19. Sem filosofia como ensino religioso, o STF condenou o aluno a não entender no cristianismo a relação entre fé e ciência.


Aldo Tavares é professor de Língua Portuguesa e Filosofia.

Celebrando São Francisco de Assis: discípulo e missionário do Senhor!

A Igreja católica celebra hoje, 04 de outubro, o dia de São Francisco de Assis, um dos santos mais conhecidos no mundo, tanto no mundo da fé quanto no mundo não confessional, e cuja vida e obras marcaram a história de muitos fiéis. Inclusive hoje, seu nome se destaca por ser o que o Papa atual escolheu para o seu pontificado.

No dia 13 de abril de 2013, o mundo foi tomado de surpresa quando era anunciado o novo Bispo de Roma: o primeiro Papa latino-americano; e, depois, veio a alegria de ver que o novo Papa se inspirava no Pobrezinho de Assis, a começar pelo nome: Francisco!

Ao escolher para o seu projeto papal a inspiração franciscana, Francisco deu mostra de que estar a serviço da Igreja não é ter poder, é servir a humanidade. O Pobre de Assis tem uma mensagem de grande modernidade e atualidade. “Francisco não é um nome. É um projeto de Igreja pobre, simples, evangélica e destituída de todo o poder”, diz Leonardo Boff.

Para a Igreja, para o Papa e para a humanidade, São Francisco tornou-se inspiração daqueles valores mais essenciais do Evangelho. Por isso, sua mensagem atravessou os séculos, e continua a despertar no coração da humanidade aquilo que de melhor ela pode realizar.

O Santo que abraçou a pobreza e renunciou os bens familiares, caracterizou-se por ser um discípulo fiel de Cristo, que viveu o Evangelho com humildade e profunda alegria amando as almas com profunda entrega e admirando a grandeza da criação.

Sua conversão se deu através do silêncio contemplativo e com ações que o aproximavam dos mais desprotegidos.

Filho de um rico comerciante de Assis, São Francisco nasceu entre os anos de 1181 e 1182. Não foi um homem do campo, mas um rapaz criado na cidade, cidade aliás que usufruiu do renascimento que se observava, principalmente na Itália, a partir do ano 1000. Tal característica é importante para tentar entendermos o espírito do religioso franciscano: um homem voltado para as aglomerações humanas, não tão imponentes como as buscadas pelos dominicanos, mas as de porte médio, como o era a cidade natal do poverello.

Talvez não seja exagero dizer que São Francisco de Assis é o santo mais popular do mundo. É bem famoso o episódio em que ele ficou peladão diante de toda a cidade. Mas se você perguntar para as pessoas – até mesmo para um devoto do santo – a razão daquele gesto, a maioria não saberá responder corretamente. Não foi meramente uma renúncia aos bens materiais: foi acima de tudo um ato de fé radical em Deus.

Alguns pensam que São Francisco tirou a roupa simplesmente para dizer ao pai: “eu não quero mais tua grana!”. Na verdade, essa é só uma pequena parte da questão. Outros querem colocar o santo no mesmo balaio dos transgressores bocoiós da atualidade, que ficam pelados pra protestar por qualquer motivo: contra o machismo e um falso “feminismo”, inclusive em frente de algumas Catedrais mundo a fora, ou contra o uso de pele de animais, contra o aquecimento global, pelo respeito aos ciclistas no transito… Não, não é nada disso!

A transgressão de Francisco não foi o fato de ficar nu, mas sim a sua livre escolha de não possuir coisa alguma em um mundo em que as posses e o poder definiam a importância de uma pessoa. Só Deus basta!

Também e desde muito cedo, Francisco demonstrou predisposição para doenças, principalmente dos olhos e do trato digestivo. Ao contrário de outros mártires e santos da Igreja, Francisco demonstrou uma certa ambiguidade no que tange a forma como tratar o corpo. Enquanto muitos, como o próprio Domingos, recorriam ao autoflagelo, Francisco simplesmente deixava que a natureza seguisse seu curso. Não deixava de ver o corpo como instrumento do pecado, mas, por outro lado, via no corpo humano a imagem material de Deus e, mais particularmente, do Cristo. Tais como todas as outras coisas da Terra, o corpo era criação divina e não podia de forma alguma ser deliberadamente maculado. Tal colocação é importante para entendermos como podiam se dar as reflexões a respeito do homem interior e do homem exterior feitas por São Francisco, e que vieram a marcar definitivamente a imagem da Ordem dos Frades Menores.

Logo após a aprovação da regra bulada, Francisco afastou-se da liderança da Ordem, alegando motivos de saúde. O que parece ser verdade já que, sua condição degenerava rapidamente. Em 1224, o santo está em retiro do mundo. Deixou sua ordem aos cuidados da cúria e tratou de cuidar de sua salvação particular. Tenta retornar à vida de peregrinação, mas sua frágil saúde não permite. Seu empenho amoroso em imitar Jesus Cristo deixou marcas não só em sua alma, mas também em seu corpo: em um dia em que meditava sobre os sofrimentos da Paixão, foi ferido com as cinco chagas do Senhor, que carregou por toda a vida.

No dia 03 de outubro de 1226, Francisco se acha muito debilitado. Seu estômago não aceita mais alimento algum. Chega a vomitar sangue. Admiram-se todos como um corpo tão enfraquecido, já tão morto, ainda não tenha desfalecido. Transportado de Sena para Assis, Francisco ainda encontra forças para exortar os que acorrem a ele. E aos irmãos diz: “Meus irmãos, comecemos a servir ao Senhor, porque até agora bem pouco fizemos”. Ao chegar a Assis, um médico se apresenta e constata que nada mais resta a fazer. Ao que Francisco exclama: “Bem-vinda sejas, irmã minha, a morte!” E convida aos irmãos Ângelo e Leão para cantarem o Cântico do Irmão Sol, ao qual Francisco Acrescenta a última estrofe em louvor a Deus pela morte corporal. Pediu então, aos seus irmãos franciscanos que o colocassem no chão, nu, assim que o vissem entrar no momento de agonia final.

Em sua derradeira morte, Francisco exprimia quem era: um homem que dependia só de Deus. Nada existia entre ele e o Altíssimo. Sua nudez era agora absoluta.

E quanto a nós? Do que precisamos ainda nos desnudar? Confiamos que só Deus basta?

Aos(as) devotos(as), filhos(as), as Franciscas e aos Franciscos, tenhamos sempre amor, admiração e alegria por celebrarmos a vida de nosso pai São Francisco de Assis, que a cada dia, nos aponta a quem devemos seguir, como ele mesmo seguiu: Nosso Senhor Jesus Cristo. Senhor, fazei-nos instrumento de Vossa Paz. São Francisco de Assis, rogai por nós! Paz e Bem

Frei Paulo Roberto, Ordem dos Frades Menores Capuchinhos – OFM Cap.
Pároco da Paróquia de Bom Jesus do Abunã em Plácido de Castro – Acre.
Assistente Espiritual do Núcleo em Formação da Fraternidade da Ordem Franciscana Secular – OFS, encontro todo 3º Domingo do mês na Paróquia Santa Inês, às 07h00.

PROGRAMAÇÃO NA DIOCESE DE RIO BRANCO

Paróquia Sagrada Família – Comunidade São Francisco de Assis
End.: Estrada Dias Martins (próx. a FAAO) – Rio Branco
Missa e Procissão às 17h00 – Festa Social: às 20h00

Paróquia Cristo Libertador – Comunidade São Francisco de Assis
End.: Rua Liberdade, nº 263 – Sobral – Rio Branco
Missa e Procissão às 17h00 – Festa Social: às 20h00

Paróquia Santa Clara de Assis – Comunidade São Francisco de Assis
End.: Estrada do São Francisco – São Francisco – Rio Branco
Procissão e Missa às 16h30 – Bingão Franciscano Eletrônico: às 20h00

Paróquia São Francisco de Assis
End.: Avenida Jacinto Ale, nº 119 Boca do Acre – Platô do Piquiá– AM
Procissão e Missa: 03h00 procissão saindo da Paróquia de São Pedro e às 06h00 Missa solene presidida pelo Bispo Dom Joaquín

Paróquia Bom Jesus do Abunã – Casa dos Frades Capuchinhos
End.: Rua Zuila Ferreira de Freitas, Nº 1.100 Bairro: Olaria – Plácido de Castro
Procissão e Missa Solene às 18h00

Paróquia Nossa Senhora das Graças – Comunidade São Francisco de Assis
End.: bairro Cohab – Senador Guiomard
Caminhada pela Paz e Missa solene às 17h00

Paróquia São João Batista
– Comunidade São Francisco – Br 364 Km
52, Ramal da Espinheira Km 22
Missa às 08h00;
– Comunidade São Francisco – Polo de Assentamento Walter Acer, Ramal do Mutum – Missa às 17h00

Paróquia Imaculada Conceição – Comunidade São Francisco de Assis
End.: Rua Guilhermino Bastos, nº 275 – bairro Triangulo Velho – Rio Branco
Procissão e Missa às 18h00

Paróquia São Peregrino – Comunidade da Cruz Milagrosa (No dia 13.10)
Estrada da Transacreana
Procissão e Missa às 16h00 – Festa Social às 18h00

Ziraldo, a criança que ainda brinca

Faz 16 anos que levei minha filha ao Ziembinski para assistir a uma peça escrita por Ziraldo, “Bonequinha de pano”, cuja protagonista encontra-se esquecida no sótão de uma casa, até que uma menina a encontra. Trago este livro aqui para lembrar que a inteligência sensível de Ziraldo é aquela que sempre escreveu a palavra criança em seu devido lugar de criança; e, quando digo devido lugar, digo conceitos que pertencem à natureza de criança. Um desses conceitos, este: brincar.

Neste ano, a Boitatá, selo da Boitempo, publicou “O capital para crianças”, onde conceitos inerentes ao mundo infantil ausentaram-se, posto que a proposta de suas páginas é registrar a infância no materialismo histórico, por isso a criança diz ao vovô Marx: “Conte uma história pra gente, por favor! mas nada de cavaleiros e princesas, nem de reis e dragões, nem cinderela, nem chapeuzinho. queremos uma história de verdade”. O marxismo infantil escreve a palavra criança sobre linhas retas e sérias.

Também escrevendo sobre linhas retas e sérias, o mercado editorial neopentecostal publica literatura infantil para que a criança aprenda a se conduzir com retidão por meio de narrativas bíblicas. Tal qual o marxismo para criança, a inocência na literatura infantil neopentecostal deve ouvir a verdade não do vovô Marx, mas a verdade da vovó Igreja.

Exposto isso, podemos afirmar que marxismo e religião se abraçam ou igualam-se, visto que as duas literaturas infantis “limpam” a criança das narrativas falsas com a linguagem asséptica da verdade, a mesma verdade com que Platão disciplina a criança em A República e em As Leis, qual seja, verdade que, separando-se das diferenças, fixa valores absolutos. Essa verdade jamais se distancia da ideia de real, por isso que as literaturas infantis marxista e religiosa têm cunho realista.

Evidente que, por causa de princípios democráticos, essas literaturas devem e precisam existir, mesmo porque, se não existissem, não seriam criticadas aqui; e a crítica, sem os apelos de ideologias e de emoções religiosas, é o exercício de uma razão que busca com equilíbrio qualificar ideias, nesse caso, a ideia de criança, que é a ideia de brincar. Em “O capital para criança”, porém, a inocência não brinca, o que não ocorre em “O Menino Maluquinho”, de Ziraldo, “onde tudo que é bom é brincadeira”.

A criança não busca a verdade.  Ela busca brincar. Se a verdade se separa das diferenças a fim de fixar valores absolutos, a fim de se dizer pura, a criança brinca, pois brincar, que mistura, alegra: o Menino Maluquinho “deitava/ e rolava/ pintava e bordava/ e se empanturrava/ de bolo e cocada/ E ria/ com a boca cheia/ e dormia/ cansado no colo da vovó/ suspirando de alegria”.

Mas a criança que pede ao vovô Marx contar a verdade é criança que não sabe brincar; o marxismo para criança, que não reconhece o ato de brincar como natural à infância, também não pode reconhecer um conceito inerente ao brincar, a saber, ele: que proporciona à inocência alegria, qual seja, o falso. Brincar é experimentar o falso; e, ao experimentá-lo, a criança é afetada pelo excesso. Pais que assistiram com seus filhos à peça “Bonequinha de pano” possibilitaram às crianças o acesso ao brincar, desde que admitamos a relação estreita entre o brincar e o irreal ou entre o brincar e o falso.

Aldo Tavares é professor de Língua Portuguesa, Filosofia e livre pesquisador pelo Ateliê de Humanidade.

É hora de escolher os parlamentares

Estamos a poucos dias das eleições e é notório que muitas pessoas já escolheram em quem votar para presidente, mas e para deputados federais e senadores? Que tal gastar um pouco dessa energia, de debates políticos para presidenciáveis, nos demais cargos políticos?

Já passou da hora de tirar um tempo para pesquisar propostas de deputados e senadores, porque um país não é governado somente pelo presidente, é preciso colocar esforços também nos outros cargos. O senador é um agente político eleito para um mandato de 8 anos por meio de eleições diretas. Um senador representa um estado da federação – ou unidade federativa – e compõe o parlamento. O deputado federal, a princípio, é um representante eleito pelo povo para ocupar a Câmara, tendo como atribuições legislar e fiscalizar.

As informações estão disponíveis, a internet está cheia de informações, existem vários aplicativos que ajudam na hora da escolha. Existem até aplicativos que auxiliam no acompanhamento do trabalho desses políticos, como o Poder do Voto, que tem como objetivo proporcionar ao eleitor brasileiro maior clareza da representação política e auxiliar na construção do debate político saudável e do acompanhamento voto a voto dos parlamentares.

É diante dessas ferramentas que é possível ver com mais clareza quais candidatos são competentes e melhor preparados para liderar a nação. Existem muitos políticos honestos e capacitados à disposição da escolha do eleitor, basta enxergá-los e dar um voto de confiança.

Hoje, não tem desculpa, o que os eleitores precisam fazer é priorizar seu tempo e conseguir estudar a melhor forma de construir um país melhor. O Brasil tem cura, só depende de você.

Mario Mello é fundador do Poder do Voto, aplicativo que tem como objetivo proporcionar ao eleitor brasileiro maior clareza da representação política e auxiliar na construção do debate político saudável e do acompanhamento voto a voto dos parlamentares.

Análise e paixão

Este título é de um grupo de profissionais de Relações Institucionais e Governamentais com atuação no Brasil e no exterior, e do qual faço parte com muito prazer. As análises ali expostas são profundas, abrangendo as relações públicas e privadas. E, neste momento nebuloso da vida nacional, servem para demonstrar conhecimento e cultura dignas de serem aprendidas e respeitadas por centenas de especialistas que pululam na mídia diuturnamente.

Nesse grupo, formado exclusivamente para o debate sobre as eleições, a cada dia as análises deixaram de ser pragmáticas para assumirem a paixão tão importante nas relações humanas; e a paixão cresceu de tal forma que pode representar muito bem o que pensa o povo eleitor.

A paixão que hoje nos domina é incontrolável; como é a avassaladora a paixão cantada pelos poetas e inoculada nos jovens, como o primeiro amor.

O sentimento materializado na alma do povo é a mesma paixão que nos levava a cortar relações com amigos quando a discussão era sobre os antigos times de futebol. Hoje, a paixão foi levada ao ringue das brutais lutas em que humanos se digladiam como se fossem animais e, no final, um deles ganha. Mas os dois perdem, pois saem massacrados pelas pancadas recíprocas que, não raro, são mortais. Dizem que lutam para viver.

Nessa quadra, os olhares devem ser voltados para os que, até hoje, não têm estudo, trabalho e vida digna. São esses que, como ovelhas, seguem o tilintar de comando e caem no abismo.

As pessoas estão tão desiludidas que, mesmo com as informações divulgadas pelos celulares pregados em suas mãos, renegam os avisos e, sem olhar para o futuro de seus filhos, preferem, ainda, vender votos em troca de uma bolsa qualquer.

O olhar que exponho é a visão de que o passionalismo ocupou o corpo e a alma do brasileiro. Sendo certo que o passional deixa de lado a razão e entra no mundo obtuso de soluções infundadas.

O atentado contra o candidato Jair Bolsonaro representa hoje o desejo da população em arrancar o mal pelas raízes tão profundas que compõem a corrupção, o descrédito na política e nos políticos.

Por outro lado, os formadores de opinião, especialmente os de rádios, televisão e jornais, tomaram para si a missão de agravar e tornar maior a angústia da população.

O eleitor, cansado da violência, do desemprego e da exclusão social, voltou-se para Jair Bolsonaro com a esperança de mudar tudo o que está aí. O seu afastamento da campanha o fortaleceu politicamente e poderá, inclusive, fazê-lo ganhar no primeiro turno.

A radicalização é a marca dessas eleições e, se o eleitor escolher a disputa final entre Bolsonaro e Fernando Haddad, teremos na presidência um radical de direita e um radical de esquerda, para usar termos que a população identifica. O vencedor, se Bolsonaro, irá tentar moralizar o país com um único tiro, enquanto Haddad trará de volta o aparelhamento do Estado e os corruptos liderados pelo “Grande Líder”.

Esse é o quadro da situação atual; e os demais candidatos que lutam por um lugar no segundo turno? Aí está o mistério: não há nas conversas quem não declare que os melhores candidatos são Geraldo Alckmin, por seu desempenho como político e governador de São Paulo; Alvaro Dias, pela experiência e conhecimento do país; e Henrique Meirelles, pelas soluções econômicas que comandou e por sua experiência internacional.

No entanto, parece que o eleitor prefere correr o risco de escolher o desconhecido do que votar no candidato do já manjado Partido dos Trabalhadores.


Paulo Castelo Branco é sócio-fundador do escritório Paulo Castelo Branco Advogados Associados. Foi Conselheiro Seccional e Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, e Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.

Mais de 80% dos deputados estaduais concorrem à reeleição

Levantamento das empresas Queiroz Assessoria Parlamentar e Sindical e MonitorLeg Comunicação Legislativa concluiu que a renovação nas Assembleias Legislativas tende a ser baixa, especialmente em função do elevado percentual de candidatos à reeleição: 80,16%.

Dos 1.059 deputados estaduais, incluídos os deputados distritais de Brasília, 849 concorrem à reeleição e os outros 210 fizeram outras opções político-eleitorais. Destes, 71 não disputam nenhum cargo; 104 são candidatos a deputado federal; 14 vão tentar se eleger para o Senado; nove tentam o governo de seus estados; oito são candidatos a vice-governador; dois figuram como segundo suplente de senador; um é candidato a vice-presidente da República; e um compõe chapa como primeiro suplente de senador.

Os estados com maior percentual de candidatos à reeleição são Amapá, com 95,83%; Rio Grande do Norte, com 91,67%, e Rondônia, com 91,67%. O Estado com menor percentual de postulante à recondução ao mandato é Rio de Janeiro, com 65,52%. Entre as 27 Assembleias Legislativas, em apenas dez o percentual de candidatos à reeleição é inferior a 80%.

Quando se analisa o percentual de candidatos à reeleição por região, verifica-se que a região Norte é a que tem mais postulantes à renovação do mandato, 84,15%, seguida da região Nordeste, com 82,16%, da região Centro-Oeste, com 78,03%, da região Sudeste, com 78,52%, e da região Sul, com 79,23%.

As regiões com maior número de deputados estaduais disputando um mandato para a Câmara dos Deputados são a Nordeste, com 32 nomes, seguida da Sudeste com 30. As demais, ficam abaixo de 20 nomes, casos das regiões Sul, com 18, da Norte, com 16, e da Centro-Oeste, com oito.

Os estados com maior número de deputados estaduais concorrendo ao cargo de deputado federal são Rio de Janeiro, com 12, Bahia e Minas Gerais, com oito cada, e Rio Grande do Sul, com sete. Apenas Roraima não tem nenhum deputado estadual concorrendo à Câmara Federal, todos os demais têm pelo menos um candidato.

O número de deputados estaduais que aspiram se eleger deputado federal, 104, é praticamente igual ao número de deputados federais que não são candidatos à reeleição. Se a maioria dos deputados estaduais que disputam uma vaga na Câmara Federal for eleita, na prática haverá uma circulação no poder, com os deputados estaduais assumindo as vagas dos federais que desistiram da reeleição.

Os dados deste levantamento nos indicam claramente duas tendências: a primeira de baixa renovação real, já que as vagas que deixarem de ser preenchidas com a reeleição serão ocupadas por ex-ocupantes de cargos públicos, entre os quais os deputados estaduais, caracterizando a circulação no poder. E a segunda da qualidade da renovação, já que os poucos nomes que forem efetivamente “novos”, no sentido de que nunca ocuparam cargo público ou eletivo, serão pastores das igrejas evangélicas, policiais linha dura ou parentes dos políticos tradicionais, sinalizando um aumento das bancadas evangélica, da bala e de parentes.


Antonio Augusto de Queiroz é jornalista, analista político, diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), idealizador e coordenador da publicação Cabeças do Congresso.

Meninos, eu vi. Por isso tenho medo

A atriz Dina Sfat, um dos maiores talentos da teledramaturgia brasileira, foi também uma vigorosa combatente da ditadura militar e uma grande defensora da liberdade de imprensa. Viu amigos serem perseguidos, torturados ou mortos. Foi vítima da censura a filmes e peças de teatro em que atuou. Em julho de 1981 participou do programa Canal Livre, no qual o general Dilermando Monteiro, ex-comandante do II Exército, era o entrevistado. Passou a entrevista calada, com uma expressão apreensiva. Quando o apresentador lhe pediu que fizesse pelo menos uma pergunta, afirmou:

– Não quero perguntar. Eu tenho medo de generais.

Neste ano de 2018 os integrantes de uma geração que viveu os horrores dos anos de chumbo, que sofreu na pele a censura, a tortura, as execuções e os “desaparecimentos” de opositores do regime, de uma hora para outra começaram a ficar “falando de lado e olhando pro chão”. Para muitos, a ficha demorou, mas caiu. Estamos com medo.

Ao inimigo, nossos votos!

O pior é que o inimigo, desta vez, está sendo conduzido ao trono pela via democrática, por meio do voto popular, por sinal o mesmo processo que levou ao poder na Alemanha um militar e pintor frustrado, chamado Adolf Hitler, o capitão do Holocausto dos judeus na Segunda Guerra. E isso torna o inimigo de hoje um ser blindado contra qualquer acusação de tomada do poder pela força ou pelo golpe. Desta vez, é mesmo pelo voto. O processo é legítimo. As urnas são seguras, sim.

Como ocorre às seitas religiosas, esportivas ou políticas, seus seguidores não raciocinam. Apenas seguem o líder, inebriados pelo messianismo que o torna infalível. Argumentos à razão nem arranham a convicção arraigada a ferro e fogo de que “ele” é o enviado que, de espada em punho, trará de volta a justiça aos ímpios, e a remissão aos pecadores. A crença cega e irredutível a qualquer apelo racional converte cada um de seus seguidores num multiplicador de sua mística. No alto do monte imaginário, o líder, cercado pela aura da infalibilidade, indica o caminho ao rebanho das ovelhas que, dóceis, caminham suavemente em direção ao matadouro.

Eu vejo o futuro repetir o passado

Quem viveu os tempos áridos da ditadura identifica com nitidez as características que tornam o futuro cópia autenticada de um passado que tinha tudo para nunca mais voltar. Mas que está voltando, desta vez “atendendo a pedidos”. A democracia, “plantinha frágil”, na definição de Octávio Mangabeira, vem se revelando de repente fragílima diante da possibilidade da chegada ao poder de um candidato que ainda outro dia, da tribuna do Parlamento, propunha… o fechamento do Congresso! E contra o qual a citação com provas de suas agressões a negros, gays e mulheres não surte qualquer efeito, apenas reforça a condição de messias (que coincidentemente carrega no próprio nome).

Quem o apoia e para ele queima incensos e eleva preces a um deus vingador se sente é vitorioso quando os adversários lançam sobre ele acusações de grosseria, racismo, homofobia e misoginia, entre outras. “Essa corja tem mesmo é que ser tratada na chibata”, pensam lá com os imaginários botões dourados dos dólmãs que sonham vestir um dia e com os quais participarão do grande desfile do exército dos justiceiros. Tal como se exibiam as legiões hitleristas, em ordem unida.

Gays aplaudindo a homofobia

Outro dia, um homossexual famoso em Brasília, cabeleireiro de personalidades ilustres, apareceu num vídeo do WhatsApp entoando loas ao líder da grande legião dos redentores da pátria. Será que ninguém disse a ele que o tal líder é homofóbico assumido? Os gays agem como nordestinos, que vêm se revelando fervorosos discípulos do líder, mesmo quando ele os trata na ponta do pé (ou seria da bota?). Muitas mulheres, que deveriam formar a grande legião de opositoras, na verdade vêm sendo seduzidas à sua passagem, e várias revelam sentir irresistível atração por ele.

Enquanto isso, as maiores vítimas da violência, nas favelas e nas regiões mais conflagradas pelo tóxico e pela exploração da pobreza, são as que mais celebram a chegada do ídolo que vingará seus opressores. Nem se lembram que a promessa de mais armas sempre significa e significará mais balas, mais terror, mais mortes. Mesmo os que comemoram a chegada de um salvador que tem um futuro ministro da Fazenda durão, que propõe corte drástico de gastos, se deram conta de que, para isso, serão os primeiros a perder seus empregos.


Paulo José Cunha é professor, jornalista e escritor.

Quem contrata lobistas?

Já mostramos que a expansão e retração da atividade de relações governamentais está estreitamente ligada à expansão e retração da economia do país e à movimentação dos mercados.

Períodos de abertura econômica trouxeram empresas multinacionais ao Brasil, que implementaram aqui sua cultura de relacionamento com o governo na discussão de políticas públicas e de um ambiente regulatório favorável. Ainda, o grande número de sindicatos e associações estabelecidos no Brasil já demonstra a dimensão do universo dessa atuação.

Também, que a mudança e a disrupção nos mercados acabam por se acirrar uma disputa regulatória, principalmente entre empresas das novas economias e empresas das economias tradicionais, gerando demanda por bons profissionais em ambos lados. Os agentes já estabelecidos passam a buscar paridade de regulação com novos players. Esses, por sua vez, tentam manter sua atividade longe dos custos da economia tradicional.

A multiplicação de foros de participação social na definição de políticas públicas nos poderes Executivo, Legislativo e também Judiciário aumentou a participação desses profissionais. São exemplos os conselhos paritários, audiências públicas e o papel do amicus curie.

Em países de tradição reguladora e altamente intervencionistas na economia, como é o caso do Brasil, a busca por profissionais de Relações Governamentais é particularmente relevante. Quanto mais regulado o setor, maior o peso da atividade governamental na empresa.

Portanto a disponibilidade de vagas observa uma equação onde são considerados: o tamanho da atividade dos setores no país e o grau de dependência desses setores a políticas públicas e regulações. Aqueles setores com intensa atividade e/ou que são altamente impactados por políticas e regulações demandam bons profissionais que possam se articular tecnicamente com os poderes políticos.

Os campeões de contratação

Para avaliar a demanda de profissionais de Relações Governamentais foram analisadas 130 vagas de todo o Brasil e de diferentes níveis, publicadas no período de maio de 2017 a maio de 2018 por empresas de diferentes setores. Algumas são mais conhecidas pelo público em geral como Amazon,  Coca-Cola, Eurofarma, Facebook, Google, Hyundai Johnson&Johnson Latam Airlines, L’Oréal, Motorola, Nestlé, Netflix, Pepsi, Pfizer, Philip Morris, Philips, Procter&Gamble, Tetrapack, Tim, Uber, Unicef e WWF, além de entidades de classe, escritórios de consultoria e de advocacia e empresas de recrutamento.

Os nomes dos cargos variam de relações governamentais a políticas públicas, passando por assuntos governamentais, assuntos regulatórios e relações institucionais. Cada um com suas especificidades, mas todos tendo em comum a finalidade de influenciar políticas públicas para defender interesses.

Farmacêutico (14,8%), Tecnologia da Informação (14,1%), Biotecnologia (11,7%) e Alimentos (10,2%) são as áreas que mais demandaram profissionais de Relações Governamentais. Esses setores juntos ofereceram mais das metades das vagas analisadas.

A depender das políticas adotadas no próximo governo, assistiremos novas movimentações no share de cada setor na contratação de profissionais capacitados para implementar estratégias de relacionamento com o Governo.

Os dados analisados fazem parte da pesquisa O Perfil do Profissional de Relações Governamentais, realizada pelo Pensar RelGov. Ao todo, a pesquisa analisa o tamanho do universo, a distribuição e concentração dos profissionais no Brasil, setores que mais contratam, análise de competências e de perfil profissional.


Eduardo Galvão é executivo e professor de Relações Governamentais e de Políticas Públicas no Ibmec e no UniCEUB e fundador do Pensar RelGov.

Voto útil pode definir eleição presidencial no primeiro turno

“Os direitistas denominaram o voto no Bolsonaro de ‘voto inseticida’. Nós podemos pregar o ‘voto exorciza’ e acabar com o Capeta Nazista.”

A frase acima, publicada em minha página no Facebook por um leitor, sintetiza o clima de guerra no país. Ninguém parece disposto a ceder. Qualquer apelo à razão parece inútil. Mediação e bom senso viraram verdadeiros palavrões.

Num clima como este, alguém está disposto a esperar alguma coisa? Se o objetivo é aniquilar o inimigo – e penso que posso fazê-lo imediatamente – faz sentido esperar e apostar num segundo turno de desfecho imprevisível?

A boca do jacaré está abrindo. Duplamente. As pesquisas indicam que Haddad e Bolsonaro estão subindo, enquanto os demais estão descendo. Parece que estamos vivenciando a profecia de que o centro virou pó.

Quem tentou posar de moderado naufragou. Alckmin está com sua extrema unção encomendada. Ciro tem uma semana para apresentar algum tipo de reação. O improvável apoio de Marina poderia criar um fato positivo.

A candidata da Rede assiste passivamente seus votos desaparecerem sem qualquer influência sua. Se continuar no ritmo atual deve “pontuar negativamente” nas próximas pesquisas.

Se o trabalhista não reagir será tragado pela mandíbula de Haddad. O ex-prefeito de São Paulo está longe de ser um radical. É o mais moderado dos petistas, qualificado, sóbrio, uma tentativa inteligente de Lula de ampliar na sociedade mantendo um nome do PT.

Entretanto, por mais esforço que faça, Haddad continua sendo um “petralha”. E a sociedade parece querer continuar na sua aposta de que só um ajuste de contas radical é capaz de recuperar o Brasil.

Nesse clima, Bolsonaro e Haddad viraram uma espécie de irmãos siameses. A subida de um empurra o outro. Se o cenário mais provável se confirmar e o centro desaparecer de vez, os dois devem continuar subindo.

O primeiro objetivo na guerra é ganhá-la, obviamente. Se for impossível esse objetivo com seu próprio exército, o objetivo passa a ser ajudar a derrotar seu inimigo principal. Se Amoedo não tem chance alguma e o PT está crescendo, por que não votar logo em Bolsonaro?

O mesmo vale para os eleitores progressistas que, temendo uma vitória de Bolsonaro no primeiro turno, podem antecipar para o primeiro round o voto útil em Haddad.

Alguns analistas, descolados da política real, os mesmos que passaram meses profetizando que seria mais do mesmo, PT x PSDB, agora decretam que esta leitura é de uma minoria, que o povo jamais fará esse movimento. Será?

Subestimam a sabedoria popular e a impaciência com a política disseminada de forma irresponsável pela grande mídia. “Eu estou desempregado, a política virou coisa de bandido, pra que sair de casa duas vezes para votar? Se posso dar um soco no estômago do sistema de uma vez e esmagar o mal, não faz sentido esperar.”

Você pode ser vascaíno ou botafoguense, mas é impossível entrar no Maracanã lotado num Fla-Flu, numa final de campeonato, e não assumir a torcida por um dos lados. O estádio está enchendo, a temperatura está subindo.

Apesar de o segundo turno ainda ser o mais provável, não será surpresa se a eleição nacional acabar no dia 7 de outubro com uma vitória de Haddad ou Bolsonaro. Com o inimigo a ser subjugado definido, mais debates são desnecessários.

Apertem os cintos. Tudo indica que a corrida vai acelerar.


Ricardo Cappelli é jornalista, especializado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Foi secretário nacional de Esporte Educacional e de Incentivo ao Esporte nos governos Lula e Dilma. Ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), é tricolor e Vila Isabel de coração. Exerce atualmente o cargo de secretário chefe da representação no DF do governo do Maranhão.

Desmistificando o suicídio

Precisamos falar sobre suicídio e desmistificar essa que é a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, segundo a Organização Mundial de Saúde. Esse dado alarmante é suficiente para ressaltar a importância do tema e para que possamos compreender o suicídio como um problema de saúde pública, que necessita de intervenção.

Esse assunto, que ainda é um tabu em nossa sociedade, remonta aos primórdios da história humana, uma vez que existem reflexões sobre o suicídio na obra do filósofo grego Platão (428 AC – 328 AC) e também nos ensinamentos de Siddhartha Gautama, o Buda (563 AC – 483 AC). Ao longo da chamada Idade Média – período em que predominou o pensamento religioso no Ocidente – o ato de tirar a própria vida era considerado uma falha moral, e aqueles que assim morriam eram proibidos de serem enterrados; sendo seus corpos abandonados ao ar livre.

No entanto, sob o ponto de vista psiquiátrico, não cabem julgamentos morais nem religiosos, e a ideação suicida é considerada pela medicina como sintoma de um transtorno mental. E, com isso, passível de tratamento. Isto posto, iremos gradativamente elucidar mitos e verdades a respeito do suicídio.

A primeira informação importante que cabe ressaltar é a de que nem todas as pessoas que se matam ou pensam em tirar a própria vida estão deprimidas. Existem diversos contextos e motivações para essa atitude, o que na psiquiatria chamamos de “crise suicida”. Há pessoas que apresentam tal crise quando se deparam com algum tipo de frustração, e, de modo impulsivo, tentam tirar a própria vida. Nesses casos, a pessoa não apresentava um planejamento prévio de morte.

Outra motivação para o suicídio é a psicose. Há pessoas que, imersas em algum delírio, buscam patologicamente no suicídio a fuga da situação em que acreditar viver. Por exemplo, um indivíduo pode estar delirando que existem pessoas que querem matá-lo e que existem câmeras escondidas filmando-o. Tais pacientes, em franco episódio psicótico, podem cometer o suicídio na tentativa desesperada de escapar de uma perseguição ilusória. Há também aqueles que ouvem vozes, as quais, muitas vezes, ordenam que o paciente se mate; outro exemplo de episódio psicótico. Tais casos são muito graves e exigem internação imediata, uma vez que são os pacientes psicóticos com ideação suicida os que mais se matam.

Há também o paciente que apresenta o chamado episódio misto do transtorno afetivo bipolar, o qual manifesta pensamento acelerado, discurso eloquente, explica os assuntos que aborda com detalhes e, paradoxalmente, pode se apresentar com um humor contagiante e dar a falsa impressão de que está feliz. Porém, esse paciente também tem ideações suicidas, muitas vezes com pensamentos recorrentes de autodepreciação. Tais casos exigem grande perícia do profissional que o avalia, pois, num primeiro momento, a ideação suicida pode passar despercebida.

Por fim, há o indivíduo que está deprimido, com sentimentos de desesperança, pensando que a vida não vale a pena, sentindo-se inútil e abandonado, mostra-se triste e não tem mais prazer em atividades que antes lhe eram agradáveis. Pode apresentar dificuldade para dormir; despertar no meio da madrugada e não conseguir retomar o sono; ou, pelo contrário, dormir durante longos períodos. Tais pacientes podem também apresentar alterações do apetite, passam a comer demais ou deixam de comer. Muitos que sofrem de depressão apresentam dores pelo corpo, sentem como se ele fosse um fardo a ser carregado e há a sensação de que lhe falta energia. Além disso, podem surgir pensamentos de morte, que vão ganhando protagonismo psíquico até surgir o planejamento de como se matar, este um sinal de alarme para o risco de suicídio.

Cabe também relatar alguns mitos. Há quem diga que se o indivíduo afirmou que vai se matar é porque não o fará, alegando que quem se mata não avisa. Isso é mentira, pois a maioria avisa que irá se suicidar. Outro mito é que o médico ou psicólogo não deve tocar neste assunto durante a consulta, para não despertar ideia de morte. Não é verdade; o profissional da saúde mental sempre deve questionar se o paciente cogita se suicidar, e as repercussões dessa pergunta são sempre positivas.

Caso haja alguma identificação com o que foi dito, ou caso conheça alguém que possa se identificar com o que foi exposto, é de suma importância que se busque um atendimento psiquiátrico assim que possível. Quanto mais cedo ocorrer a intervenção terapêutica maiores são as chances de evitar o suicídio.


Ricardo Patitucci é psiquiatra e vice-diretor clínico da Casa de Saúde Saint Roman

A democracia brasileira: um eterno embrião

O embrião, como se sabe, corresponde ao estágio inicial do desenvolvimento de um organismo. Nas plantas, é uma parte da semente; nos animais, é o produto das primeiras modificações do óvulo fecundado, que dará origem a um novo indivíduo.

A democracia no Brasil, em que pese ter início nos idos do século XX, após a Ditadura Militar, período marcado por forte repressão estatal que, sobretudo, alijava os cidadãos de exercerem, em sua ‘plenitude’, o denominado livre-arbítrio, ainda pode ser assim considerada.

No país, em apertada síntese, foram aproximados 30 (trinta) anos de luta para se alcançar a igualdade de direitos que foi concebida, sobretudo, com a implementação de uma nova Carta Política.

A Constituição Federal de 1988, nesse prisma, contempla a liberdade de direitos, a igualdade social, liberdade de voto e de expressão, e, ainda, um sistema de eleições livres. Incríveis ideais!!!

Por outro lado, o que talvez não se esperava, era que a modificação da cultura de um povo até então oprimido fosse encontrar maior obstáculo do que a própria alteração legislativa em seu mais alto grau.

O lamentável atentado ocorrido em desfavor do presidenciável Jair Bolsonaro, em Minas Gerais, corrobora o estágio inicial de um organismo político obtido com grande intrepidez pela sociedade brasileira.

A intolerância, o discurso de ódio, a liberdade de voto e de expressão sendo contidas por atos de extremada violência moral e física, representam inegável retrocesso a esse regime político em que a soberania e o poder são exercidos pelo povo, através do sufrágio universal.

Cumpre-nos, neste momento de ‘luto democrático’, analisar, sob a égide jurídica vigente, se tal ato representa ou não um ‘crime político’.

Nesta etapa, caro leitor, não se pretende aprofundar, por escapar ao escopo presente, a correção técnica de tal terminologia, ou seja, se a referência a expressão “crime” adequa-se ou não a tal espécie de infração. Sigamos.

A Constituição Federal de 1988 prevê, na parte inicial da regra do art. 109, IV, a competência da Justiça Comum Federal para o processo e julgamento dos crimes políticos.

Para Nelson Hungria, um dos maiores juristas que o país conheceu, tais infrações se caracterizam pela conduta que “ofende ou expõe a perigo de ofensa, exclusivamente, a ordem política em sentido amplo ou a ordem político social (compreensiva não apenas das condições existenciais e o regime governamental do Estado e dos direitos políticos dos cidadãos, senão também, nas suas bases fundamentais, a organização social, sôbre a qual se ergue a ordem política em sentido estrito), e cujo autor, além disso, tem por escopo êsse mesmo resultado específico ou assume o risco de seu advento.”

Em adição, de acordo com a teoria subjetiva, a existência de crime político não decorre apenas pela adequação da conduta a um tipo penal previsto no ordenamento como tal, mas exige, ainda, um especial fim de agir (dolo específico), consubstanciado na intenção específica do agente em ofender a ordem política.

O texto constitucional, apesar de a eles fazer referência, não conceitua ‘crime político’. Da mesma forma, também não há um conceito na legislação infraconstitucional.

Insta salientar que a jurisprudência tem considerado que somente há crime político quando presentes os pressupostos do art. 2º da Lei nº 7.170/83 (Lei de Segurança Nacional), quais sejam:

Art. 2º – Quando o fato estiver também previsto como crime no Código Penal, no Código Penal Militar ou em leis especiais, levar-se-ão em conta, para a aplicação desta Lei:

I – a motivação e os objetivos do agente;

II – a lesão real ou potencial aos bens jurídicos mencionados no artigo anterior.

Por meio do art. 2º, II, deve-se consultar e interpretar o art. 1º do aludido texto legislativo, o que conduz a compreensão de que os crimes políticos, para serem assim considerados, devem colocar em risco a integridade territorial e a soberania nacional, o regime representativo e democrático, a Federação e o Estado de Direito e a pessoa dos chefes dos Poderes da União.

De toda sorte, percebe-se que, diversamente do que se pode concluir primariamente, crime político não é qualquer crime cometido contra um político. Deve, sobretudo, lesar ou ofertar risco de lesão aos bens jurídicos indicados acima.

Para configurá-lo, é imprescindível a motivação política ou que a conduta tenha por desiderato colocar em perigo a segurança do Estado, do governo ou do sistema político vigente, além de atos que prejudiquem os interesses do Estado.

Evidentemente, pelos aspectos acima deduzidos, o delito ora objeto de comento não se enquadra a condutas desse jaez, afastando sua conotação política strictu sensu, no âmbito da Lei de Segurança Nacional.

Trata-se, em verdade, de crime comum, de natureza hedionda, motivado pelo consectário natural da imaturidade política que ainda possui contornos preponderantes na sociedade brasileira.

Perde, mais uma vez, com isso, o Brasil!


*Leonardo Pantaleão é advogado, professor de Direito Penal e Processo Penal, palestrante e sócio fundador da Pantaleão Sociedade de Advogados

O governo federal acordou para o IRPJ

A reforma tributária americana reduziu a alíquota do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica de 35% para 21%, obrigando os demais países a realizarem o ajuste em suas alíquotas. No Brasil, é de 34% a alíquota média cobrada das empresas. A Argentina que enfrenta uma crise fiscal não tardou em reduzir seu IRPJ de 35% para 25%, com queda gradual até 2020. A França reduziu sua alíquota para 26,80% a partir de 2020. O Reino Unido reduziu para 17% em 2020. Outros países possuem alíquotas de IRPJ abaixo da brasileira (Japão – 29,74%, Austrália – 25%, Canadá – 25%, Itália 24%, Coreia do Sul – 24%, Arábia Saudita – 20%, Chile – 25%, Panamá – 25% e o México – 30%).

Em entrevista ao jornal Estadão, Marco Stefanini, “presidente da Stefanini, multinacional brasileira da área de Tecnologia da Informação que está presente em 40 países, disse que ‘Ficou muito mais atraente investir nos Estados Unidos do que no Brasil.’ Segundo ele, o governo americano não apenas diminuiu a alíquota do IR como criou incentivos adicionais ao investimento. Entre eles está a dedução total e imediata de despesas com a aquisição de bens de capital e ativos intangíveis.”

Diante da nova alíquota americana, os países buscam proteger suas indústrias com a redução da carga tributária a fim de manter o emprego, a renda e a produção industrial. O Brasil ainda impõe uma carga tributária estratosférica e em troca concede subsídio como forma de reter o parque industrial, política que apenas retarda o desenvolvimento tecnológico dos bens fabricados localmente.

Começamos a sentir o problema da nova alíquota americana neste ano. O Banco Central do Brasil (BCB) informou que o fluxo de investimento americano caiu de 15,7% no ano passado para 6,6% no primeiro semestre do corrente ano. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) afirmou que outros países estão na mesma situação brasileira. O relatório da OCDE destaca que o investimento no mundo caiu em 44% no primeiro trimestre de 2018 quando comparado com o mesmo período do ano passado. As empresas americanas decidiram enxugar em todos os lugares os investimentos até que os países reformulem suas legislações a fim de igualar ou aproximar com a americana.

Observando a nova equação tributária mundial e o medo de que as empresas instaladas no Brasil busquem outros países com menor carga de IRPJ, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, em evento do Estadão no último dia 13, afirmou que a “equipe econômica vai esperar o resultado da eleição presidencial para encaminhar ao Congresso as duas medidas tributárias que considera prioritárias: a reforma de PIS/Cofins, já pronta, e a redução do IR para pessoas jurídicas.” Disse, ainda, que é “a tendência internacional de redução da tributação da pessoa jurídica e já ocorreu em vários países, incluindo os EUA. Achamos que é importante equalizar esse mesmo tratamento tributário equiparado ao que acontece no resto do mundo. Mas não dá para perder receita. A gente tem um problema fiscal complexo. Por isso faremos redução acompanhada da tributação de dividendos e de revisão dos juros sobre capital próprio. Temos que ver tudo isso em conjunto fazer conta e poder ter uma transição que permite fazer uma redução responsável da alíquota do IRPJ acompanhada de tributação de dividendos.”

Portanto, a solução encontrada pelo governo será rever a regra dos juros sobre o capital próprio (JCP) além de tributar os dividendos, permitindo a redução do IRPJ. Entende o governo, que o lucro deve ficar na empresa para ser reinvestido, fomentando seu crescimento. A escolha pela distribuição do lucro deve ser o último caminho. “No meu entendimento, seria um erro tributar dividendos sem rever a tributação da PJ. A redução da tributação tem um custo que precisa ser compensado. Você precisa olhar o conjunto. Eu prefiro ir para um sistema que é mais próximo do que o mundo inteiro pratica onde você reduz a tributação da PJ e taxa os dividendos e isso cria um incentivo a reter lucros nas empresas para investir no próprio negocio. Eu não vejo como correto só taxar dividendos sem rever taxa de PJ. Do contrário, nós vamos agravar o que existe hoje porque o Brasil tem uma taxação superior à media internacional.”

A reforma americana não alterou a regra dos dividendos, apenas reduziu a carga da pessoa jurídica, todavia, aqui no Brasil, o governo que vive uma crise fiscal sem fim e não pode perder receita, vai taxar os dividendos e mudar a regra do JCP para compensar a redução da alíquota do IRPJ. O governo afirma que essa nova equação corresponde ao praticado pelos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE. “O ponto de chegada tem que ser uma tributação equivalente à que tem a maioria dos países. Daí se faz uma combinação entre a base de cálculo e a alíquota. O resultado disso deve levar a uma tributação em linha com o que o resto do mundo está fazendo. A média da OCDE está em 21%, 22%, os Estados Unidos convergiram para isso. A partir do momento em que se está tributando o lucro, usa-se os padrões contábeis internacionais. Aí é uma questão de compatibilizar isso com a redução da tributação fiscal. Talvez tenhamos que construir uma transição para chegar lá.”

Por fim, questionado sobre o Imposto de Renda da Pessoa Física, o ministro esclareceu não existir nenhuma deliberação até o momento, nem mesmo para recompor a inflação. O desejo consiste, apenas, na taxação dos dividendos, mudança na regra dos Juros sobre o Capital Próprio e na redução do Imposto de Renda da pessoa jurídica.

Marco Antonio Mourão de Oliveira, 42, advogado, especialista em Direito Tributário pela Universidade de Uberaba-MG e Finanças pela Fundação Dom Cabral-MG.

O capitão nunca esteve tão próximo do Planalto

É preciso reconhecer a capacidade do deputado federal e candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL-RJ) de gerar delírios. Ele funciona como uma espécie de entorpecente capaz de turvar a visão da esquerda e da direita ao mesmo tempo.

Uma multidão delirante o recebeu em Juiz de Fora (MG). Após a fatídica facada, o delírio mudou de lado. Parte da esquerda abriu sua caixa de loucuras.

O atentado, feito por um lobo solitário desequilibrado, teria sido na verdade uma conspiração internacional tramada com a família Marinho e colocada em prática pela dupla CIA/Mossad. “Cadê o sangue?”, gritavam os “esquerdominions”.

O capitão lidera a pesquisa, subiu no último Ibope, e resolveu contratar um israelense ninja que no meio da multidão desferiu um golpe milimétrico que por pouco não o mata. Faz todo sentido.

Ou pior, a conspiração envolveu todos os médicos, enfermeiros e toda a polícia federal. “A verdade é que não existe corte, é coisa de Hollywood!” Chega a ser ridículo.

A facada entrou para a história pelo paradoxo de suas conseqüências. Atingiu o coração da democracia e catapultou o candidato que mais ameaças representa ao sistema democrático. Cortou em pedaços Geraldo Alckmin e pode levar a uma unificação de forças impressionante.

O assunto atraiu audiência no planeta. Deu a Jair o que ele não tinha e jamais sonhou. Uma avalanche de mídia espontânea positiva, permitindo-o furar o equilíbrio imposto pelas regras eleitorais à cobertura jornalística de candidatos.

Dores pessoais têm o poder de humanizar o mais ogro dos mortais. Fragiliza o fortão e o traz para perto das pessoas de carne e osso.

Fica a imagem do homem destemido que resolveu enfrentar o sistema e acabou perseguido, ferido mortalmente. Um cidadão que colocou a própria vida em risco pela missão de salvar o Brasil. A fala dele com a sonda no nariz no hospital é devastadora.

Se já tinha o poder de se comunicar com seu eleitorado como um “Lula da direita”, simples e objetivo, direto, se somou ao ex-presidente agora na condição de vítima. Temos duas vítimas do sistema, um preso e outro sangrando em cadeia nacional.

Qualquer marqueteiro será capaz de reduzir agora suas dificuldades com o eleitorado feminino. Basta trazer sua família e sua mulher para a cena chorando, dizendo da dor que seria perder um marido e um pai maravilhoso.

Se já estava difícil que a profecia de derretimento de Jair se concretizasse, agora ela parece impossível. Que eleitor vai abandonar seu escolhido gravemente ferido no leito de um hospital? Esqueçam, o brasileiro é altamente solidário na dor porque a conhece de perto.

A rejeição do capitão deve cair e as próximas pesquisas devem indicar alguma alta. A facada teve o poder de transformar o general Mourão num defensor do devido processo legal para o agressor. A mudança é radical.

A grande mídia está com a faca e o queijo na mão. Pode colocar Bolsonaro na TV 24 horas por dia sem nenhuma contestação. Trata-se de um fato jornalístico. Quem teria a coragem de questionar a cobertura da situação de uma pessoa gravemente ferida?

A pressão do establishment sobre o PSDB será insuportável. Ao garantir vaga no segundo turno com Jair, passarão a sonhar com uma vitória consagradora no primeiro turno. Alckmin foi o verdadeiro atingido pela facada. Está virtualmente morto.

A Justiça tende a radicalizar contra a aparição de Lula no processo eleitoral. Se a briga entre o PT e Ciro por uma suposta vaga no segundo turno se tornar insana, o risco de um abraço de afogados será enorme.


Ricardo Cappelli é jornalista, especializado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Foi secretário nacional de Esporte Educacional e de Incentivo ao Esporte nos governos Lula e Dilma. Ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), é tricolor e Vila Isabel de coração. Exerce atualmente o cargo de secretário chefe da representação no DF do governo do Maranhão.