EUA anunciam envio de 6 mi de vacinas contra Covid para Brasil e outros países da América Latina

Governo Biden diz que 75% dos imunizantes serão distribuídos pelo consórcio Covax

Os EUA anunciaram nesta quinta-feira (3) que vão enviar, inicialmente, 6 milhões de vacinas contra a Covid-19 para o Brasil e ao menos outros 12 países da América Latina. O compartilhamento será feito via Covax, iniciativa vinculada à OMS para a distribuição de doses a países em desenvolvimento.

O montante é uma fatia das 80 milhões de doses que o presidente americano, Joe Biden, anunciou que vai enviar a outros países nas próximas semanas.

O presidente americano, Joe Biden, fala sobre combate à pandemia na Casa Branca – Carlos Barria – 2.jun.21/Reuters

Em comunicado nesta quinta, Biden divulgou os detalhes da primeira parte do plano de distribuição, com o envio de 25 milhões de vacinas para o exterior. Destas, cerca de 25%, ou 19 milhões de doses, serão distribuídas via Covax, de acordo com a participação de cada país no consórcio: serão cerca de 6 milhões de doses para a América Latina e o Caribe, incluindo Brasil, Argentina, Colômbia, Costa Rica, Bolívia, El Salvador, entre outros; 7 milhões para o Sul e Sudeste da Ásia, como Índia, Tailândia, Laos e Vietnã; e 5 milhões para a África, em nações que, segundo a Casa Branca, serão selecionadas junto à União Africana.

Os outros 6 milhões de doses para fechar a conta das primeiras 25 milhões serão compartilhados diretamente com países que, ainda de acordo com o comunicado “estão passando por surtos”, como Índia e México. Apesar da situação grave da pandemia no Brasil, a Casa Branca não cita o o país nesta distribuição bilateral —o Brasil tem participação pequena na Covax por decisão do governo Jair Bolsonaro.

“Hoje, estamos fornecendo mais detalhes sobre como alocaremos os primeiros 25 milhões de doses dessas vacinas para preparar o terreno para uma maior cobertura global e lidar com surtos reais e potenciais, altas cargas de doenças e as necessidades dos países mais vulneráveis”, disse Biden em comunicado.

O restante das doses —55 milhões— vão seguir o mesmo padrão desta primeira parte do plano de distribuição: 75% via Covax e 25% de compartilhamento direto com países vizinhos e parceiros.

A Casa Branca está sob pressão internacional para ajudar nações mais pobres e em desenvolvimento no combate à pandemia, e o governo brasileiro –por meio da embaixada em Washington e o Itamaraty– pedia acesso a parte dos imunizantes.

Atrás da China em doações de vacinas, até agora os EUA não tinham decidido para onde iriam as doses, nem apresentado um plano detalhado de distribuição. Autoridades americanas dizem terem sido procuradas “por todas as regiões do mundo”, mas já haviam sinalizado que o Brasil era um dos destinos considerados por Biden.

O governo brasileiro procurou a Casa Branca pela primeira vez em março, somente depois de a imprensa americana noticiar que Biden avaliava doar doses, e após outros países já terem feito o mesmo pedido, como o México.

Em 19 de maio, o embaixador do Brasil nos EUA, Nestor Forster, reuniu-se com a coordenadora da resposta global à pandemia do Departamento de Estado americano, Gayle Smith, ao lado de representantes de outros países do hemisfério ocidental, para debater a distribução das vacinas. Mas nada de concreto foi decidido na ocasião.

Com o negacionismo do governo Jair Bolsonaro, novas variantes e um ritmo bastante lento na vacinação, o Brasil patina no combate à pandemia e é hoje um dos epicentros da crise, com quase 465 mil mortos. Os EUA, por sua vez, são líderes no número de mortos —com cerca de 595 mil vítimas— mas vê os casos, mortes e hospitalizações caírem vertiginosamente, em meio a uma campanha de imunização em massa de sucesso.

A Casa Branca comprou vacinas suficientes para imunizar três vezes toda a população, aplicou ao menos uma dose em 63% dos adultos do país, mas vinha sendo criticada por priorizar a vacinação interna, mesmo com excedentes de doses, enquanto diversos lugares do mundo estão assolados pela crise, como é o caso de Brasil e Índia.

Nos últimos dias, o ritmo de vacinação dos EUA vem caindo —com ceticismo de parte da população sobre a imunização— e Biden e governadores têm anunciado estímulos e planos para tentar chegar a 70% dos adultos vacinados até 4 de julho, quando o presidente diz que o país estará, finalmente, no chamado novo normal.

Durante um pronunciamento no início de maio, Biden anunciou que iria enviar mais 20 milhões de doses de vacina para o exterior até o fim de junho, montante que se somou às 60 milhões de doses da AstraZeneca que ele já havia se comprometido a distribuir a outros países no mesmo período.

O democrata quer liderar a diplomacia da vacina, hoje comandada pela China, que já compartilhou 252 milhões de doses com o exterior, ou seja, 42% do total de sua produção. Para comparação, as 80 milhões de doses prometidas pelos EUA representam 13% da fabricação local. A União Europeia, por sua vez, já exportou 111 milhões de doses, e a Rússia, 27 milhões, segundo o Wall Street Journal.

Biden explicou que as novas doses sairiam do escopo dos três imunizantes já aprovados para uso nos EUA —Pfizer, Moderna e Johnson & Johnson— enquanto os itens da AstraZeneca ainda precisam do aval da FDA, agência reguladora americana.

A distribuição das vacinas, segundo o presidente e seus auxiliares, será feita baseada em dados de saúde pública, em acordo com parceiros e, principalmente, com o consórcio Covax Facility, iniciativa vinculada à OMS para distribuição de doses a países em desenvolvimento.

Os EUA já haviam acordado em março o empréstimo de 4 milhões de doses da AstraZeneca para México e Canadá, mas o número destinado aos países vizinhos foi considerado simbólico.

No fim de abril, houve o anúncio do compartilhamento dos 60 milhões de doses da AstraZeneca, que estavam paradas nos estoques, sem autorização de uso pela FDA.

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Pátria levanta R$ 10 bi para investimentos em infraestrutura na América Latina

O Pátria Investimentos anunciou nesta segunda-feira (31) a captação de R$ 10 bilhões para investimentos na América Latina. O montante é o maior já levantado com esse fim na região.

Os recursos devem ser investidos nas áreas de energia, logística, transporte, infraestrutura de dados e saneamento no âmbito do fundo Pátria Infraestrutura IV.

Parte central da estratégia para direcionamento dos recursos é o respeito aos ESG (conceito relacionado a melhores práticas ambientais, sociais e de governança), afirma Felipe Pinto, sócio do Pátria.

“Olhando do ponto de vista dos nossos investidores, claramente a barra subiu. Eles são bastante rigorosos [com impactos ambientais e sociais]. É um tema que veio para ficar”, diz.

O setor privado no Brasil e exterior tem se organizado para pressionar o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) a combater o desmatamento ilegal, que vem crescendo a taxas recordes, temerosos do efeito da imagem negativa do país sobre seus negócios.

Segundo dados do Inpe, de agosto de 2019 a julho de 2020 o desmatamento na Amazônia aumentou 34% em comparação com o mesmo período anterior.[ x ]

Outra mudança observada pelo Pátria é o perfil dos investidores, com maior participação local, consolidando tendência que vinha sendo apontada desde o início do ano —25% dos R$ 10 bilhões captados vieram de investidores brasileiros.

“Isso é resultado da redução sustentada da taxa de juros e uma migração da poupança dos brasileiros que estava em renda fixa para ativos com maior perfil de risco e rentabilidade. No nosso fundo III, 5% a 10% foram captadoa de investidores locais, agora subiu para um quarto [25%]”, avalia o executivo.

Dos R$ 10 bilhões captados, 40% já estão comprometidos com três investimentos. O primeiro é a Essentia Energia, que atua nos ramos de eólica e solar, controlada 100% pelo fundo.

“Energia renovável é definitivamente uma área de interesse e queremos seguir consolidando e transformando-a numa das principais empresas de renováveis do Brasil”, afirma Pinto.

O segundo é a Pipa (conjunto de estradas estaduais paulistas que conectam Piracicaba e Panorama), rebatizada de Eixo SP. O Pátria venceu o leilão do lote no início do ano em sociedade com o GIC (Fundo Soberano de Singapura). A operação da concessão começou em junho.

O terceiro empreendimento é uma plataforma de torres de telecomunicação com foco em soluções de infraestrutura de dados wireless cujo nome deve ser divulgado nas próximas semanas. Como a Essentia, também é 100% controlada pelo Pátria.

“Vemos uma demanda contínua [nesse setor], que também pode se beneficiar com o advento do 5G e o adensamento da infraestrutura necessária para servir a nova tecnologia”, diz Pinto.

Em relação aos 60% restantes do fundo, o Pátria está interessado em projetos de transmissão de energia e geração de energia térmica dentro e fora do Brasil.

“O Brasil é sempre 80% da alocação [de recursos do fundo], mas temos visto oportunidades de investir em infraestrutura em outros países da região, por exemplo a Colômbia”, afirma.

No segmento de logística e transporte, o Pátria deve seguir incrementando sua participação em rodovias e ativos portuários. O fundo também está atento a novas oportunidades na área de transporte urbano.

Infraestrutura de dados segue entre as prioridades, especialmente fibra e data center, setores em que o Pátria já tem atuação de destaque.

“Evidentemente vimos uma maior aceleração [nesses ativos] porque houve uma aceleração da digitalização da economia [com a pandemia]”, diz.

A pandemia por outro lado levou a uma desvalorização da área de transportes, decorrente da redução do deslocamento de pessoas. “Foi uma desaceleração pontual, transitória, mas essas coisas voltam considerando ser uma atividade essencial num país com carência de infraestrutura”, afirma.

Já os aeroportos são um ativo que “naturalmente vai ser reprecificado”, avalia Pinto. O setor de aviação foi um dos mais atingidos pela pandemia e deve se recuperar lentamente.

​“Pelo menos agora nos primeiros anos da retomada, os preços devem cair. Não é que não temos interesse, se tiver um ativo no preço certo, temos interesse em perseguir”, diz.

Com a entrada vigor do novo marco regulatório do saneamento, que abriu o mercado para a iniciativa privada, Pinto afirma que investimentos nessa área estão no radar.

Até agora, o principal investimento do Pátria em saneamento é um projeto de dessalinização localizado no Chile. No Brasil, há apenas um pequeno investimento na Opersan, empresa de tratamento de efluentes industriais.

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