Durante cinco dias, uma comitiva composta por membros do gabinete da primeira-dama Marlúcia Cândida e da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SepMulheres) esteve na aldeia Mutum para o evento “Vivência Feminina”, que reuniu mulheres de diferentes matrizes culturais para vivenciar os saberes e espiritualidade do povo Yawanawa.
Conhecido como “povo da queixada”, os Yawanawa pertencem à família do tronco linguístico Pano e habitam na região do Rio Gregório, próximo ao vilarejo São Vicente, em Tarauacá, cerca de 480 km da capital Rio Branco. Lá, vivem cerca de duas mil pessoas em oito aldeias.
O “Vivência Feminina” consiste em uma série de rituais de ancestralidade onde os grupos se reúnem para celebrar o divino com cantos, danças, apresentações culturais, pinturas corporais, comidas tradicionais, banhos de ervas, bebidas típicas, contação de histórias e outras ações que refletem a cultura e história do povo Yawanawa.
Diferentemente dos demais povos onde, em regra, o cacique é o chefe político, administrativo e espiritual, na Aldeia sagrada Yawanawa esses atributos são direcionados às mulheres, que desempenham distintos papéis na comunidade. Uma quebra de paradigmas com o empoderamento feminino, o que não diminui o respeito à figura masculina.
Para a primeira-dama Marlúcia Cândida, a vivência proporciona experiências sobre a divindade dos povos da floresta e traz uma reflexão sobre valores de uma vida em comunidades indígenas.
“É sempre encantador participar desses momentos, que certamente ficarão marcados em nossas vidas. Junto a essas mulheres nós podemos participar dos rituais sagrados desde os banhos medicinais, cantorias, danças é uma celebração divina. A vivência é um universo mágico, as pessoas precisam conhecer essa realidade na floresta e fazer disso um modo de vida especial. A partir dessas experiências nós conseguimos observar a vida com outros valores”, destacou Marlúcia.
Já Concita Maia, gestora da SepMulheres, considera um privilégio vivenciar o sagrado feminino. “O empoderamento dessas mulheres, com certeza passa não apenas pelas condições da garantia e da cidadania, mas também pela espiritualidade muito grande que aqui é desenvolvida pelas lideranças femininas. A energia do sagrado feminino durante esses dias de vivência aqui na aldeia foi emitido para o Universo numa imersão de paz, de amor de possibilidades de sonharmos e de realizarmos os nossos sonhos”, ressaltou a gestora.
A americana Jade Fielding, esteve pela primeira vez no Brasil, especialmente para participar da experiência na aldeia e afirma destaca a conexão ímpar com a floresta, que proporciona uma nova visão sobre a maneira de viver.
“Eu acho que vim para desenvolver eu mesma e conectar com uma nova maneira de viver. Foi minha primeira experiência na América do Sul, e foi muito diferente de tudo o que havia vivido. Estar aqui me permitiu encontrar realmente minha casa, não importa onde estou, e isso tem sido um grande presente. Acho que as pessoas precisam desconectar um pouco do mundo lá fora e experimentar experiências semelhantes a esta.”
Pioneirismo
No Brasil, a política da gestão territorial e ambiental de Terras Indígenas se iniciou em 2012, no governo da então presidente Dilma Rousseff. Já no Acre, esse processo se deu em 2004, após a elaboração do Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), que apontou para a construção de um instrumento de diálogo entre o poder público e as comunidades indígenas.
O modelo desenvolvido no estado serviu de inspiração para a construção da Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial em terras indígenas (PNGATI). O território acreano é composto por 15 etnias e outras três não contactadas – os chamados “índios isolados” –, que representam 15% da área total do Estado.
Durante a gestão do governador Tião Viana, mais de R$ 64 milhões foram investidos na implementação e fortalecimento políticas públicas voltadas aos povos indígenas. Como reconhecimento ao trabalho desenvolvido, o Acre conquistou ao longo dos últimos sete anos o apoio de instituições internacionais para o fortalecimento das ações desenvolvidas, a exemplo do Programa de Saneamento Ambiental Integrado (Proser), Banco Mundial, banco alemão KfW e o Programa Global REM (REDD Early Movers – pioneiros na conservação) que consolidou mais R$ 26.271,000 já captados e destinados aos povos indígenas para serem geridos até o ano de 2020.
Como resultado da valorização dos povos indígenas, o Acre celebra ainda o baixo índice de mortalidade infantil nas aldeias indígenas, resultado direto dos investimentos em saneamento básico, entre outros avanços celebrados pelos indígenas.
“Hoje temos uma casa de produção que se tornou referência para as mulheres de outras aldeias, nossas crianças e jovens são instruídas aqui mesmo, temos irmãos nossos que se tornaram referência em outros países, também conseguimos envolver a comunidade no artesanato, nossas crianças estão mais saudáveis, enfim, ainda temos algumas conquistas a alcançar, mas já avançamos muito e isso graças ao apoio do governo do estado sempre sensível às causas indígenas”, disse Júlia Yawanawa, liderança indígena.
Segundo estudo divulgado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) em 2010, intitulado “Fatos Florestais da Amazônia”, dos nove estados da Amazônia Legal brasileira, o Acre está em segundo lugar no ranking de cobertura florestal. Só perde para o Amazonas, que mantém 88,2%. Atualmente o estado mantém o índice de 87% de sua floresta nativa preservada, resultado dos programas de redução do desmatamento ilegal realizado pelo governo do estado em parceria com os órgãos de controle e proteção do meio ambiente e os povos indígenas contribuem para esse processo.