Um ano perdido

A fuga canhestra de Abraham Weintraub do País e seu desembarque caricato em Miami foram o apogeu de uma gestão daninha na Educação.

O pior ministro da Educação que o Brasil já teve se despediu com um bilhete em papel de pão, um abracinho no presidente e uma banana para o País. Para poder entrar nos Estados Unidos, se valeu de uma fraude ao Diário Oficial, mais um expediente que vai se tornando rotina no governo coalhado de ilegalidades de Jair Bolsonaro.

Antes de mais essas cenas de pastelão, no entanto, o dono da cachorrinha Capitu entregou um ano perdido, em que os alunos não foram apenas expostos aos riscos para a saúde física e mental decorrentes da pandemia, mas à completa falta de perspectiva para seu futuro escolar graças à inépcia do Ministério da Educação.

Depois de, por pura birra, tentar obrigar alunos do Ensino Médio a fazer o Enem sem ter aulas, ou tendo sido jogados de paraquedas num ensino à distância com mais buracos que a superfície da Lua, e ser forçado a recuar pela Justiça e pelo Congresso, Weintraub simplesmente desligou as operações.

Não houve, por parte do MEC, uma diretriz sequer de retomada a Estados e municípios de como planejar a retomada das aulas, e a que tempo.

Além disso, o ministério, que já era um ator tardio e secundário na discussão do financiamento da educação básica a partir do ano que vem, se esqueceu deliberadamente do assunto.

O ministro-clown preferiu gastar seus últimos dias à frente da pasta conspirando contra a democracia, confraternizando com milicianos golpistas, tentando impor às universidades federais reitores biônicos e exterminar as políticas de ação afirmativas adotadas para franquear o acesso à pós-graduação a negros, indígenas e deficientes.

Numa calamidade sanitária, empenhou toda a sua energia na destruição, na apologia ao golpismo, à obsessão de fechar portas àqueles para os quais a Educação deveria ser uma ponte para o futuro.

O estrago é tão indisfarçável que Bolsonaro, que também não está nem aí para a Educação, tem de cobrar dos candidatos a ministro um plano para a volta às aulas, já que a equipe que o fujão deixou não tem nada a apresentar, ao que parece.

As consequências recaem sobre alunos de todos os ciclos, de todo o País e das redes pública e privada. E a borduna, como sempre, vai bater mais forte na cabeça dos mais pobres. As iniciativas municipais e estaduais de ensino à distância são um conjunto irregular e fake, em que uns saíram levemente na frente e outros não conseguiram nem se organizar três meses depois.

Não há compensação possível, por exemplo, para alunos de universidades federais cujas instituições nem tentaram implementar ensino à distância. Jogados em casa, muitas vezes sem acesso a entretenimento ou cultura, esses alunos questionam se o plano que haviam traçado para o próprio futuro ainda fará sentido após a pandemia ter varrido perspectivas acadêmicas, empregos e cadeias produtivas inteiras.

Os pais dos estudantes de escolas e faculdades privadas podem até ter a ilusão de que as aulas online supriram esse buraco, mas basta acompanhar um dia da rotina de alunos jogados diante de telas que jogam conteúdos incompatíveis com a nova realidade para saber que isso é conversa mole para cobrar mensalidade integral.

Cabe a esses pais e estabelecimentos se entenderem, mas no caso da Educação pública a responsabilidade é dos governantes. É urgente que o MEC exume o fantasma Weintraub e assuma um mínimo de articulação de estratégia educacional. E governadores e prefeitos têm de deixar de pensar em reabrir shoppings e focar em dar a pais e alunos um protocolo responsável para redução de danos de um ano perdido.

O pior ministro da Educação que o Brasil já teve se despediu com um bilhete em papel de pão, um abracinho no presidente e uma banana para o País. Para poder entrar nos Estados Unidos, se valeu de uma fraude ao Diário Oficial, mais um expediente que vai se tornando rotina no governo coalhado de ilegalidades de Jair Bolsonaro.

estadao

MEC deverá continuar sob influência ideológica olavista com ou sem Weintraub

Uma eventual troca no comando do MEC (Ministério da Educação) pode tirar a pasta do centro de polêmicas, movimento provocado pela postura do ministro Abraham Weintraub, mas não há perspectiva de alterações na influência ideológica no órgão.

A ala mais ideológica dentro do governo Jair Bolsonaro, com apoio dos filhos do presidente, foi a maior responsável pela chegada de Weintraub ao MEC. Ele assumiu o cargo em abril de 2019, após demissão de Ricardo Vélez Rodríguez.

Foi exatamente a disposição de Weintraub de manter um papel ativo na chamada “guerra cultural”, com acenos estratégicos à militância de direita mais fiel ao presidente, o principal motivo de sua permanência no MEC até agora.

Ele foi mantido no cargo por Bolsonaro mesmo com uma relação de Weintraub com o Congresso em ruínas e com uma oposição crescente a seu nome entre os militares.

O próprio deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, ressaltou a importância de Weintraub nessa guerra cultural, em conversa com ele pelas redes sociais.

A última provocação de Weintraub contra o STF (Supremo Tribunal Federal) teve impacto considerável para forçar uma eventual saída, mas até a última derrota dele no Congresso, com a devolução de uma MP (medida provisória) sobre nomeação de reitores das federais sem eleição, foi vista por interlocutores como um movimento ensaiado do governo.

A derrota era certa, uma vez que outras duas MPs de Weintraub já haviam caducado. Mesmo assim, o tema foi levado a diante, como uma espécie de teste de limites, na avaliação de interlocutores do ministro e integrantes da pasta.

As universidades federais são alvo frequente de ataques de Weintraub. O ministro associa as instituições a um suposto domínio da esquerda, desperdício de dinheiro e uso de drogas e se esforça em desmerecer o movimento estudantil.

Enquanto enfrenta consequências de declarações contra o STF e contra chineses, Weintraub mantém sequência de ataques a adversários políticos de Bolsonaro.

O alvo predileto mais recente é o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

À frente do MEC, Weintraub construiu uma persona agressiva e de alto teor ideológico. Isso ocorreu em detrimento da construção de um líder nacional comprometido com os rumos da educação, sem diálogo com secretários de Educação e ausente, por exemplo, da discussão legislativa mais importante sobre o tema, que é a renovação do Fundeb (principal mecanismo de financiamento à educação básica).

Mas, segundo pessoas próximas ao MEC, o único pressuposto para ocupar a pasta, na visão de Bolsonaro e de seu núcleo, é um alinhamento de discurso.

O andamento das políticas de educação não está entre as principais preocupações do presidente. Dessa forma, não é esperada qualquer mudança no caráter ideológico da pasta.

A equipe do MEC passou por diversas alterações durante o mandato de Weintraub, mas o único nome mantido dentro do ministério foi o do secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, indicação do escritor Olavo de Carvalho, guru do bolsonarista.

Nadalim não sai da pasta independentemente de quem for o ministro, dizem nos bastidores.

Segundo interlocutores, ele tem, inclusive, apostado na indicação da secretária de Educação Básica do MEC, Ilona Becskeházy, para o lugar de Weintraub.

Doutora em educação e consultora experiente do tema, Ilona era desde o ano passado uma das poucas pessoas envolvidas no tema a defender a gestão de Weintraub, sobretudo com relação à nova política de alfabetização.

Com isso, ela passou a ser seguida e elogiada por entusiastas de Olavo de Carvalho e, em abril deste ano, foi anunciada para o cargo.

Weintraub também está cercado de nomes próximos de olavistas e ou dos filhos do presidente, como os assessores Sergio Sant’anna e Victor Metta.

O deputado Idilvan Alencar (PDT-CE) vê o momento com pessimismo porque, segundo ele, não há no entorno do presidente pessoas ligadas à educação.

“Temos duas questões urgentes, que é o financiamento da educação, com Fundeb, e a educação em tempos de pandemia. Mais do que nunca precisávamos de um ministro que conhece a pauta, mas o que há é muita apreensão”, diz ele, ex-secretário de Educação do Ceará e ex-presidente do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).

folha.uol

“Tentam deturpar minha fala”, se defende Weintraub

Terra – O ministro da Educação, Abraham Weintraub, utilizou sua conta no Twitter neste domingo, 24, para se manifestar com relação à repercussão de suas declarações durante reunião ministerial com o presidente Jair Bolsonaro, dia 22 de abril.

“Tentam deturpar minha fala para desestabilizar a Nação. Não ataquei leis, instituições ou a honra de seus ocupantes. Manifestei minha indignação, LIBERDADE democrática, em ambiente fechado, sobre indivíduos. Alguns, não todos, são responsáveis pelo nosso sofrimento, nós cidadãos”, escreveu Weintraub.

Na sexta-feira, 22, o ministro do Superior Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, liberou a divulgação de vídeo da reunião entre o presidente Bolsonaro e ministros. A reunião ministerial e mensagens enviadas por celular foram citadas pelo ex-ministro Sérgio Moro como prova da tentativa de interferência do presidente Bolsonaro na Polícia Federal.

Durante a reunião, Weintraub chegou a dizer: “Por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF”. Ao levantar o sigilo do vídeo da reunião, o decano do STF apontou aparente “prática criminosa” na conduta de Weintraub, “num discurso contumelioso (insultante) e aparentemente ofensivo ao patrimônio moral” em relação aos ministros da Corte. Para Celso de Mello, a declaração de Weintraub põe em evidência “seu destacado grau de incivilidade e de inaceitável grosseria” e configuraria possível delito contra a honra (como o crime de injúria).