Operação Leviatã desarticula braço do PCC e estanca tráfico de arma

Irmandade Ifara, de maioria feminina, movimentou R$ 1,5 milhão na compra de arsenal de guerra – Foto: Juan Diaz

A polícia desmantelou um braço do Primeiro Comando da Capital, o PCC, que era liderado por uma mulher de dentro de um presídio, na Operação Leviatã, segundo informaram ontem as polícias Civil, Federal e Militar no Acre.

Nos últimos meses, a Irmandade Força Ativa do Acre, conhecida por Ifara, uma espécie de ramificação do PCC no Acre, teria recebido recursos de mais de R$ 1,5 milhão para comprar armamento de guerra, entre fuzis, metralhadoras e granadas, cuja rota está o território acreano rumo ao sudeste do país.

Em entrevista coletiva, delegados das polícias Civil e Federal e oficiais da Polícia Militar anunciaram também a possibilidade de que três servidores do Tribunal de Justiça do Estado do Acre, o TJAC, tenham participação nesses crimes, fornecendo informações e embaraçando processos nos quais os integrantes da facção estão arrolados.

“Contra pessoas foram expedidos mandados de conduções coercitivas. Elas foram ouvidas e liberadas, mas com a condição de que poderão novamente ser intimadas”, diz o delegado federal Fares Feghali, um dos coordenadores da investigação. Nesta manhã de sexta-feira, além das 11 prisões preventivas e das três conduções coercitivas, foram cumpridos outros 15 mandados de buscas e apreensões.

A Operação Leviatã durou seis meses e encontrou batismo na obra ‘O Leviatã’ , do cientista político Thomas Hobbes. O livro retrata uma sociedade em que todos os homens são iguais em força e capacidade, embora isso não aconteça na prática, o que faz com que o Estado tenha de atuar para resguardar a sua soberania.

Na prática, “as ações das polícias demonstraram uma reposta estatal às organizações criminosas que vêm atuando no estado [do Acre]”, diz parte de uma nota expedida pela Polícia Federal.

Ontem, numa de suas últimas cerimônias antes de deixar o cargo, a desembargadora-presidente do TJAC, Cezarinete Angelim, comentou as investigações que citam os servidores do Judiciário.

Segundo Cezarinete, “se for confirmada a participação, que se cumpra a lei”. Ela pronunciou a citação em latim “dura lex, sed lex, a lei é dura, mas é a lei”, para dizer que apoia as investigações.

Braço do PCC é composto de mulheres e especialista no tráfico

A Irmandade Força Ativa do Acre, Ifara, é uma organização relativamente nova, e por isso, até pouco tempo não catalogada na lista das monitoradas pelas polícias.

E por tratar-se de um braço do PCC, sua função, segundo o delegado Feghali, é traficar armas pesadas, incluindo artefatos bélicos como granadas contrabandeadas de mercados, possivelmente, asiáticos, que chegam pela Bolívia e pelo Peru.

Conforme Feghali, a Ifara é comandada por uma presidiária de dentro de uma penitenciária do Acre. “Ela tem relativa facilidade de articulação com os demais membros aqui fora, mesmo estando presa”, diz a autoridade federal.

Por isso, alguns dos mandados foram cumpridos dentro das cadeias, e embora já estejam presas, essas pessoas foram notificadas de que responderão pelos crimes citados neste novo processo.

“Outra característica dessa subdivisão do PCC é que o grupo é composto, em sua maioria, por mulheres”, diz o delegado. “O mais importante é que os grupos criminosos têm recebido à altura a resposta de força de nossas polícias”.

Preocupante: Acre tem a 8ª maior filiação ao PCC do Brasil

Um levantamento do Centro de Segurança Institucional e Inteligência do Ministério Público de São Paulo mapeou a presença do PCC nos estados e mostra que no Acre, a facção tem pelo menos 578 membros.

Numa escala de cores no mapa nacional, esse contingente é considerado alto: trata-se do 8º maior número de integrantes entre os estados, perdendo apenas para Rio Grande do Sul, Roraima, Ceará, Alagoas, Paraná, Minas Gerais e São Paulo. Neste último encontra-se a grande massa de filiados: 7 mil membros. Os números abrangem presos em liberdade.