O parque jurássico acreano

Para uns, apenas passatempo. Para outros, razão de viver. Dedicar uma vida a colecionar coisas esquecidas ou descartadas faz parte da vida de milhões de pessoas no Brasil e no mundo. O Jornal Opinião foi no Município de Marechal Thaumaturgo, interior do Estado do Acre (distante 558 km da Capital Rio Branco), para conhecer um representante dessa turma tão particular e revela os objetos de sua paixão, bem como sua motivação para guardá-los.

Colecionador desde criança e detentor de conhecimentos (adquiridos através de muita leitura) nas áreas de geologia, paleontologia e história, seu Renato Bezerra Mota, policial civil aposentado de 76 anos, tem muita história para contar.

O colecionador de mastodontes e preguiça gigantes

Já na entrada da casa de Renato, é possível observar um painel com diversas facas, espadas, machados e punhais que coleciona a mais de 13 anos. “Eu gosto de colecionar, toda a minha vida eu gostei de colecionar. Quando eu era pequeno colecionava lápis, tinha uma infinidade de lápis, com infinidade de cores. Depois resolvi colecionar caixas de fósforo, depois fui para o chaveiro, fazia tudo para conseguir um chaveiro”, diz deixando claro a paixão em colecionar coisas.

Há 37 anos, Renato Mota tem se dedicado a colecionar fósseis de animais pré-históricos encontrados nas margens de rios e igarapés de Marechal Thaumaturgo.

Fazem parte da vasta coleção; fósseis de Purussaurus, Mastodontes, Tartarugas e Preguiça Gigantes. São fósseis que ele encontra pesquisando e com ajuda de ribeirinhos que sabem de seu interesse pelas peças. “Nessa região se fossem pesquisar encontrariam muitos fósseis, sempre na mata próximo a igarapés pequenos”.

Não há como não ficar maravilhado pelo entusiasmo de Renato e também pela diversidade do material exposto ali mesmo no chão da sala, ainda sem a organização científica ou catalogação sistemática. Cada visitante tem a oportunidade de interagir com as peças, tocá-las ou fotografá-las o quanto quiser.

Cada fóssil mostrado por seu Renato durante a entrevista foi uma volta ao passado. Uma por uma ele se lembra de como e onde que foi encontrada. Ainda tem a primeira primeira peça, a responsável pela paixão por fósseis. Trata-se de um molar de Preguiça Gigante, que foi adquirido por ele logo que chegou ao município. Depois que começou a coleção de fósseis Mota não parou mais. Segundo ele, já são mais de 60 peças.

Falta apoio

O entusiasmo de Renato Mota se perde um pouco quando fala do sonho de expor sua coleção e do desejo de que ela permaneça em Marechal Thaumaturgo como patrimônio histórico da cidade. Para isso, conta que já buscou parcerias e apoio de todos os prefeitos.

No entanto, nunca obteve nenhuma resposta ou demonstração de interesse por parte dos administradores. “Eu estou aqui na sede há 17 anos, apelei para todos os prefeitos e até hoje só tive promessas”, lembra o colecionador.

Mota lembra que já procurou a Universidade Federal do Acre (Ufac) propondo parceria, mas Ufac não se interessou em realizar pesquisas na região. “Já quis fazer parceria só para acompanha-los pois conheço os locais. Mas segundo eu soube aqui, eles disseram que não interessava a área do Juruá porque a área do Rio Acre tinha mais fósseis e era mais próximo”, diz desmotivado.

Conforme seu Renato, nem prefeitura, governo ou universidade tiveram interesse em apoia-lo, seja em disponibilizar espaço para expor os fósseis ou em designar profissionais na área de paleontologia para pesquisar na região.

Atualmente o colecionador de fósseis pretende mudar para outro Estado e sua maior preocupação é o que fazer com toda história que tem na sala de casa.

Levar seria inviável, e não gostaria de tirar algo que faz parte do município. “Minha maior vontade é expor, criar um pequeno museu e deixar aí”.

Importância

A casa de Mota, o cantinho da sala, é um ponto turístico no município. Lá recebeu autoridades políticas, pesquisadores estrangeiros, universitários e visitantes curiosos. Sempre disposto a expor os fósseis não faz objeções, todos que quiserem podem conhecer.

A coleção é tão importante na cidade que vários professores escolhe o lugar para mostrar aos alunos coisas que estão apenas em seus livros. Renato pesquisou e estudou sobre o assunto para saber a que tipo de animais pertenciam os fósseis, agora transmite esse conhecimento aos visitantes que também buscam conhecer.