Se hoje o Acre está em pleno desenvolvimento, sendo ligado por pontes modernas que marcam uma nova etapa na vida social da população, durante as décadas de 70 de 80, um jornalista fazia, por meio da comunicação, pontes entre culturas, encurtando caminhos entre o longe e o perto, o novo e o velho, transformando tudo em arte.
Um cidadão cheio de sonhos, amigos, livros e músicas. Assim era Francisco Ventura de Menezes, conhecido na cena cultural acreana como Chico Pop. Nascido na cidade de Cruzeiro do Sul, em 1944, quase chegou a ser padre, mas abandonou o seminário para dedicar-se aos festivais de música, ao jornalismo e a cultura.
Como destaca o professor Marcos Afonso, “Chico Pop captava o mundo e distribuía a novidade pela província anestesiada”, como era vista a Rio Branco daquela época.
“Eu gostava muito do Chico. Adorava ler o que ele escrevia. Dia de domingo era de praxe comprar o jornal e ler “A Cidade se Diverte” ou “Altos Tititis”. O Chico deixava a gente por dentro de tudo que estava acontecendo na cultura, tanto daqui, quanto de fora”, afirmou Raimunda Teixeira, professora e amiga de Chico.
Era por meio das colunas “a cidade se diverte” e “altos tititis” que a cultura de fora do Acre se encontrava com o que pulsava por essas paragens. E foi nos encontros feitos por esse amante de Chico Buarque, Vinicius de Moraes, Beatles e Rolling Stones que uma leva de leitores, amantes da cultura e que ainda hoje militam nela no Estado, começa a se formar.
A produtora cultural e presidente da Fundação Elias Mansour, Karla Martins, uma das fiéis seguidoras do que era veiculado pelas colunas do jornalista, diz que Chico Pop, lá na década de 80, já imaginava um Acre contemporâneo. “Ele nunca foi ‘déjà vu’, nunca teve um discurso pautado no passado. Ele sempre me mostrava um discurso pautado no agora e para frente”, ressalta.
Mesmo sem viver à época em que as colunas escritas por Chico Pop ditavam os caminhos da cultura acreana, a jornalista e professora da Ufac, Giselle Lucena, se dedica a estudar o trabalho do jornalista desde a sua monografia produzida entre os anos de 2008 e 2009. Giselle afirma que as colunas atraiam uma grande gama de leitores: “Tinha muita gente que comprava o jornal só para ler à coluna do Chico ou que escolhia sempre a coluna do Chico como a primeira opção de leitura do jornal”.
Vivendo o auge o período ditatorial, por meio de sua escrita, foi capaz quebrar o moralismo de uma sociedade cheia de convencionalismos, fazendo pontes com a cultura mais contemporânea existente no país e no mundo, arregimentando uma grande leva de seguidores, mesmo trabalhando em um veículo conservador como o Jornal O Rio Branco.
Jornal, naquela época, era escrito de forma ainda meio precária. Mas a coluna do Chico era esperada por muita gente. O Chico construía pontes num acre que era, geograficamente, distante. Era uma antena parabólica.
Fã de Charles Chaplin, amante da liberdade. Chico não deixou casa, filhos… mas deixou saudades. Ele se foi em meio às cinzas de uma quarta-feira, mas nem por isso parou de brilhar, pois, como ele mesmo costumava dizer, não morreria, viraria purpurina.