Jornal ‘O Globo’ destaca Boca do Acre sob fumaça há dias

A reportagem começou fazendo uma afirmativa que havia sido feita pela reportagem do Jornal Opinião: “O município de Boca do Acre, no Sul do Amazonas, está rodeado de chamas e coberto por fumaça há mais de uma semana”.

Boca do Acre foi pauta de uma reportagem do jornal ‘O Globo’, que abordou o fato de a cidade está encoberta de fumaça há semanas, fruto de muito desmatamento e queimadas exacerbadas.

A reportagem começou fazendo uma afirmativa que havia sido feita pela reportagem do Jornal Opinião: “O município de Boca do Acre, no Sul do Amazonas, está rodeado de chamas e coberto por fumaça há mais de uma semana”.

A reportagem de O Globo entrevistou o chefe de gabinete da Prefeitura de Boca do Acre, Flavio Zaneth, que disse ao veículo de comunicação que “a fumaça é ainda mais densa na parte alta da cidade, onde fica a Prefeitura e todos os serviços, como banco e até o hospital”.

— (A fumaça) vem da queima de pastos e do desmatamento em Lábrea (município vizinho) — diz Zanateli.

A culpa injusta
O município de Lábrea leva uma culpa que não é dele, mas de Boca do Acre, uma vez que o Projeto de Assentamento Monte, que está em grande parte em território labrense, é praticamente ocupado por produtores rurais de Boca do Acre, que derrubam a floresta e queimam, mas os dados negativos vão sempre para o vizinho.

Essa ocupação do Monte por pecuaristas de Boca do Acre, que ano após ano seguem desmatando e queimando, fazem com que Lábrea seja destaque negativo nos levantamentos de incêndios florestais e desmatamento.

No período de agosto de 2020 a julho de 2021, que corresponde ao calendário do desmatamento na Amazônia, Lábrea (Boca do Acre) desmatou 445 km² e ocupou o quarto lugar no ranking, atrás de Altamira (PA), Porto Velho (RO) e São Félix do Xingu (PA).

Boca do Acre registrou no mês passado apenas 35 km² de desflorestamento, mas o município de quase 35 mil habitantes é onde mora boa parte dos empresários rurais que atuam no sul de Lábrea. O centro comercial e residencial do município vizinho é bem mais distante da área afetada.

Relatos
Morador de Boca do Acre, Cosme Capistrano, da Comissão Pastoral da Terra, conta que precisou comprar nebulizador para fazer inalação em sua filha mais nova, um bebê de apenas 8 meses, e a família sofre com tosse e ardência nos olhos. À noite, segundo ele, fica a situação piora. Sem ventos para dispersar a fumaça na atmosfera, ela baixa perto do solo como neblina, dificultando ainda mais a respiração.

— Os animais estão fugindo do fogo e chegando perto das casas – diz ele, que flagrou nesta semana numa estrada de terra perto da cidade duas onças pintadas que saíram da mata em chamas.

Segundo ele, equipes do Exército e do Ibama estão na região, mas chegaram tarde, pois o desmatamento já ocorreu e agora a fase já é de queimadas para limpar as áreas.

Margarida Vieira Menezes, que produz pamonhas e tem um pequeno sítio onde planta milho, diz que pequenos proprietários não usam mais fogo. Há 10 anos ela trocou o velho método pela plantação de uma rama entre os pés de milho, que protege o solo e aduba a terra. A rama é cortada e as folhagens são deixadas no local.

— Não precisamos tocar fogo há muito tempo — diz ela.