
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou uma movimentação de 32 milhões de reais entre janeiro de 2020 e abril de 2023 nas contas da empresa Cedro do Líbano Comércio de Madeira e Materiais para Construção, suspeita de financiar despesas pessoas da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo desta sexta-feira 28.
A avaliação do Coaf é de que a movimentação é incompatível com o porte, o patrimônio, a atividade e a capacidade financeira da empresa. De acordo com o relatório, a Cedro do Líbano recebeu 16,6 milhões de reais e gastou este mesmo valor pouco depois.
“Chama atenção a aparente incompatibilidade entre o porte/estrutura, vis à vis o volume transacionado a crédito no período analisado, o que supostamente pode demonstrar que cliente esteja utilizando a conta para transacionar recursos provenientes de atividades não declarada”, diz um trecho do relatório do Coaf revelado pelo jornal.
A empresa, cita a publicação, já é investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Os dados também teriam sido encaminhados para a CPMI do 8 de Janeiro, que apura o financiamento dos atos golpistas em Brasília. A Cedro estaria na mira, ainda de acordo com o jornal, da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal.
A empresa, ao longo do período, transferiu recursos para um auxiliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Trata-se do sargento do Exército Luís Marcos dos Reis, preso desde maio pela falsificação nos cartões de vacinação. Ele integrava a equipe do ajudante de ordens Mauro Cid, outro militar preso no esquema criminoso. Reis, conforme destaca o Estadão, também participou dos atos golpistas de 8 de Janeiro.
É justamente a movimentação entre a empresa e o auxiliar que levanta suspeitas sobre o uso de dinheiro público para pagar contas pessoais de Michelle Bolsonaro. A empresa tinha contratos com o governo federal, por meio da Codevasf e outros órgãos públicos. Os recursos repassados ao militar eram sacados e foram usados para pagar contas da ex-primeira-dama. Parte do dinheiro também teria sido repassado para parentes de Michelle.
Em maio deste ano, após a prisão do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, foi revelado pelo jornal Folha de S. Paulo que a Polícia Federal pediu a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telemático de Luis dos Reis. A iniciativa serviu para investigar as transações entre ele e a empresa.
As solicitações da PF foram acolhidas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, no final de 2022, e nasceram da análise de mensagens do tenente-coronel Mauro Cid, então braço-direito de Bolsonaro na Presidência. Os pedidos ocorreram no âmbito da apuração sobre o vazamento de um inquérito sigiloso a respeito de um ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral.
Até o final de 2022, a PF não havia identificado um vínculo formal ou informal entre Reis e a empresa para justificar a movimentação financeira registrada. No mesmo período, Reis esteve envolvido nas transações investigadas pela PF sob suspeita de desvio de dinheiro da Presidência por meio de Mauro Cid e a pedido da então primeira-dama Michelle Bolsonaro.
De acordo com a PF, Reis repassou quantias a pessoas indicadas por assessoras de Michelle, entre elas Maria Graces de Moraes Braga, tia da ex-primeira-dama, e Rosimary Cardoso Cordeiro, responsável por um cartão de crédito utilizado por Michelle.
Os envolvidos no caso ainda não comentaram as novas revelações sobre o relatório do Coaf desta sexta-feira.