Dívida eterna

A exibição da seleção brasileira de futebol, na noite de quinta-feira, contra o Uruguai, em plena Montevidéu, capital lá deles, foi sem dúvida daquelas para a gente guardar num cantinho da memória (e/ou armazenar em arquivo digital) e assisti-la inúmeras outras vezes. E sempre outra mais!

O Uruguai, afinal de contas, não era nenhuma galinha morta dessas que a gente compra no mercado já sem as vísceras, pronta para ser levada para uma panela de pressão.
Muito pelo contrário. Os caudilhos estavam (ainda estão) em segundo lugar nas Eliminatórias para a próxima Copa.

Acrescentando-se à sua posição privilegiada na tabela de classificação o fato de que eles haviam vencido as seis partidas realizadas no lendário Estádio Centenário e sofrido somente um gol, então a gente tinha todas as informações para saber que não seria fácil enfrentar os caras.

Quando a bola rolou, entretanto, a seleção brasileira fez o jogo ficar fácil. E nem sequer se abalou pelo gol que sofreu nos primeiros minutos do combate, após uma jogada infeliz do lateral Marcelo. A jogada, aliás, só foi infeliz pelo excesso de confiança do time comandado pelo técnico Tite.

O gol da chamada Celeste Olímpica não abalou um milímetro sequer a confiança dos “canarinhos”. Os uruguaios passaram a marcar o time brasileiro mais atrás, deram algum espaço e acabaram pagando um preço salgado pela tática equivocada. O Brasil deu show e partiu para os abraços.

O show do Brasil foi tanto e tamanho que contagiou até os argentinos do diário esportivo Olé, normalmente sarcásticos e mordazes com o nosso desempenho futebolístico. Maravilhados, “los hermanos” estamparam no site do jornal, logo após o jogo, o seguinte título: “La séptima maravilla”.

No corpo da matéria do Olé segue-se uma profusão de elogios, como no trecho que transcrevo a seguir. “Sem dúvida, a melhor seleção sul-americana do momento. Brasil ficou a um passo de obter sua classificação ao Mundial depois de golear ao Uruguai, no Centenário”. Admiração pura!

Independentemente, porém, do ótimo momento vivido pela seleção brasileira (oito vitórias consecutivas, sendo sete pelas Eliminatórias e uma em amistoso, aquele contra a Colômbia), a minha maior satisfação nessa noite de quinta-feira (23 de março) foi o fato de o adversário ser o Uruguai.

No meu entendimento, ao vencer o Brasil na final da Copa de 1950, em pleno Rio de Janeiro, calando mais de cem mil pessoas que foram ao Maracanã achando que ia ser um passeio brasileiro, o Uruguai contraiu uma dívida eterna com a gente. Tem que perder todas até o fim dos tempos!