Bazar Chefe, muita história e 1001 utilidades

Os versos da música de Ana Carolina são bem mais atuais, mas cabem muito bem à uma lojinha de variedades, localizada ali no Centro de Rio Branco, que surgiu há 47 anos: a tão conhecida Bazar Chefe.

O comércio, cuja a história se confunde com a própria história do desenvolvimento da capital acreana, lá nas margens do Rio Acre, resistiu ao tempo e à modernidade, e conta com uma infinidade de produtos que talvez os mais jovens nem sequer ouviram falar.

São fogareiros, rádio a pilha, desentupidor de boca de fogão, bules e até ferro de passar a carvão. Quase tudo o que se imaginar tem naquele amontoado de coisas que tanto atrai não só os rio-branquenses, mas também pessoas do interior do Estado. A loja é pequena, mas assim como os livros, tem um milhão de histórias para contar.

Seja de um cliente assíduo, seja de um viajante qualquer.

“Ah, tem muita gente que vem aqui e começa a conversar contando um monte de causos. Fala de filhos, de mulher, da mata… se eu fosse contar cada coisa que já ouvi aqui, um ano inteiro não bastava”, conta Tancredo Ferreira de Souza, mais conhecido como Chefe, dono do estabelecimento.

A história dele é parecida com a de muitos brasileiros, com muito trabalho, esforço e superação

“Eu já fui auxiliar de pedreiro, ajudei a fazer algumas calçadas daqui do Centro, depois fui ser vendedor de picolé – fiquei dez anos nisso, tenho até a carteirinha assinada por um juiz. Eu comecei a trabalhar muito cedo, hoje vejo uns rapazes 18 anos que nunca trabalharam em nada aí ficam ociosos e muitas vezes vão fazer o que não é certo. Depois eu criei o Bazar Chefe. Comecei com uma pequena banquinha onde eu vendia cigarro, tabaco, papilim, cachimbo e até perfumes, como o Tabu, o Topaze…”.

Tancredo afirma que aos poucos o comércio foi crescendo e se tornou o que é hoje, referência na venda dos mais variados tipos de produto.

“Hoje eu vendo muita coisa, quase tudo que se precisa eu tenho aqui. Esmeril e os rádios são as marcas registradas da casa. A gente foi crescendo, mas nunca esquecendo a humildade nem os amigos que vêm aqui”, explica.

Marly da Silva trabalha no Bazar chefe há mais de 20 anos e discorre sobre o tempo de serviço na loja e fala de gratidão. “É muito gratificante trabalhar aqui, por isso estou aqui a tanto tempo. Não tenho tempo ruim e acho que o comércio do seu Chefe é uma parte da história daqui”.

Maria Aparecida é cliente do Bazar desde criança, época em que acompanhava a mãe nas compras. “Vixi, eu venho há muito tempo aqui. Eu lembro que eu vinha com a minha mãe comprar vela de filtro, panela e mais uma porção de coisas. Isso lá na década de 1980”.

Com um sorriso tímido, seu Chefe diz sentir-se orgulhoso do bem conquistado e afirma que o melhor do Bazar são as pessoas que lá frequentam. “Isso aqui já é uma tradição. Eu acho ótimo que as pessoas venham aqui, não só pra comprar, mas para conversar, contar suas histórias”, explica. “Eu amo o ‘povão’, gosto de falar a língua deles e tenho muito respeito não só pelas pessoas daqui, mas pelas do interior também – eu sou apaixonado pelo interior, eu vim dele. Eu tenho clientes que vêm aqui desde que eu abri a banquinha. São mais de 47 anos…”, discorre em meio a um sorriso.

Homem de poucas palavras, ele conta que já passou por dificuldades, mas não fica pensando em problemas e afirma que “se a gente ficar pensando só em crise, a gente não sai do lugar não”. E ainda aconselha: “se você quer crescer, você tem que ter cuidado, acordar mais cedo e dormir mais tarde, porque pra você vencer, você tem que trabalhar”.

Por fim, seu Chefe mostra todo orgulho um pouco mais da loja e o dinheiro guardado de quando ainda vendia seus picolés pelas ruas da antiga Rio Branco.

“Se precisar de alguma coisa vai lá no meu armazém”, quer dizer, vai no bazar do seu Chefe.