Um capítulo da história política do Acre foi encerrado nesta segunda-feira, 13, com o falecimento de Dico. Aos 87 anos, Wildy Viana das Neves deixa o Acre com um legado extraordinário, digno apenas de homens visionários como ele costumava ser nesta vida.
Filho de um paraibano – que no Acre chegou em 1917, aos 17 anos – com uma acreana filha de pais cearenses, Dico – assim era conhecido pelos amigos – foi eleito vereador em 1963, sucesso que segundo ele próprio atribuiu ao fato de ser agente recenseador, ofício que lhe deu o privilégio de conhecer muitas pessoas.
Mas antes encontrou na história de dificuldade da família as forças para marchar rumo à defesa do Acre por meio da política. No final da década de 1930, o pai, Virgílio Viana das Neves, pertencia ao Partido Popular, que representava as classes mais baixas, enquanto o outro lado, formado pelas mais altas: juízes, promotores e prefeitos, era representado pela Liga Autonomista.
Quando a Liga ganhava, os membros do Partido Popular eram perseguidos, e isso incluía transferências da família de Virgílio das Neves a locais considerados remotos à época, como o Riozinho do Rola e Assis Brasil, a chamada ‘punição política’.
Por isso, era quase inevitável que o agente recenseador, e também radiotelegrafista, não pendesse para a política como fizera o pai. Em 1963, foi eleito vereador e assumiu a presidência da Câmara de Vereadores de Rio Branco. Nos três anos seguintes, viria a ser prefeito, quando o titular foi cassado, e também deputado estadual, em 1966.
Já como deputado federal na Câmara em Brasília, queixava-se de que o estado tinha uma bancada pequena, embora, segundo as suas próprias palavras, ele procurasse “fazer a defesa do Acre, algo muito difícil, porque o Acre e os acreanos eram vistos com desprezo”.
E uma de suas bandeiras mais importantes é também uma das mais atuais: a estrada de ferro que pudesse ligar o Centro-Oeste do País a Rio Branco e Cruzeiro do Sul.
“Eu achava quase impossível construir a BR-364 em decorrência do alto custo e da qualidade do nosso solo. E eu defendi no Congresso a ferrovia. Aliás, coisa que Euclides da Cunha também foi defensor”, disse certa vez, em entrevista a uma publicação do Gabinete do filho, o senador Jorge Viana (PT).
Wildy Viana gabava-se de ter representado o Acre num período em que o estado via a agropecuária chegar. “Foi muito difícil representar o Acre na época do boi e defendi a concessão de um quilômetro para assentamentos agrícolas na frente das fazendas, deixando a criação para o fundo delas. Mas o dinheiro falou mais alto”.
Dos filhos, Jorge Viana e o governador Tião Viana, guardava o sentimento de que tinham amor pelo estado. “Eu vejo que eles são muito idealistas e muito apaixonados pelo Acre”, afirmou uma vez.
“A política com seriedade é uma virtude. A política é necessária. Sem ela, não há democracia”, costumava ressaltar o Dico.
Comoção marca funeral no Palácio Rio Branco
A solidariedade de amigos, de familiares e de lideranças políticas marcou o funeral de Wildy Viana, no hall principal do Palácio Rio Branco, no final da tarde desta segunda-feira, 13.
Às 17 horas, a cerimônia foi aberta apenas aos familiares, com previsão de que às 19h, fosse aberta a todas as pessoas.
Coroas de flores enviadas de instituições como a Assembleia Legislativa do Estado do Acre e o Governo do Estado do Acre adornaram o tempo todo a urna funerária.
Desde a última quarta-feira, 8, Viana estava internado na UTI do Pronto Socorro de Rio Branco, vítima de complicações respiratórias. Sofria de uma insuficiência respiratória e foi diagnosticado com doença pulmonar obstrutiva crônica.
O seu sepultamento acontece às 10 horas desta terça-feira, 14, no cemitério São João Batista.
Quem era Wildy Viana
Filho de Virgílio Viana das Neves e de Sebastiana Lopes Viana. Radiotelegrafista, iniciou sua carreira política ao ser eleito vereador em Rio Branco em 1963 pela UDN e com a outorga do bipartidarismo pelo Ato Institucional Número Dois, baixado pelos militares em 1965, optou pela Arena.
Eleito presidente da Câmara de Rio Branco em janeiro de 1966, assumiu a prefeitura após a cassação de Aníbal Miranda e deixou o cargo em julho, em razão do pleito de outubro quando foi eleito deputado estadual reelegendo-se em 1970 e 1974.
Em 1º de setembro de 1978 seu cunhado, Joaquim Macedo, foi confirmado governador do Acre após indicação do presidente Ernesto Geisel e em novembro, Wildy Viana foi eleito deputado federal e reeleito pelo PDS em 1982.
Favorável às eleições diretas para presidente, apoiou a Emenda Dante de Oliveira, embora posteriormente tenha escolhido Paulo Maluf no Colégio Eleitoral em 1985. A partir de então abdicou de disputar novas eleições.
Dois de seus filhos foram eleitos governadores do Acre: Jorge Viana (em 1998 e 2002) e Tião Viana (em 2010 e 2014). Atualmente, Jorge é senador e Tião foi reeleito governador até 2018.